Capítulo 38 – Os Primeiros a Cair

A sirene cortou o céu da madrugada como uma navalha.

Era a primeira vez que ela tocava desde que o acampamento foi fundado.

João saiu da tenda correndo, ainda descalço, os olhos buscando por fumaça ou chamas. Mas não eram drones. Não era bombardeio. Era algo pior.

Eles entraram a pé.

Encapuzados, silenciosos, treinados para matar sem deixar rastros. Agentes do núcleo alfa. Usavam luvas pretas e olhos frios. A missão era clara: desestabilizar a nova liderança e recuperar a espiral.

> — Dividam-se. Se encontrarem o portador, tragam-no vivo. Os outros… eliminem.

O primeiro corpo caiu aos pés da tenda médica. Era Estela, uma das curandeiras. Tinha apenas 16 anos. O corte em sua garganta era preciso. Sem dor. Sem chance.

João sentiu o chão sumir sob os pés. Mas não havia tempo pra luto.

> — Helena, leve as crianças pra caverna! Pietro, ative a defesa.

Lua, comigo.

Lua já estava com os olhos em chamas. A espiral em sua mão agora se espalhava por seu braço, como uma raiz viva. Ela não era mais só uma menina iluminada.

Ela era a centelha.

Os invasores chegaram até o galpão. Um deles avançou contra João com uma lâmina curvada — mas antes do golpe se concluir, a arma biocinética se ativou sozinha, saltando da bancada e pairando no ar.

Ela disparou sem que ninguém apertasse gatilho.

O invasor foi lançado contra a parede, o corpo se contorcendo em espasmos, até virar fumaça. Literalmente.

— Ela... está viva. — sussurrou Pietro, ajoelhado no canto, em choque.

> — Ela está em guerra. — respondeu João, erguendo o punho de novo.

Mesmo assim… não foram todos salvos.

Na contagem ao amanhecer, 14 corpos jaziam cobertos por lonas cinzas. Entre eles, o de Mateo — o garoto que carregava o rádio improvisado da resistência.

E no bolso dele, encontraram uma fita cassete.

Escrita à mão: "Se eu morrer, que minha voz continue."

João apertou o play.

E a voz de Mateo ecoou pelos alto-falantes do acampamento:

> — Eles querem o silêncio. Então vamos berrar até que o mundo acorde.

E naquele instante… ninguém chorou em silêncio.

Eles gritaram. Todos.

E o mundo ouviu.