Antes que Tudo Desabe

No outro dia seria a formatura, e o peso da revelação sobre Jiwon ainda pairava no ar como uma sombra difícil de dissipar.

Naquela mesma noite Kang Mira foi tomada por culpa e desespero, e após todo o impacto da revelação, já calma falou ao seu marido. Ambos deitados na cama.

— Se você tivesse me contado desde o início... — sua voz triste — eu não teria sido tão cruel com ela, continuaria a vê-la com os mesmos olhos que a vi quando chegou nessa casa. Mas a sua mentira me fez criar ideias erradas a ela e a você!

— Me desculpe — murmurou Kyungwoo, beijando a sua cabeça — Eu só queria proteger você... proteger a nossa família. Eu tive medo de te perder.

Ele também chorou. As lágrimas desciam silenciosamente enquanto ele a apertava em um abraço.

Após alguns segundos de silêncio sufocante, Mira respirou fundo e sussurrou:

— Eu... vou pedir perdão a ela.

Na manhã seguinte, Mira parecia outra pessoa. Seus olhos estavam cansados, mas sua postura era decidida. Bateu na porta de Minjae com calma.

— Vamos sair comigo hoje? — Disse, com um leve sorriso.

—Para onde? — ele questionou, tentando manter a naturalidade.

— Quero comprar um vestido novo... para Jiwon usar na formatura. Acho que já passou da hora de acertar o que fiz.

Minjae segurou a surpresa no olhar. Ele já sabia. Na noite anterior, parado atrás da porta entreaberta do quarto dos pais, ouviu cada palavra. O choro da mãe. A culpa por ela finalmente ter sido admitida. A revelação que seu pai havia escondido por tanto tempo. Uma verdade sobre Jiwon. Tudo.

E, acima de tudo, Minjae sabia... aquilo estava confundindo com ele mais do que imaginava.

— Tudo bem — respondeu, com um sorriso discreto.

Depois que entrou em casa com Minjae, subiu direto para o quarto. O encontro inesperado com o professor Park Seojun e sua gentileza não veio de sua mente. Ela se sentia confusa, vulnerável, como se algo dentro dela estivesse mexido de forma irreversível.

O dia amanheceu, Ela se levantou mais tarde que o habitual, pois não dormiu bem. O corpo pesava pela noite mal dormida.

Revirou o armário em busca de algo para a formatura, mas não encontrou nada que parecesse bonito o suficiente.

Apesar de toda a tensão em casa, seu tio sempre se esforçou para dar o que poderia, tratando-a como uma filha. Ainda assim, nenhuma peça parecia adequada para um dia tão importante.

“Talvez eu use o cartão do meu tio”, pensei, lembrando-se do presente que ele lhe fez há meses. Como nunca havia comprado nada, ele ainda estava intacto.

Tentou ligar para uma amiga, esperançosa de que suas juntas pudessem escolher o vestido, mas ela estava ocupada com um compromisso.

— Ai, Jiwon, me desculpe! Tô presa num compromisso com minha mãe. Não vou conseguir te acompanhar hoje — respondeu a amiga, com pesar.

Suspirando, ela aceitou que teria que ir sozinha.

Ao descer para tomar o café, encontrei apenas uma funcionária da casa.

— Bom dia, senhorita Jiwon — disse a Sra. Dami, interveio uma xícara de chá.

— Bom dia — Jiwon respondeu, um pouco sonolento. — A senhora viu minha tia? Ou o Minjae?

— Seu tio saiu bem cedo — disse Dami, com um sorriso cordial. — Minjae saiu logo depois com a sua tia. Mas não disseram pra onde estou.

Depois de terminar o café da manhã em silêncio, Jiwon subiu para se preparar. Tomou um banho demorado, tentando rir o turbilhão de sentimentos que carregava desde a noite anterior. Já com os cabelos quase secos e começando a se arrumar, passaram três batidas suaves na porta do quarto.

Ela congelou.

— Jiwon... posso entrar? — era a voz da tia, Kang Mira.

O coração de Jiwon disparou. Ficou parado por um instante, tentando interpretar o tom calmo — diferente — da voz. Com um leve tremor nas mãos, ela caminhou até a porta e a abriu. O rosto de Mira estava abatido, os olhos levemente inchados, como se já tivesse chorado antes.

— Eu... queria conversar com você um instante. Pode ser? — Disse, com a voz baixa e controlada.

