Capítulo 29 – O Visitante de Olhos Negros

Chovia quando ele chegou.

Não entrou pela porta. Não quebrou janelas.

Ele já estava dentro.

O homem de terno bege caminhava pelos corredores da base como quem visita um antigo lar. Os “despertos” ficaram paralisados. Até os equipamentos de Rocco congelaram, como se tivessem medo de pensar.

João desceu as escadas e o encontrou no centro da base, sentado numa cadeira comum, como se estivesse em casa.

— Finalmente nos conhecemos — disse ele.

— Quem é você?

— Um reflexo do que você poderia ser. Ou... do que ainda vai se tornar.

— Você é do Véu?

— O Véu sou eu, e eu sou muitos.

João cerrou os olhos.

Tentou ativar o “Análise Total”.

Nada.

Era como tentar respirar em vácuo.

— Não vim lutar, João. Vim... oferecer.

— Oferecer?

— Liberdade real. Paz. Não precisar fugir mais. Não precisar lutar. A única coisa que você precisa fazer... é parar.

João deu um passo à frente.

— E quem paga o preço? As crianças? Os que vocês sequestram? Os que vocês queimam por dentro pra tentar copiar o que nunca vão entender?

O homem sorriu.

— Toda semente exige terra e sangue. Mas você... você pode ser mais. Pode ser o novo profeta da reconstrução.

Nesse momento, Marina entrou na sala.

Mas congelou.

O homem olhou pra ela e sussurrou:

— “Você é o elo fraco. Ele vai cair... por sua causa.”

João explodiu.

Literalmente.

O ar tremeu. O teto trincou. Os quadros viraram poeira.

Mas o homem de terno não se mexeu.

Ele apenas se desfez em névoa…

E desapareceu.

O recado estava dado.