O Homem de Busan

A presença de Kang Mira preenchia o ambiente antes mesmo que ela falasse. O seu olhar varreu o quarto como se inspecionasse cada canto à procura de algo fora do lugar. Usava um batom suave demais para disfarçar a dureza nos olhos, e a sua postura impecável exalava controle.

— Mãe? — Pergunta Minjae intrigado.

— Minjae, pode me acompanhar por um instante? — disse ela, sem sequer olhar diretamente para Jiwon.

Não era um convite. Era uma ordem envolta em polidez.

Kang Mira, olhando para o filho, fala com frieza:

— Quero conversar com você agora... a sós.

Kang Mira, Minjae e Kyungwoo estavam na sala para conversar. O Tom era sério.

— Vamos precisar viajar a trabalho por alguns dias — disse Kyungwoo, com um olhar calmo. — Queremos que cuide da casa, tudo bem?

— E nada de ficar perto de Han Jiwon — completou Kang Mira, fria. — Aquela garota não te faz bem. É uma má influência.

Minjae mal teve tempo de reagir. Kyungwoo se virou para a esposa, o rosto tomado por incredulidade.

— Eu... eu não acredito no que acabei de ouvir. — A sua voz falhou por um instante. — Você precisa parar com essa loucura. Nós a criamos, Mira! Criamos como filha! E agora você diz uma coisa dessas?

Ele afastou-se, segurando o braço de Minjae, balançando a cabeça como quem tenta apagar uma memória ruim. Kang Mira ficou ali, sozinha, imóvel.

Mais tarde, Kyungwoo parou em frente à porta do quarto de Jiwon. Bateu suavemente.

— Posso entrar?

— Pode, sim, tio — disse ela, tentando sorrir, mesmo com os olhos ainda um pouco inchados.

— Está tudo bem? — perguntou ele, entrando devagar, como quem pisa em algo frágil.

— Estou bem...

Kyungwoo sentou-se na beirada da cama, respirou fundo e olhou nos olhos dela.

— Eu... vou viajar. Mas não consigo ir embora tranquilo, sabendo que você vai ficar aqui.

Jiwon apenas assentiu com a cabeça, tentando parecer firme.

— Vou ficar bem, tio.

Ele tirou um cartão do bolso e estendeu a ela com as mãos trêmulas.

— Por favor. Fica com isso. Só... me deixa sentir que estou fazendo algo por você.

Ela pegou o cartão com cuidado, como aquele gesto dissesse mais do que qualquer palavra.

— Tudo bem... obrigada.

Ele se despediu, caminhou até a porta, mas parou ali em silêncio. Quando virou o rosto de volta, os seus olhos ficaram marejados.

— Me desculpe...

— Desculpa por quê? — Jiwon perguntou, confusa.

— Por tudo. Pelo jeito como ela te trata. Isso... isso nunca foi justo com você.

Ela respirou fundo, contendo uma emoção.

— Tá tudo bem... E obrigada por tudo. O senhor sempre foi mais que um tio. O senhor é... como um pai para mim.

Kyungwoo sentiu o peso das palavras. Os seus olhos brilharam de vez. Ele abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. Apenas mais um sussurro:

— Me desculpe...

E então se foi, fechando a porta com delicadeza. Como quem se despede, mesmo sem querer.

Assim que ele fecha a porta.

Jiwon senta-se encolhida, tentando conter as lágrimas. Até que o celular de Jiwon vibra.

Era Soyeon, animada do outro lado da linha.

— Ei! Você está livre hoje? Pensei na gente sair, comer alguma coisa gostosa... ou a gente pode se ver depois da escola também.

Jiwon tentou disfarçar o cansaço com um sorriso.

— Hoje não vou conseguir... mas amanhã, depois da aula, tô livre. A gente combina, tá?

— Obá! Combinado então! — disse Soyeon, empolgada. — Ah, e amanhã vai ter novidade: um novato chegando... mas não é aluno, é o nosso novo professor. Primeiro dia dele. Vem direto de Seul!

— Sério? Já quero ver quem é — respondeu Jiwon, com uma risada leve.

— Pois é! Vai ser interessante. Enfim, boa noite, tá? Até amanhã! Beijo!

— Boa noite, Soyeon. Até amanhã! Beijo!

Naquela noite, Jiwon sempre temia o momento de dormir, pois a noite era um pesadelo constante. No entanto, naquela noite, ela sonhou com uma lembrança da infância: um menino a ajudou a levantar depois de uma queda de bicicleta. Os seus olhares se encontravam, e ela sentia-se segura ao lado daquela criança, embora não conseguisse ver o seu rosto.

Quando amanheceu, Han Jiwon sentiu que algo estava para mudar. Ela só não sabia se seria para melhor... ou para pior.

A amizade entre Jiwon, Soyeon e Nam Dohyun só cresce com o tempo. E pela primeira vez, mesmo em meio ao caos, Jiwon começa a sentir que talvez não fique mais tão sozinho assim.

