Era estranho para João estar de volta ao Brasil.
O clima, os sons, até o cheiro da terra tinham uma memória própria.
Tudo parecia familiar e, ao mesmo tempo, profundamente quebrado.
A antiga clínica psiquiátrica onde operavam parte do Projeto Pré-Condicionado estava escondida atrás de uma fachada religiosa, nas montanhas de Belo Horizonte.
Do lado de fora, parecia abandonada. Mas por dentro… a dor ainda morava lá.
— Eles nunca pararam — disse Natasha, olhando os corredores.
As paredes estavam sujas, mas os sensores ainda funcionavam.
Câmeras térmicas ocultas. Torretas escondidas.
João guiava o grupo com a mente, desarmando os pontos de pressão com o poder do Análise Total.
No quarto 204, encontraram uma menina chamada Lua.
Apenas seis anos.
Cabelo raspado, olhos fundos. Desenhava espirais no chão com o dedo.
— Qual seu nome? — João se abaixou.
— Eu não sei... mas me chamam de Lua — ela disse com uma voz suave demais pra tanta dor.
Quando ela olhou nos olhos dele, algo explodiu.
Literalmente.
O vidro da janela trincou.
O chão tremeu.
E uma sirene antiga tocou.
— Ela é ativa! — gritou Marina.
João segurou a menina pelos ombros.
— Lua, respira. Respira comigo, tá?
Ela começou a repetir o movimento de respiração. Aos poucos, o tremor parou.
Natasha olhou em volta, tensa.
— A ativação dela foi... instintiva. Se for parte do programa, alguém já sabe que ela liberou energia.
Rocco confirmou:
— Drones em aproximação. Três minutos.
João pegou Lua no colo.
— Então vambora. Agora.
E dessa vez, não iam apenas fugir.
Iam sair levando o futuro nos braços.