Vejo algumas pessoas correndo.
Aquilo ativa algo dentro de mim.
Medo.
Eu tô com medo.
A primeira coisa que me vem à cabeça é a Anna.
Seguro o braço dela e—
BANG.
O som seco do tiro ecoa.
A cabeça do senhor do pastel explode na minha frente.
Um pedaço do crânio dele voa direto pro meu pastel.
Sangue escorre pelo balcão.
Anna grita.
Eu fico parado.
Congelado.
O barulho do mundo muda.
Mas…
Eu me recomponho.
Eu definitivamente não ia morrer ali.
Seguro o braço da Anna com força.
— CORRE!
A multidão se arrasta, grita, tropeça.
Jogadores, plateia, vendedores — todo mundo correndo.
Mas no meio deles, eu vejo...
Pessoas se jogando umas sobre as outras.
Rasgando carne.
Arrancando pedaços com os dentes.
Seus olhos...
Brancos. Completamente brancos.
Esses filhos da puta estão caçando gente viva.
Perseguem como animais.
Anna treme, ainda agarrada ao meu braço.
Eu puxo ela com mais força.
Ela precisa correr mais.
A gente precisa correr mais.
Pra onde?
Casa?
Meu pai?
A casa da Anna?
Não. Longe demais.
Vou pra casa.
Tomo a decisão num instante e mudo o rumo da nossa corrida.
Quanto mais corremos pelas ruas, mais caos eu vejo.
Mais gritos.
Mais sangue.
Aqueles homens de olhos brancos devoram tudo no caminho.
Pele.
Carne.
Sangue.
As ruas estão manchadas de vermelho.
E então vejo eles.
Traficantes armados até os dentes.
Atiram sem parar na cabeça dos infectados.
Soltam palavrões e gritos, como se fosse mais um dia comum.
Mas eu não tô prestando atenção.
Eu não tenho tempo pra entender essa merda toda.
Eu só quero chegar em casa.
Anna tá ofegante.
Quase tropeçando.
Mas a gente continua.
Lá longe, vejo o barzinho.
Tenho certeza que meu pai tá lá.
Corremos mais.
Mais.
Dou uma olhada rápida de longe...
Não vejo ele.
— Anthony… eu não tô bem.
Anna fala ofegante.
Ela tá tremendo. Com medo.
Eu também tô.
Mas finjo uma confiança falsa e respondo:
— Vamos pra minha casa. Lá é seguro. Confia em mim.
Mentira.
Meu pai nunca deixaria a Anna ficar lá.
Mas hoje...
Independentemente do que ele falar...
Ela
Vai
Ficar.
Eu a seguro mais forte e—
Junto comigo, o caos também chega no meu bairro.
As pessoas no barzinho estão sendo devoradas por esses malditos filhos da puta.
Eles…
Eles são rápidos.
Correm muito rápido.
Eu tenho que correr mais.
Mais.
Mais.
Vamos, Anthony.
CORRE.
Eu finalmente consigo chegar.
Mas...
Por que a maldita porta tá aberta?
Meu pai sempre tranca.
Ele veio correndo quando soube da merda que tava acontecendo?
Ele saiu de casa?
Sim. Ele saiu.
Não tem como ele ter ficado.
Ele recebeu ontem, dia 05...
Claro que ia sair pra beber.
Então por quê?
Por que a porta tá aberta?
Eu tremo.
Mas me forço a não tremer.
Viro pra Anna.
— Anna, atrás de mim.
Ela se assusta.
Percebe que tem algo errado.
Ela também conhece o meu pai.
Amiga de infância.
Ela sabe... que tipo de filho da puta ele é.
Entro devagar.
Com medo do que posso ver.
E quando vejo...
Eu sinto.
Alívio.
E medo.
Ele está lá.
Sendo devorado.