📘 Episódio 4 – Se For Amor, Vai Ficar
Narrado por Isadora Mendes
Algumas conversas marcam uma vida inteira.
Outras apenas reacendem aquilo que nunca se apagou.
A conversa com Arthur foi as duas coisas.
Depois daquele café, voltei para casa diferente. O coração ainda estava em alerta, como se qualquer mensagem dele pudesse mudar o meu dia. E, quando o celular vibrou naquela noite, eu já sabia quem era.
“Obrigado por hoje. Ainda sinto que seu sorriso é meu lugar preferido no mundo.”
Sorri sozinha. Boba. Ridícula. Feliz.
Como se nada tivesse nos machucado.
Como se tudo pudesse mesmo ser simples outra vez.
Na universidade, tentei focar nas aulas, nos trabalhos, nos projetos que acumulavam como sempre. Mas minha cabeça não saía daquele café, daquele olhar, daquela frase.
E então, três dias depois, ele apareceu. No mesmo corredor em que costumávamos nos encontrar. E parecia, de algum jeito, que nunca tínhamos nos separado.
— “Isadora…” — disse ele, com aquele tom de voz que sempre foi meu ponto fraco.
Virei devagar.
— “Achei que estava ocupado.”
— “Estou. Mas não o suficiente pra não querer te ver.”
O olhar dele era direto. Limpo. Real.
Aquilo me desarmava.
— “O que você quer, Arthur?”
Ele deu um passo mais perto.
— “Quero tempo com você. Sem pressão. Sem promessas. Só… momentos. Caminhadas. Filmes. Rir até tarde. Como antes. Mas agora com mais verdade. Com menos medo.”
Respirei fundo.
Tantas partes de mim queriam aceitar.
Mas outras gritavam por proteção.
— “E se doer de novo?”
— “A gente cuida. A gente conversa. A gente não foge.”
Fechei os olhos por um instante.
A lembrança da dor ainda era nítida, mas… o desejo de tentar de novo também.
Como se a esperança, que tinha adormecido, estivesse acordando devagar.
— “Então... vamos devagar.”
Ele sorriu.
— “Devagar é o bastante pra mim, desde que seja com você.”
Começamos de novo.
Caminhadas pela praça da universidade. Cafés no fim da tarde. Mensagens antes de dormir.
E risadas — tantas que eu já nem lembrava mais como era leve rir com ele.
Um dia, ele me levou até um canto do campus onde costumávamos nos esconder na época do ensino médio.
Havia um banco de madeira, meio gasto, com nossos nomes ainda riscados no encosto.
— “Lembra disso?” — ele perguntou.
Toquei a madeira com carinho.
— “Lembro. Foi ali que você disse que me amava pela primeira vez.”
— “E ainda amo.”
A frase veio como um sussurro, mas teve o impacto de um trovão dentro de mim.
— “Arthur...”
— “Não precisa responder agora. Só precisava que você soubesse.”
Ficamos em silêncio.
Mas naquele silêncio havia mais amor do que mil palavras.
Naquela noite, deitada na minha cama, olhei para o teto como quem procura sinais.
Será que valia a pena?
Será que o amor verdadeiro sobrevive ao tempo, à dor, às cicatrizes?
Talvez sim. Talvez não.
Mas se fosse amor de verdade… ele ficaria.
Mesmo machucado. Mesmo remendado.
Mesmo incerto.
E, naquele momento, eu estava disposta a descobrir.
Continua…