📘 Episódio 7 – O Convite de Aniversário
Narrado por Isadora Mendes
Domingo à noite.
O céu escurecia devagar enquanto o sol morria atrás dos prédios. Eu estava sentada na beirada da cama, segurando meu celular, como se ele pesasse mais do que o normal. Uma notificação chegou. Era uma mensagem da Lúcia, colega da faculdade:
"Isa, não esquece do meu aniversário amanhã, hein! Vai ser no bar do centro. 19h. Vai o pessoal todo."
Suspirei. Não estava exatamente no clima pra festa… mas talvez fosse bom respirar outro ar.
Arthur me mandou uma mensagem logo em seguida:
"Quer que eu te leve amanhã pra festa da Lúcia?"
Sorri, sentindo o coração amolecer.
Respondi:
"Sim. Mas sem esquecer o buquê de flores de novo dessa vez, tá?"
😜
Ele respondeu com um emoji de coração vermelho.
Estava tudo indo bem demais…
Mas a paz tem prazo curto pra mim.
Na segunda-feira, o dia passou rápido.
Na faculdade, cochichos percorriam os corredores. Aparentemente, Caio também havia sido convidado. Claro. Ele sempre esteve no mesmo grupo da Lúcia.
Na hora do intervalo, encontrei com Arthur no jardim dos fundos do campus. Ele me abraçou por trás, com o queixo apoiado no meu ombro.
— “Tá linda hoje.” — sussurrou.
— “Você sempre fala isso.” — respondi, rindo.
— “Porque é verdade. E hoje mais ainda.”
Virei para ele e dei um selinho demorado. Senti os dedos dele se entrelaçarem nos meus cabelos. Suas mãos percorreram suavemente minhas costas, e ele me puxou para mais perto. Era como se disséssemos mil coisas com aquele toque silencioso.
— “Tá com um olhar pensativo… o que houve?” — ele perguntou.
— “Caio vai na festa da Lúcia.” — confessei.
Arthur deu dois passos pra trás e suspirou.
— “Claro que vai.”
— “Só… não quero confusão.”
Ele olhou nos meus olhos.
Firme. Calmo. Mas com um fundo de ciúmes.
— “Se ele se aproximar, eu não vou ficar quieto, Isa.”
— “Não quero que isso vire guerra.”
— “Se ele respeitar, não haverá guerra.”
À noite, me arrumei com um vestido leve, azul claro. Maquiagem suave, cabelo preso em um coque despretensioso com alguns fios soltos. Estava quase saindo quando recebi outra mensagem:
"Isa, não se assusta, mas o Caio já chegou aqui. Tá dizendo pra todo mundo que vocês vão conversar ainda hoje."
Fechei os olhos.
Respirei fundo.
Peguei minha bolsa e desci.
Arthur me esperava na frente de casa. Ele desceu do carro ao me ver. Sorriu. E me estendeu uma rosa vermelha.
— “Cumprindo promessas.” — disse.
— “Você é impossível.” — sorri de volta, tocando os dedos dele.
Entramos no carro.
O caminho até o bar foi em silêncio, mas confortável. Arthur segurava minha mão entre o câmbio e o freio de mão.
Quando chegamos, o bar já estava cheio. Músicas tocando, luzes suaves, vozes rindo. Lúcia nos recebeu com um abraço apertado. E ali, num canto, encostado na parede com um copo de cerveja na mão… Caio.
Ele nos viu.
O olhar escureceu.
Arthur me puxou de leve pela cintura.
— “Lembra: eu tô aqui.”
Assenti.
Fomos até a mesa com os colegas. As conversas começaram, os risos vieram, mas eu sentia o olhar de Caio queimando minha nuca. Até que, inevitavelmente, ele se aproximou.
— “Isa, posso falar com você? Só um minuto.”
Arthur se levantou junto.
— “Ela não quer falar com você.”
Caio o encarou.
— “Fica tranquilo. Eu não mordo.”
Arthur não respondeu. Apenas se manteve ao meu lado.
— “Arthur… eu posso falar com ele. Só um instante.” — sussurrei.
Arthur respirou fundo, sem soltar minha mão.
— “Eu tô aqui. Qualquer coisa, só me chama.”
Caio me levou até a área externa do bar. Lá fora, a brisa batia fria. Fiquei de braços cruzados, impaciente.
— “Diz logo, Caio.”
— “Eu só queria te ver uma última vez. E te pedir desculpas de verdade. Por tudo.”
— “Você já pediu. E eu já segui.”
— “Ele não é pra você, Isa.”
— “E você acha que é?”
— “Não sei. Mas acho que você merece alguém que não desapareça.”
Me aproximei dois passos.
Firme.
— “Você só me procura quando me vê feliz com outro. Você não quer me ter… só não suporta me perder.”
Ele ficou em silêncio.
— “Agora, por favor, me deixa voltar. Não arruína o que ainda me resta de paz.”
Voltei pra dentro. Arthur estava de pé, esperando. Quando me viu, abriu os braços. Me encaixei neles sem pensar. A segurança. O calor. A verdade.
— “Acabou?” — ele perguntou.
— “Acabou.”
Ele me olhou com carinho, tocou meu rosto com delicadeza.
— “Tô orgulhoso de você.”
E com um beijo demorado e silencioso, selamos aquele momento.
Mas no fundo… eu sabia:
Esse não era o fim.
Era apenas a pausa antes da próxima tempestade.
Continua…