Capítulo 36 – O Primeiro Grito da Nova Era

A espiral na palma de Lua pulsava em vermelho vivo, como se o próprio sangue dela reagisse à vibração das palavras de João. Um calor percorreu seu braço, subindo até o ombro, como se o símbolo soubesse que aquela era a hora.

As pessoas ao redor sentiram.

Um calafrio coletivo atravessou o acampamento, mas não de medo. Era algo ancestral. Como se o tempo, por um instante, parasse para ouvir.

João desceu da caixa. Seus olhos cruzaram com os de Lua, e ela apenas assentiu. Sem uma palavra, ela ergueu a mão espiralada para o céu, e o vento soprou com mais força.

— É hoje. — disse ela. — Hoje nós deixamos de ser sobreviventes.

Do meio da multidão, Helena avançou, agora com os cabelos presos e as marcas de batalha no rosto. Ela caminhou até João, com algo envolto em um pano negro. Ao abrir, revelou-se uma bandeira — metade vermelha, metade cinza, com o símbolo da espiral no centro.

— Estava guardada… esperando o momento certo. — sussurrou ela.

João pegou a bandeira com as duas mãos. A multidão se calou.

Ele a ergueu.

— Esta é nossa voz. Este é nosso fogo. E este é o começo.

Gritos voltaram a ecoar. Mas não eram mais de dor, ou lamento. Eram gritos de identidade. De ruptura. De guerra santa contra a mentira.

Alguns queimaram seus documentos. Outros enterraram suas armas antigas. As crianças desenhavam espirais na terra com gravetos, e até os mais velhos, calejados por anos de silêncio, cantavam em coro.

> — “Somos a chama. Somos o fim da sombra.”

Naquela manhã, uma fogueira foi acesa no coração do acampamento. Uma de verdade — mas também simbólica.

E nela, jogaram o que restava do velho mundo.

Enquanto as chamas subiam, João olhou para o céu nublado e murmurou para si mesmo:

— Que venha o que tiver que vir. Agora… nós temos um nome.

E não vamos mais nos esconder.