A noite caiu, mas o acampamento das Sombras Vivas não dormia.
O discurso de João ecoava no coração de cada um que, até então, só conhecia o silêncio.
Mas com a esperança... veio o peso.
Rocco estava em sua estação improvisada, rodeado de monitores velhos e fios desencapados, tentando rastrear uma transmissão suspeita captada em uma frequência antiga.
— Isso aqui não é qualquer sinal — disse ele a Natasha. — É código da CLAUSTRO, mas modificado. Encriptado com vocabulário neural. Alguém tá mandando mensagens usando... lembranças.
— Lembranças? — Marina arqueou a sobrancelha.
— Isso. Eles codificam as mensagens com experiências específicas. Só quem viveu algo parecido consegue decifrar.
João se aproximou devagar.
— E por acaso eu consigo decifrar?
— Tenta ouvir isso.
Rocco colocou um fone no ouvido dele.
Silêncio. Depois, um barulho fraco.
E então… uma voz.
> — “João. Você não me conhece. Mas eu conheci sua mãe.
O Projeto Origem não acabou. Ele apenas mudou de nome.
Agora ele se chama Véu.
E o Véu… quer você de volta.”
João arregalou os olhos. As palavras pareciam ressoar direto em sua medula.
Ele viu flashes — sua mãe segurando um crachá, vozes ao fundo, o choro de um bebê que talvez fosse ele mesmo.
— Eles tão tentando me alcançar pelo que ainda dói — murmurou.
Marina apertou seu braço.
— E você vai deixar?
Ele olhou pra ela, firme.
— Não. Mas eu vou responder.
—
Na madrugada, João enviou sua própria transmissão.
> “Se o Véu conhece minha história, que aprenda agora a me temer por inteiro.
Não sou só o menino do laboratório.
Eu sou o erro que aprendeu a escolher.”
E desligou.
A guerra agora era também feita de memória e voz.