Três dias após a proclamação no acampamento, a notícia já havia atravessado vales, cidades, fronteiras. Vozes em outras zonas de resistência começaram a se alinhar. O símbolo da espiral brotava nas paredes das vielas, rabiscado com carvão ou sangue. A ideia havia se tornado carne. E agora, a carne queria lutar.
Mas nem todos sorriam com o avanço.
No subterrâneo de Lisboa, em uma antiga estação abandonada, um conselho silencioso se reunia. Figuras ocultas por mantos pretos, sem nomes, apenas códigos: E1, D4, Z0...
No centro, um monitor mostrava o rosto de João. Um deles falou, com voz metálica e entediada:
— O menino acordou. E trouxe outros com ele.
Outro respondeu:
— Não é mais um menino. É um símbolo. E símbolos… são perigosos.
D4 se levantou.
— Então queimemos o símbolo antes que vire religião.
Enquanto isso, no acampamento, João se reunia com os mais próximos: Lua, Helena, e agora também Pietro — um engenheiro que havia desertado das fábricas do regime. Ele trouxe consigo algo que mudaria tudo.
— Eu construí isso em segredo. Nunca usei, porque tinha medo… mas agora, vocês precisam ver.
Eles seguiram Pietro até um galpão improvisado. Lá dentro, envolta por lonas e geradores, estava a primeira arma biocinética da resistência. Era alimentada não por eletricidade, nem por pólvora… mas por sincronia neural.
— Isso responde à frequência do pensamento. — disse Pietro. — Mas não de qualquer um. Só daqueles que passaram pelo despertar.
João olhou para o aparelho. Uma mistura de tecnologia e nervo. Quase viva.
— Isso pode virar a guerra.
Lua tocou a arma e a espiral em sua mão brilhou de novo. A arma acendeu, como se respirasse.
— Não é "isso". — corrigiu ela. — É ela. E ela está do nosso lado.
Naquela mesma noite, a base foi invadida.
Mas dessa vez… a resistência estava pronta.