Episódio 3

📘 Episódio 3 – A Parte de Mim Que Nunca Te Esqueceu

Algumas noites você dorme com um peso no peito.

Outras, acorda com a memória do toque de alguém que não deveria mais importar.

Mas quando é amor, mesmo o tempo não consegue apagar.

Depois que Arthur saiu, o quarto ficou mais silencioso do que nunca. Nem mesmo o barulho do ventilador antigo conseguia preencher o espaço que ele deixou.

Fiquei sentada por um tempo, sem me mover. Repassando cada palavra. Cada expressão do rosto dele. O modo como ele ainda sabia exatamente como me desmontar.

Peguei o celular. Havia uma nova notificação.

“Quer conversar amanhã? Tem uma cafeteria no campus que ainda serve aquele cappuccino que você ama. — A.”

Arthur.

Respirei fundo.

Fechei os olhos.

Pensei em dizer “não”. Pensei em bloquear. Pensei em tudo o que ele fez, no quanto doeu. Mas…

A verdade é que uma parte de mim nunca o esqueceu.

E talvez fosse hora de descobrir o que ainda existia entre a gente.

Se é que ainda existia algo.

Na manhã seguinte, me vesti com calma. Nada elaborado. Um jeans claro, uma camisa branca levemente solta, cabelo preso num coque bagunçado. Passei um gloss suave e coloquei meus brincos pequenos em forma de lua, que ele sempre dizia gostar.

Ao chegar à cafeteria, ele já estava lá.

Sentado na mesa do canto, mexendo o café distraidamente, como se estivesse mergulhado nos próprios pensamentos. Usava uma camisa azul-marinho e jeans escuro. Ainda lindo. Ainda o mesmo.

Mas agora... com algo diferente no olhar. Um cansaço de quem perdeu mais do que ganhou.

— “Cheguei.” — disse, parando à frente da mesa.

Ele sorriu.

— “Pedi seu cappuccino. Com canela e uma pitada de chocolate, como você gosta.”

— “Ainda lembra.”

— “Nunca esqueci.”

Sentei em silêncio. Por um instante, ficamos só nos encarando. O tempo pareceu parar. Até que ele respirou fundo.

— “Não sei por onde começar.”

— “Então começa pelo que ainda sente.”

Arthur olhou nos meus olhos com uma sinceridade que me fez estremecer.

— “Eu sinto a sua falta. Em tudo. No jeito que você me fazia rir. No modo como brigava comigo quando eu me esquecia de comer. Na sua voz dizendo meu nome como se fosse a coisa mais bonita do mundo.”

Engoli em seco.

— “Eu também senti. Mas tentei apagar.”

— “E conseguiu?”

A pergunta ficou entre nós como um espelho.

— “Não. Mas me convenci de que sim.”

Ele assentiu devagar. Como se entendesse. Como se também tivesse feito o mesmo.

— “Você está com alguém?” — ele perguntou.

Demorei para responder.

— “Não. Tive alguém… por pouco tempo. Mas eu sempre comparava. Sem querer. E… bem, isso não é justo com ninguém.”

— “Comigo também não foi justo.”

— “Você me deixou sem respostas, Arthur. Como quer que eu tivesse continuado normalmente?”

— “Eu sei. Por isso estou aqui. Não pra consertar, mas pra mostrar que ainda me importo. Que talvez a gente possa… sei lá… recomeçar.”

Fiquei em silêncio. Bebi um gole do cappuccino.

O sabor era o mesmo. Quente, doce, familiar. Como ele.

— “Você acha mesmo que dá pra recomeçar algo que foi deixado pra morrer?”

— “Às vezes o que morre é só a esperança. Mas o amor… ele pode adormecer. E acordar mais forte.”

Fechei os olhos por um instante.

Eu sabia que se dissesse “sim”, voltaria a viver borboletas no estômago. Mas também sabia que o risco de me machucar era real.

— “Não estou pronta pra um recomeço.” — falei, firme.

Ele abaixou a cabeça. Murmurou um “eu entendo”.

— “Mas…” — continuei. — “Talvez eu esteja pronta pra te conhecer de novo. Como se fosse a primeira vez.”

Arthur ergueu o olhar. Um brilho inesperado surgiu ali.

— “Então… podemos ser dois desconhecidos com lembranças em comum?”

Sorri.

— “E com uma chance de criar novas.”

Saí da cafeteria com o coração acelerado.

Não era um final feliz. Ainda não.

Mas também não era um adeus.

Arthur voltou pra minha vida como um vento inesperado. Forte o suficiente pra balançar tudo o que estava parado há anos. Mas agora… era diferente.

Eu não era mais a garota de 16 anos que acreditava em promessas eternas.

Agora, eu era mulher. Com cicatrizes. Com vontades. Com dúvidas.

Mas, acima de tudo…

Com coragem pra sentir outra vez.

E se o amor insistia em voltar, talvez fosse hora de abrir a porta — com cuidado.

E deixar ele entrar.