Capítulo 17 – Invasão

O Setor N não era uma instalação. Era um labirinto.

Corredores gélidos. Paredes que cheiravam a formol e desespero. Luzes que nunca acendiam por completo. A CLAUSTRO não criava prisões. Criava túmulos com gente viva dentro.

João e Natasha desceram pelo poço de ventilação como sombras. A cada passo, o silêncio era rasgado por ecos distantes — gritos abafados, metal se arrastando, o som de algo… vivo sendo domado.

— Estão fazendo experiências — murmurou Natasha. — Gente como você. Como Marina.

— Então chegou a hora deles provarem do próprio veneno.

João já não precisava de mapa. O “Análise Total” estava estável. Cada parede tinha uma assinatura energética. Cada andar, uma pulsação. Ele não via com os olhos. Ele sentia com a mente.

E foi assim que descobriu onde Marina estava: bloco subzero. Célula 11.

Mas entre ele e ela… havia pelo menos dois esquadrões especiais, armados com neutralizadores mentais e barreiras psíquicas.

— Quer que eu distraia eles? — perguntou Natasha, puxando duas lâminas do cinto.

João encarou o túnel à frente.

— Não. Eu quero que eles saibam o nome de quem os derrubou.

Eles avançaram.

O primeiro pelotão foi pego desprevenido. Um dos soldados apontou o fuzil, mas a arma explodiu nas mãos dele como se fosse feita de papel. Os demais tentaram ativar o campo neutralizador, mas João já havia manipulado a energia ao redor. Os chips derreteram. As luzes piscaram. Homens começaram a gritar de dentro das próprias armaduras, como se estivessem queimando por dentro.

— NÃO É POSSÍVEL! — berrou um comandante. — ELE NÃO É HUMANO!

João passou por eles sem sequer tocá-los. Natasha terminou o serviço — rápida, precisa, silenciosa.

Chegaram à cela 11.

Marina estava desacordada, presa por fios e sensores, com tubos saindo dos braços e da nuca. O cabelo estava cortado. Os olhos fundos. Mas ainda havia vida ali.

João arrombou a porta sem esforço.

Ao tocá-la, uma memória invadiu sua mente.

Uma lembrança que não era dele… mas dela.

> Ela presa.

Um cientista observando.

O pai dele ao fundo.

Marina chorando.

— “Ele virá por mim. Ele sempre vem.”

— Eu vim, Marina — sussurrou ele.

Com delicadeza, rompeu os fios e a puxou contra o peito. Ela abriu os olhos, fraca, mas consciente.

— Você não devia... — murmurou ela. — Eles... estavam esperando.

Antes que João respondesse, as paredes estremeceram.

Do alto-falante antigo no teto, a voz do pai dele ecoou:

— João… meu filho. Meu erro mais precioso. Vejo que veio completar o ciclo.

Ele levantou a cabeça, os olhos brilhando com raiva contida.

— Hoje o ciclo se quebra.

Luzes vermelhas.

Sirene.

Paredes trancando.

O Setor N inteiro ativado em modo de contenção.

Mas não importava.

João carregava Marina nos braços. Natasha vinha logo atrás, abrindo caminho com a frieza de uma guerreira que sabia que não teria outra chance.

Eles não estavam fugindo.

Estavam libertando.

E o mundo inteiro ia sentir o impacto.

Nos túneis finais, João parou de repente.

Natasha olhou pra ele, confusa.

— O que foi?

Ele virou devagar… e apontou pro chão.

Do solo rachado, uma presença emergia. Não física. Não visível. Mas real.

Um protocolo esquecido da CLAUSTRO.

Algo que nunca deveria ser despertado.

Algo que o pai dele chamava de “O Projeto Origem”.

João sorriu de canto, cansado… e animado.

— Agora sim... as máscaras vão cair.