O alarme da base pulsava como um coração prestes a falhar.
As sirenes da CLAUSTRO não estavam soando por precaução.
Elas estavam em pânico.
João e Natasha corriam pelos corredores, guiados pelo mapa mental que ela tinha decorado em minutos.
As portas iam se abrindo automaticamente. A presença dele agora interagia com os sistemas, como se o prédio reconhecesse… o filho do seu criador.
— A saída tá perto! — gritou ela.
João já sangrava pelo nariz. O uso do poder estava cobrando o preço.
Cada passo fazia a luz piscar, cada batida de coração detonava sensores à distância.
O "Análise Total" agora estava ativado em tempo real.
Ele sentia tudo.
O número exato de guardas entre os corredores.
A velocidade da munição disparada a 80 metros.
O medo escondido na nuca de quem fingia não estar com medo.
E… a dor. A dor de alguém querido.
Ele parou.
— Elías.
— O quê?
— Ele tá cercado.
—
No subnível da base, Elías mantinha-se firme.
Tinha apenas um revólver e quatro balas.
Na frente dele… dez soldados CLAUSTRO armados até os dentes.
— Vocês querem me matar? — disse ele, cuspindo sangue. — Tarde demais. Eu já servi pra algo mais nobre do que todos vocês juntos.
Ele puxou o botão do colete.
Detonador de pulso eletromagnético.
Um EMP feito à mão, com base nos velhos manuais da guerra fria.
Destruiria parte do sistema interno da base e abriria espaço pra fuga.
Mas ele não apertou ainda.
Antes… ele gravou uma mensagem de voz no comunicador e enviou direto pro canal do João:
> “Garoto... se um dia duvidar do que é, lembra disso: você foi o único que escolheu ser humano. Mesmo com tudo dizendo pra você ser uma arma. Não esquece isso. E não me chama de herói… porque eu só tô limpando a sujeira que ajudei a criar.”
BOOOOM.
O impacto sacudiu a estrutura.
As luzes apagaram. O sistema central foi derrubado.
João gritou.
Natasha o segurou antes que ele desabasse no chão.
— Ele se foi.
— Ele se libertou.
—
Eles chegaram ao último corredor, onde uma porta levava ao mar.
Uma saída esquecida, por onde passariam despercebidos... se a CLAUSTRO ainda estivesse sem luz.
Mas havia alguém esperando do lado de fora.
O pai.
Terno limpo. Mãos nas costas.
E um leve sorriso, como quem olha pra uma obra-prima.
— Está mais forte do que imaginei.
— E você mais sujo do que eu lembrava.
— Elías morreu como um tolo. E você, João… você ainda acha que é livre.
João deu um passo.
O chão tremeu.
— Você me criou pra ser uma arma. Mas você esqueceu uma coisa.
— O quê?
— Armas não escolhem. Mas eu escolho.
Ele mirou os olhos nos do pai.
— E eu escolho destruir tudo que você construiu.
—
Natasha puxou João pela mão.
Eles correram pela escotilha, nadaram pelos túneis alagados e emergiram nas águas escuras de um canal industrial abandonado.
Lá fora, o mundo parecia calmo.
Mas dentro de João… uma guerra tinha começado.
—
No esconderijo, horas depois, João se sentou sozinho.
Pingente de Natasha numa mão.
A mensagem de Elías, tocando baixinho na outra.
Ele olhou o céu pela janela quebrada.
— Agora não tem volta.
Ele se levantou, encarando o espelho rachado da sala.
— Eu sou o homem que eles não puderam controlar.
— E agora… vou libertar todos os que ainda vivem presos.