O túnel em que haviam descido deixava um rastro estranho no ar — algo entre mofo e memória morta. João caminhava com Marina nos braços, Natasha logo atrás com uma pistola empunhada e os olhos caçando o impossível.
Ao fundo, máquinas respiravam por conta própria. Elas haviam sido ativadas antes deles entrarem. Como se soubessem.
O elevador parou.
O que se abriu não foi uma sala. Foi um arquivo vivo.
Gente flutuando em cápsulas. Crianças, adultos, cópias imperfeitas… todos com feições parecidas com a de João.
Marina se firmou nas próprias pernas, tremendo. Natasha travou a respiração. João… João caiu de joelhos. O “Análise Total” ativado sentia vida. E dor. E ressentimento.
Na parede, havia frases marcadas em sangue:
> “Você não é único.”
> “A humanidade não suporta o que não controla.”
> “Origem: falha divina ou vingança genética?”
O monitor central piscou.
Uma gravação antiga do pai de João se repetia em loop:
> “João é o erro que nos venceu. A única célula que não se rendeu. Ele carrega em si a revolução e a ameaça. Mas também... a única esperança de domar o caos.”
João socou o chão. E o chão gritou. Um pulso psíquico percorreu o piso, rachando vidros, acordando memórias dormidas.
Do fundo do corredor, algo começou a rastejar. Não metal. Nem carne.
Um projeto esquecido. Um dos primeiros. Que nunca deveria ter acordado.
João se levantou.
— Vamos sair daqui. Agora.
Mas o que estava acordando… já os tinha sentido.