Jiwon comprou com um aceno hesitante e deu espaço para que a tia entrasse. Ainda senti o peso do medo no peito, como se algo ruim pudesse acontecer a qualquer momento.

— Sente-se, por favor — disse Mira, apontando para a beirada da cama.

Jiwon obedeceu em silêncio, tentando decifrar o que estava por vir. Então, sua tia se moveu devagar, segurando uma sacola de papel delicada.

— Eu... comprei isso pra você. É... para sua formatura — disse, estendendo a sacola com as mãos trêmulas.

Jiwon arregalou os olhos, surpresa.

— O quê...?

Antes que você pudesse reagir, Mira se ajoelhou diante dela. O gesto inesperado fez Jiwon se levantar imediatamente.

— Tia, por favor, não... levante. O que está fazendo?

— O que aconteceu... para agir assim? Pergunta Jiwon sem entender nada.

— Eu preciso... — a voz dela falhou, engasgada pelo choro contido. — Eu preciso te pedir perdão. Por tudo o que fiz com você. Por ter sido cruel. Por ter rasgado aquele vestido... eu não era assim. Mas o que aconteceu me despertou. E doeu. Você também entende o tipo de pessoa que eu tornei. Eu não consigo mais olhar pra mim mesma sem sentir vergonha.

Jiwon sentiu os olhos marejaram. As palavras, embora inesperadas, tocaram algo profundo dentro dela.

— No começo... — começou, a voz baixa — a senhora foi maravilhosa comigo. Eu me perguntava, todos os dias, por que isso mudou. Mas... eu nunca te odiei. Mesmo nos piores momentos. E... sim, eu te perdoo.

Mira a encarou, em lágrimas. Levante-se e, sem resistir, abraçou a sobrinha com força. Jiwon retribuiu o abraço com o coração em pedaços e, ao mesmo tempo, costurado.

Quando a tia saiu do quarto, Jiwon ficou parada por um momento. Olhou para o vestido na sacola como se ainda não acreditasse no que havia acontecido. Seu coração, mesmo sem entender tudo, transbordava. Aquele pedido de perdão... ela esperou por isso por muito, muito tempo.

Jiwon respirou fundo antes de descer as escadas. Usava o vestido que sua tia tinha lhe dado — delicado, com caimento impecável, em um tom suave que realçava sua pele clara. Os cabelos eram levemente planos, caindo sobre os ombros como seda, e um pequeno colar completava o visual. Ela se sentiu estranhamente… bonita. Pela primeira vez, talvez.

Ao ultrapassar os últimos degraus, o silêncio tomou conta da sala.

Minjae, que estava de costas conversando com a mãe, se virou e parou no mesmo instante. Os olhos se arregalaram. Ele ficou ali, imóvel, como se tivesse esquecido de como se respirava.

— Uau… — murmurou, quase inaudível. A mãe dele, Kang Mira, também parecia admirada, com um pequeno sorriso orgulhoso nos lábios.

— Jiwon... você está linda — disse, finalmente, Minjae, com um olhar que misturava surpresa, orgulho e algo mais profundo.

Ela apenas pediu luz, constrangida.

No caminho até a escola, um silêncio Minjae estava inquieto, observando-a o tempo todo, como se não conseguisse desviar os olhos.

Ao chegar na escola, o salão já estava decorado para a cerimônia de formatura. Luzes suaves, música ambiente e risadas ecoavam entre os grupos de amigos. Assim que Jiwon entrou, todos pararam por um breve momento. Muitos cochicharam, admirados com sua mudança.

Sua amiga Soyeon a recebeu até ela, segurando suas mãos com entusiasmo.

— Meu Deus, Jiwon! Você é maravilhoso! Parece outra pessoa!

Dohyun também se mudou, com um sorriso doce.

— Está… linda — disse ele, com sinceridade nos olhos. — Eu ainda quero conversar com você depois das apresentações, lembra?

Jiwon Assentiu.

Minjae, a poucos passos, observava tudo em silêncio. A abertura no peito começou a incomodá-lo. Seus olhos se estreitaram ao ver Jiwon sorrindo para Dohyun.

Foi então que o professor entrou no salão. Mas ele não estava sozinho.

Ao lado dele, estava a mesma mulher da biblioteca — elegante, risonha, segurando o braço com naturalidade. O olhar de Jiwon se apagou por um instante, seus olhos fixos na cena. Um incômodo familiar nasceu em seu peito. Ciúmes? Ela desviou o olhar imediatamente, sentindo-se boba por isso.