O sol da manhã atravessava as folhas do pátio, criando sombras que dançavam sobre o chão da escola. Jiwon transmitiu a verdade pela primeira vez em muito tempo. Sentada entre Soyeon e Dohyun, ela ria de uma piada boba enquanto dividiam um lanche.

— Vocês dois são como aqueles personagens de Drama que vivem me arrastando para confusão — brinca Jiwon, empurrando de leve o ombro de Soyeon.

— É o nosso charme — responde Soyeon com um sorriso debochado.

Dohyun apenas ri, mas seus olhos permanecem nos de Jiwon por um instante a mais. Depois seguem juntos para a sala. Assim que entram na sala e sentam-se, um professor ainda desconhecido se apresenta à turma:

— Bom dia. Sou Park Seojun, substituto temporário de literatura.

Ao ouvi-lo falar, a sala parece silenciar de um jeito diferente, como se o tempo tivesse desacelerado por um breve instante. Jiwon ergue os olhos... e então o vê.

Não era apenas bonito. Era marcante. O seu rosto oval, com uma mandíbula firme e bem delineada, parecia esculpido. Os olhos — grandes, expressivos — tinham uma leve curvatura que transmitia algo entre inteligência e gentileza, mas também um quê de mistério. O nariz era perfeitamente alinhado, e os lábios, naturalmente rosados ​​e bem definidos, davam ao conjunto uma sensualidade contida, como se ele não tivesse consciência do próprio charme.

Mas não era só isso. Havia algo que a deixava desconfortável, algo que ela não conseguia nomear. Um arrepio subiu pela sua nuca, e o frio na barriga veio como uma onda inesperada.

Por que um homem como ele estaria em Busan... e apenas na sua escola? A pergunta ecoou na sua mente como uma sugestão persistente, deixando uma leve nó no seu estômago.

Enquanto Jiwon ainda tentava entender o que estava sentindo, observe um movimento ao lado. Minjae havia se inclinado sutilmente sobre a carteira, os olhos fixos no novo professor com um olhar estreito, quase avaliando. Ele não disse nada, mas a rigidez na sua mandíbula e o leve franzir da testa revelaram que algo o incomodava.

— Esse cara tem cara de quem esconde alguma coisa — murmurou Minjae, baixo o suficiente para que apenas Jiwon ouvisse. — Bonzinho demais para ser só isso aí.

Jiwon lançou um olhar confuso para ele, mas Minjae desviou, pois não queria se explicar.

Já Dohyun, sentado à frente, parecia de outra forma. Encostado de leve na cadeira, deixou escapar um assobio baixo e um comentário descontraído:

— Uau. Aposto que metade da escola vai começar a amar literatura a partir de hoje.

Ele riu, mas ao virar-se discretamente para olhar Jiwon, a expressão divertida se suavizou ao vê-la tão séria. — Ei, tá tudo bem? — sussurrou.

Jiwon piscou, voltando ao presente. Forçou um sorriso, assentindo. Embora não tivesse certeza do que estava sentindo.

Minjae observava em silêncio ambos. Os seus olhos foram do rosto de Jiwon ao de Park Seojun, e depois voltaram para ela — mais demoradamente do que o necessário.

E, do outro lado da sala, Park Seojun folheava um livro sobre a mesa. Os seus olhos, por um breve instante, se ergueram e resgataram os de Jiwon.

Ela congelou.

Park Seojun não desviava o olhar. Por um instante que pareceu durar demais, os olhos dele e os de Han Jiwon permaneceram fixos um no outro.

Jiwon sentiu o coração acelerar. Não conseguia explicar, mas havia algo naquele olhar... uma estranha familiaridade. Era como se ele a conhecesse de algum lugar, como se enxergasse através dela. Mas isso era impossível, certo? Ela havia sofrido um acidente aos dez anos. Sem aquela memória, ninguém poderia reconhecê-la ou dar importância a ela.

Ela desviou o olhar primeiro, tentando focar no que ele dizia à turma. O tom de voz era firme, porém sereno. Havia algo nele que misturava autoridade e uma calma inquietante. Um professor comum não causaria esse tipo de impacto — talvez porque ele parecesse muito jovem e pouco diferente dela em idade.

Enquanto Park Seojun explicava brevemente a sua experiência e o que esperava da turma, Jiwon tentava controlar a respiração. Não entendia por que sentia aquilo. Tudo nele era intenso — o jeito como gesticulava, as pausas entre as frases, o modo como olhava nos olhos dos alunos.

Minjae cruzou os braços sobre o peito, recostando-se na cadeira, ainda com o olhar fixo no novo professor. Mas, diferente de antes, já não parecia tão intrigado. “Que bobagem”, pensou. “Ele não tem nada de especial para deixarem todos tão curiosos sobre o que está fazendo aqui.”