Episódio 5

📘 Episódio 5 – Quando As Mãos Se Tocam

Narrado por Isadora Mendes

Tem coisas que a gente sente antes mesmo de entender.

Como um arrepio leve.

Um olhar que dura um segundo a mais.

Ou o toque de uma mão que diz tudo sem uma única palavra.

Era sexta-feira. Depois de mais uma semana de aulas, trabalhos acumulados e noites mal dormidas, eu só queria um momento de respiro. Arthur apareceu no fim da tarde, com um sorriso torto e dois ingressos de cinema.

— “Não é um convite. É um sequestro.” — ele disse, balançando os ingressos no ar.

— “Se for um sequestro com pipoca e refrigerante, eu aceito.”

O cinema era uma das poucas coisas que ainda nos ligavam desde o passado. Era onde, anos atrás, a gente fingia prestar atenção nos filmes, mas passava o tempo trocando olhares, dividindo balas e segredos.

A sala estava quase vazia. Sentamos nas últimas fileiras. A luz baixou. O filme começou.

Mas o verdadeiro espetáculo acontecia entre a gente. O braço dele roçando de leve no meu. O cheiro familiar do perfume. A respiração calma, mas tensa. Como se ele esperasse por um momento. Qualquer momento.

E então…

As mãos se tocaram.

Primeiro, de leve. Como se fosse acidente.

Depois, ele entrelaçou os dedos nos meus.

E o mundo inteiro parou.

Foi ali. No meio de uma história qualquer projetada na tela, que eu percebi o quanto ainda era dele.

Na saída do cinema, estávamos em silêncio. Mas não era constrangedor. Era cheio de significados.

— “Posso te levar pra casa?” — ele perguntou.

— “Pode.”

Entramos no carro dele. O rádio tocava baixinho uma música antiga, daquelas que a gente ouvia no início. Meu coração batia alto demais.

No portão da minha casa, antes de descer, ele segurou minha mão outra vez.

— “Hoje foi o melhor dia da minha semana.” — disse.

— “Pra mim também.”

Ele olhou pra mim como quem implora pra ficar mais um segundo.

— “Posso te dar um beijo?”

A pergunta veio tão pura, tão respeitosa, que quase me desmanchei.

Mas eu balancei a cabeça.

— “Ainda não.”

Ele sorriu, compreensivo.

— “Tudo bem. Eu espero. Por você, eu espero o tempo que for.”

Saí do carro com o coração em chamas.

Ele não me beijou…

Mas aquele toque na mão foi o beijo mais intenso que já trocamos.

Naquela noite, encostada na porta do quarto, fechei os olhos e respirei fundo.

Eu estava me apaixonando de novo.

Pelo mesmo homem.

Mas em outra versão dele.

Mais madura.

Mais paciente.

Mais real.

E talvez, pela primeira vez, ele estivesse pronto pra me amar do jeito certo.

Continua…