CAPÍTULO 15 – Último Ato de Elías

O alarme da base pulsava como um coração prestes a falhar.

As sirenes da CLAUSTRO não estavam soando por precaução.

Elas estavam em pânico.

João e Natasha corriam pelos corredores, guiados pelo mapa mental que ela tinha decorado em minutos.

As portas iam se abrindo automaticamente. A presença dele agora interagia com os sistemas, como se o prédio reconhecesse… o filho do seu criador.

— A saída tá perto! — gritou ela.

João já sangrava pelo nariz. O uso do poder estava cobrando o preço.

Cada passo fazia a luz piscar, cada batida de coração detonava sensores à distância.

O "Análise Total" agora estava ativado em tempo real.

Ele sentia tudo.

O número exato de guardas entre os corredores.

A velocidade da munição disparada a 80 metros.

O medo escondido na nuca de quem fingia não estar com medo.

E… a dor. A dor de alguém querido.

Ele parou.

— Elías.

— O quê?

— Ele tá cercado.

No subnível da base, Elías mantinha-se firme.

Tinha apenas um revólver e quatro balas.

Na frente dele… dez soldados CLAUSTRO armados até os dentes.

— Vocês querem me matar? — disse ele, cuspindo sangue. — Tarde demais. Eu já servi pra algo mais nobre do que todos vocês juntos.

Ele puxou o botão do colete.

Detonador de pulso eletromagnético.

Um EMP feito à mão, com base nos velhos manuais da guerra fria.

Destruiria parte do sistema interno da base e abriria espaço pra fuga.

Mas ele não apertou ainda.

Antes… ele gravou uma mensagem de voz no comunicador e enviou direto pro canal do João:

> “Garoto... se um dia duvidar do que é, lembra disso: você foi o único que escolheu ser humano. Mesmo com tudo dizendo pra você ser uma arma. Não esquece isso. E não me chama de herói… porque eu só tô limpando a sujeira que ajudei a criar.”

BOOOOM.

O impacto sacudiu a estrutura.

As luzes apagaram. O sistema central foi derrubado.

João gritou.

Natasha o segurou antes que ele desabasse no chão.

— Ele se foi.

— Ele se libertou.

Eles chegaram ao último corredor, onde uma porta levava ao mar.

Uma saída esquecida, por onde passariam despercebidos... se a CLAUSTRO ainda estivesse sem luz.

Mas havia alguém esperando do lado de fora.

O pai.

Terno limpo. Mãos nas costas.

E um leve sorriso, como quem olha pra uma obra-prima.

— Está mais forte do que imaginei.

— E você mais sujo do que eu lembrava.

— Elías morreu como um tolo. E você, João… você ainda acha que é livre.

João deu um passo.

O chão tremeu.

— Você me criou pra ser uma arma. Mas você esqueceu uma coisa.

— O quê?

— Armas não escolhem. Mas eu escolho.

Ele mirou os olhos nos do pai.

— E eu escolho destruir tudo que você construiu.

Natasha puxou João pela mão.

Eles correram pela escotilha, nadaram pelos túneis alagados e emergiram nas águas escuras de um canal industrial abandonado.

Lá fora, o mundo parecia calmo.

Mas dentro de João… uma guerra tinha começado.

No esconderijo, horas depois, João se sentou sozinho.

Pingente de Natasha numa mão.

A mensagem de Elías, tocando baixinho na outra.

Ele olhou o céu pela janela quebrada.

— Agora não tem volta.

Ele se levantou, encarando o espelho rachado da sala.

— Eu sou o homem que eles não puderam controlar.

— E agora… vou libertar todos os que ainda vivem presos.