O Setor N não era uma instalação. Era um labirinto.
Corredores gélidos. Paredes que cheiravam a formol e desespero. Luzes que nunca acendiam por completo. A CLAUSTRO não criava prisões. Criava túmulos com gente viva dentro.
João e Natasha desceram pelo poço de ventilação como sombras. A cada passo, o silêncio era rasgado por ecos distantes — gritos abafados, metal se arrastando, o som de algo… vivo sendo domado.
— Estão fazendo experiências — murmurou Natasha. — Gente como você. Como Marina.
— Então chegou a hora deles provarem do próprio veneno.
João já não precisava de mapa. O “Análise Total” estava estável. Cada parede tinha uma assinatura energética. Cada andar, uma pulsação. Ele não via com os olhos. Ele sentia com a mente.
E foi assim que descobriu onde Marina estava: bloco subzero. Célula 11.
Mas entre ele e ela… havia pelo menos dois esquadrões especiais, armados com neutralizadores mentais e barreiras psíquicas.
— Quer que eu distraia eles? — perguntou Natasha, puxando duas lâminas do cinto.
João encarou o túnel à frente.
— Não. Eu quero que eles saibam o nome de quem os derrubou.
—
Eles avançaram.
O primeiro pelotão foi pego desprevenido. Um dos soldados apontou o fuzil, mas a arma explodiu nas mãos dele como se fosse feita de papel. Os demais tentaram ativar o campo neutralizador, mas João já havia manipulado a energia ao redor. Os chips derreteram. As luzes piscaram. Homens começaram a gritar de dentro das próprias armaduras, como se estivessem queimando por dentro.
— NÃO É POSSÍVEL! — berrou um comandante. — ELE NÃO É HUMANO!
João passou por eles sem sequer tocá-los. Natasha terminou o serviço — rápida, precisa, silenciosa.
—
Chegaram à cela 11.
Marina estava desacordada, presa por fios e sensores, com tubos saindo dos braços e da nuca. O cabelo estava cortado. Os olhos fundos. Mas ainda havia vida ali.
João arrombou a porta sem esforço.
Ao tocá-la, uma memória invadiu sua mente.
Uma lembrança que não era dele… mas dela.
> Ela presa.
Um cientista observando.
O pai dele ao fundo.
Marina chorando.
— “Ele virá por mim. Ele sempre vem.”
— Eu vim, Marina — sussurrou ele.
Com delicadeza, rompeu os fios e a puxou contra o peito. Ela abriu os olhos, fraca, mas consciente.
— Você não devia... — murmurou ela. — Eles... estavam esperando.
Antes que João respondesse, as paredes estremeceram.
Do alto-falante antigo no teto, a voz do pai dele ecoou:
— João… meu filho. Meu erro mais precioso. Vejo que veio completar o ciclo.
Ele levantou a cabeça, os olhos brilhando com raiva contida.
— Hoje o ciclo se quebra.
—
Luzes vermelhas.
Sirene.
Paredes trancando.
O Setor N inteiro ativado em modo de contenção.
Mas não importava.
João carregava Marina nos braços. Natasha vinha logo atrás, abrindo caminho com a frieza de uma guerreira que sabia que não teria outra chance.
Eles não estavam fugindo.
Estavam libertando.
E o mundo inteiro ia sentir o impacto.
—
Nos túneis finais, João parou de repente.
Natasha olhou pra ele, confusa.
— O que foi?
Ele virou devagar… e apontou pro chão.
Do solo rachado, uma presença emergia. Não física. Não visível. Mas real.
Um protocolo esquecido da CLAUSTRO.
Algo que nunca deveria ser despertado.
Algo que o pai dele chamava de “O Projeto Origem”.
João sorriu de canto, cansado… e animado.
— Agora sim... as máscaras vão cair.