Capítulo 33 – Fragmentos em Belo Horizonte

Era estranho para João estar de volta ao Brasil.

O clima, os sons, até o cheiro da terra tinham uma memória própria.

Tudo parecia familiar e, ao mesmo tempo, profundamente quebrado.

A antiga clínica psiquiátrica onde operavam parte do Projeto Pré-Condicionado estava escondida atrás de uma fachada religiosa, nas montanhas de Belo Horizonte.

Do lado de fora, parecia abandonada. Mas por dentro… a dor ainda morava lá.

— Eles nunca pararam — disse Natasha, olhando os corredores.

As paredes estavam sujas, mas os sensores ainda funcionavam.

Câmeras térmicas ocultas. Torretas escondidas.

João guiava o grupo com a mente, desarmando os pontos de pressão com o poder do Análise Total.

No quarto 204, encontraram uma menina chamada Lua.

Apenas seis anos.

Cabelo raspado, olhos fundos. Desenhava espirais no chão com o dedo.

— Qual seu nome? — João se abaixou.

— Eu não sei... mas me chamam de Lua — ela disse com uma voz suave demais pra tanta dor.

Quando ela olhou nos olhos dele, algo explodiu.

Literalmente.

O vidro da janela trincou.

O chão tremeu.

E uma sirene antiga tocou.

— Ela é ativa! — gritou Marina.

João segurou a menina pelos ombros.

— Lua, respira. Respira comigo, tá?

Ela começou a repetir o movimento de respiração. Aos poucos, o tremor parou.

Natasha olhou em volta, tensa.

— A ativação dela foi... instintiva. Se for parte do programa, alguém já sabe que ela liberou energia.

Rocco confirmou:

— Drones em aproximação. Três minutos.

João pegou Lua no colo.

— Então vambora. Agora.

E dessa vez, não iam apenas fugir.

Iam sair levando o futuro nos braços.