Capítulo 37 – Ecos no Subsolo

Três dias após a proclamação no acampamento, a notícia já havia atravessado vales, cidades, fronteiras. Vozes em outras zonas de resistência começaram a se alinhar. O símbolo da espiral brotava nas paredes das vielas, rabiscado com carvão ou sangue. A ideia havia se tornado carne. E agora, a carne queria lutar.

Mas nem todos sorriam com o avanço.

No subterrâneo de Lisboa, em uma antiga estação abandonada, um conselho silencioso se reunia. Figuras ocultas por mantos pretos, sem nomes, apenas códigos: E1, D4, Z0...

No centro, um monitor mostrava o rosto de João. Um deles falou, com voz metálica e entediada:

— O menino acordou. E trouxe outros com ele.

Outro respondeu:

— Não é mais um menino. É um símbolo. E símbolos… são perigosos.

D4 se levantou.

— Então queimemos o símbolo antes que vire religião.

Enquanto isso, no acampamento, João se reunia com os mais próximos: Lua, Helena, e agora também Pietro — um engenheiro que havia desertado das fábricas do regime. Ele trouxe consigo algo que mudaria tudo.

— Eu construí isso em segredo. Nunca usei, porque tinha medo… mas agora, vocês precisam ver.

Eles seguiram Pietro até um galpão improvisado. Lá dentro, envolta por lonas e geradores, estava a primeira arma biocinética da resistência. Era alimentada não por eletricidade, nem por pólvora… mas por sincronia neural.

— Isso responde à frequência do pensamento. — disse Pietro. — Mas não de qualquer um. Só daqueles que passaram pelo despertar.

João olhou para o aparelho. Uma mistura de tecnologia e nervo. Quase viva.

— Isso pode virar a guerra.

Lua tocou a arma e a espiral em sua mão brilhou de novo. A arma acendeu, como se respirasse.

— Não é "isso". — corrigiu ela. — É ela. E ela está do nosso lado.

Naquela mesma noite, a base foi invadida.

Mas dessa vez… a resistência estava pronta.