📘 Episódio 6 – O Fantasma do Passado
Narrado por Isadora Mendes
Sábado.
O céu nublado combinava com a inquietação que eu sentia por dentro.
Depois da noite no cinema, Arthur e eu estávamos diferentes. Mais próximos. Mais leves. Mas eu sabia... o coração da gente guarda coisas que nem sempre ficam enterradas pra sempre.
E naquele dia, o passado decidiu bater na minha porta.
Eu estava saindo da padaria quando ouvi a voz que fez meu estômago virar.
— “Isadora?”
Virei devagar, e lá estava ele. Caio.
O meu ex.
Camisa preta colada no corpo, óculos escuros pendurados na gola e aquele sorriso que sempre escondia mais do que mostrava.
— “Caio… o que você tá fazendo aqui?” — perguntei, surpresa.
— “Voltei pra cidade tem uma semana. Tava com saudades. Aí te vi entrando e… decidi esperar.”
— “Você sempre foi bom em aparecer sem ser convidado, né?” — soltei, num tom firme.
Ele riu.
— “Ainda com essa língua afiada. Isso também me deu saudade.”
Suspirei.
— “Caio, eu tô bem. Segui minha vida. E acho que você também devia.”
Ele se aproximou um passo. Suficiente pra me deixar desconfortável.
— “Você tá com alguém?” — perguntou, olhando diretamente nos meus olhos.
— “Sim.”
— “Com o Arthur?”
Meu silêncio respondeu por mim.
— “Sério, Isadora? Depois de tudo o que ele fez contigo, você voltou pra ele?”
— “Você não tem o direito de opinar sobre isso. Você também me machucou.”
— “Mas pelo menos eu não menti dizendo que te amava pra depois desaparecer.”
A dor bateu no peito, mas respirei fundo. Não era mais o tempo de reagir com emoção.
— “As coisas mudaram, Caio. E eu também. Se você veio buscar um recomeço, sinto muito.”
— “Você ainda vai ver que ele não mudou.”
— “E se não mudou, quem vai se machucar sou eu. Não você.”
Voltei pra casa com a cabeça fervendo.
Arthur me ligou à noite.
— “Oi, amor. Tudo bem?” — ele disse, com a voz macia.
— “Mais ou menos. Preciso te contar uma coisa.”
— “Aconteceu algo?”
— “O Caio apareceu hoje.”
Pausa do outro lado da linha. Longa. Tensa.
— “O que ele queria?”
— “Disse que voltou pra cidade. Que sentiu minha falta. Insinuou que você não mudou.”
Arthur bufou do outro lado.
— “Claro. Típico dele. Sempre tentando desestabilizar tudo.”
— “Eu mandei ele ir embora. Disse que estava com você. Mas, Arthur…”
— “Você ainda tem dúvidas sobre mim?” — ele interrompeu.
— “Não é isso. É que... você sumiu por meses. Do nada. Aquilo me deixou marcas.”
— “Eu sei, Isa. E não vou me esconder mais. Se você quiser, eu explico tudo. O motivo do meu desaparecimento.”
— “Você vai mesmo me contar?”
— “Sim. Amanhã. Cara a cara. Você merece saber tudo.”
Domingo.
Nos encontramos no mesmo lugar de sempre: o banco de madeira da praça da universidade.
Arthur estava sério. Diferente.
— “Antes de tudo, eu quero te dizer que não fugi por covardia. Eu fugi porque tava quebrado.”
— “Do quê?”
— “Meu pai tava doente. Muito doente. E eu descobri que ele tinha uma dívida enorme com um agiota. Ele me pediu pra não contar a ninguém. Nem pra você. Eu tentei resolver sozinho. E perdi o controle.”
— “Você sumiu por causa disso?”
— “Eu achei que, se eu me afastasse, te protegeria. Eu não queria te envolver. Mas fui burro, eu sei.”
Meus olhos encheram de lágrimas.
Parte de mim ainda doía por ter sido deixada.
Mas agora... eu entendia.
— “Arthur… por que você não confiou em mim?”
— “Porque eu tinha medo. Medo de te perder por outro motivo. Então fugi. E te perdi de qualquer forma.”
Fiquei em silêncio por alguns segundos.
Depois, estendi a mão.
— “Dessa vez, fica. Só isso.”
Ele segurou minha mão com força.
— “Eu não vou embora de novo. Nem se você me mandar.”
E naquele momento, soube:
O amor pode até ser ferido…
Mas quando é verdadeiro, ele encontra um jeito de voltar.
Continua…