Minjae ficou fascinado pela beleza dela e se mudou.

— Vem comigo — disse, tocando levemente o braço dela.

Ela hesitou, mas as batidas.

Minjae a levou até um canto mais reservado do salão, onde as luzes eram mais suaves. Respirou fundo, claramente nervoso, mas aquele ar confiante de sempre.

— Jiwon… — começou, olhando fixamente para ela. — Eu sei que talvez não seja o melhor momento, mas eu não aguento mais guardar isso. Você é a pessoa mais incrível que eu conheço. E eu... eu te amo.

Jiwon arregalou os olhos, surpresa. Ele continuou:

— Eu sempre estive ao seu lado. Sempre te proteja. Fui o único que você entendeu desde o começo. A gente tem uma ligação, você sente isso também, não sente? Eu posso te fazer feliz. Eu quero cuidar de você. Como só eu posso.

As palavras vinham com uma intensidade quase sufocante, envoltas em uma doçura ensaiada, mas com um fundo de controle — como se a felicidade dela dependesse apenas dele.

Jiwon ficou em silêncio por alguns segundos, sentindo o peso daquelas palavras.

— Minjae… — disse, com a voz baixa. — Você é muito importante pra mim. E eu sou grata por tudo o que fez. Mas… eu te vejo como um irmão. Me desculpe… não posso responder.

A expressão dele se fechou por um breve instante. Mas logo forçou um sorriso.

— Entendi… — disse, apertando os lábios. — Obrigado por ser sincero.

Mas por dentro, algo nele havia trincado.

Jiwon respirou fundo. O clima da festa ainda estava no ar, mas dentro dela, uma tempestade começou a se formar.

Jiwon e Minjae retornaram ao salão logo após uma conversa tensa entre os dois. Havia algo diferente no ar, como se a atmosfera tivesse mudado sutilmente. As luzes, antes das festivas, sem dúvida mais frias agora, e a música parecia distante demais para ser percebida com claro.

Ao longo Jiwon avista uma cena que lhe chamou a atenção.

Seu tio estava em um canto reservado do salão, conversando com alguém — Park Seojun, o professor. Ambos falavam em tons baixos, mas gesticulavam intensamente. O professor parecia tenso, com a mandíbula travada e os olhos estreitos, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. Em certo momento, ele passou a mão pelo rosto, respirando fundo, depois fechou os punhos como se estivesse tentando controlar a raiva.

Aquela expressão... não era comum nele.

Jiwon voltou a visão para o salão. Minjae, ainda tentando esconder sua frustração, foi para um lado do salão, deixando Jiwon sozinha por um instante. Jiwon foi na direção de Soyeon que conversou com colegas perto da mesa de doces. Jiwon se mudou e chamou uma amiga para conversar a sós.

— Ei — disse, forçando um sorriso.

Uma amiga feliz de volta, aliviada por vê-la.

— E aí? Como foi conversar com o Minjae?

Jiwon suspirou.

— Ele disse que... gosta de mim. Como homem — respondeu Jiwon, num tom baixo.

— Isso não era novidade — disse Soyeon, revirando os olhos com um meio sorriso. — E você? O que disse?

— Que o vejo como um irmão. Ele ficou calado... mas acho que ficou magoado.

Soyeon concordou, sem dizer nada. Jiwon então desviou o olhar e perguntou com curiosidade:

— E você? E o Junho? Você nunca me contou como terminou de verdade. Ele foi mesmo pro exterior?

Soyeon baixou os olhos, surpresa pela pergunta.

— Foi... Estudei fora por dois anos. A gente se afastou... e, sinceramente, eu evitei saber muito. Nunca mais nos falamos desde que terminamos — disse, com a voz embargando levemente.

— Mas terminamos porque... — ela começou, mas se calou de repente, o olhar fixo à frente.

A porta principal do salão foi aberta.

Dois casais entraram — seus pais... e, logo atrás, os pais de Junho.

E com eles... Junho.

O coração de Soyeon deu um salto. As morreram palavras em sua boca.

Junho estava ali. Pela primeira vez em dois anos.

Ela congelou. Jiwon olhou de lado, percebendo a mudança na expressão da amiga — o brilho nos olhos, o choque, a dúvida, tudo misturado.

O tempo parecia parar.