Episódio 8

📘 Episódio 8 – A Ex Que Voltou

Narrado por Isadora Mendes

Segunda-feira.

O sol ainda nem tinha aquecido o céu direito quando recebi uma mensagem inesperada.

"Oi, você deve ser a Isa. Aqui é a Cléo, ex do Arthur. Será que a gente pode conversar?"

Fiquei encarando a tela como se aquilo fosse uma piada.

Cléo.

O nome que ele mencionou uma única vez, como quem fala de um incêndio que quase destruiu tudo.

Por que agora?

Meu coração apertou.

A primeira aula do dia passou arrastada. Arthur parecia normal, como se não soubesse de nada. Mas eu sabia. Algo estava prestes a acontecer.

No intervalo, ele veio até mim com um copo de suco e um sorriso no rosto.

— “Dormiu bem?” — ele perguntou.

— “Aham.” — respondi, tentando parecer neutra.

— “Tem certeza?”

— “Arthur… quem é Cléo?”

O sorriso dele desmanchou.

Ele respirou fundo, se sentou ao meu lado no banco do jardim e me olhou nos olhos.

— “Ela te procurou?”

Assenti, devagar.

Ele esfregou as mãos no rosto.

— “Não acredito nisso…”

— “O que ela quer?”

— “Não sei. Ela sumiu por dois anos. Me deixou num estado péssimo. E agora aparece do nada? Justo agora?”

— “Você ainda sente alguma coisa por ela?”

Arthur me olhou como se a pergunta fosse um tapa.

— “Isa… Eu tô com você. Não com ela. Mas sim, quando você vive uma história intensa com alguém, fica uma cicatriz. Só que é isso. Uma marca. Não uma ferida aberta.”

Eu queria acreditar.

Queria mesmo.

Mas minha mente insistia em criar cenários, falas, reencontros…

No final da tarde, Cléo me mandou outro texto.

"Amanhã eu passo pela faculdade. Não quero te roubar nada. Só te contar a verdade sobre o Arthur. Você merece saber."

Minhas mãos tremeram.

Arthur entrou em cena no exato momento em que eu lia aquilo. Me abraçou por trás, encostando o queixo no meu ombro, como sempre fazia.

— “Tudo bem?” — ele perguntou, sem saber que o mundo estava prestes a tremer.

Engoli seco.

— “A Cléo vai vir amanhã.”

Arthur se afastou lentamente.

— “Isa…”

— “Ela disse que eu mereço saber a verdade sobre você.”

Ele fechou os olhos. Cruzou os braços. Respirou fundo.

— “Quer saber a verdade?” — perguntou, se virando para mim.

— “Quero.”

Ele se sentou à minha frente, encostado na árvore. Me chamou com um gesto. Me aproximei.

— “Eu amei a Cléo. De verdade. Nós ficamos juntos por quase dois anos. Mas ela era imprevisível. Tinha ciúmes de tudo. Me afastou dos meus amigos. Um dia, simplesmente sumiu. Sem aviso. Sem mensagem. Sem explicação.”

— “E agora ela voltou.”

— “Ela sempre volta quando vê que eu tô bem.”

— “Ela pode te machucar de novo.”

— “Só se eu deixar. E agora… eu tenho você.”

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

— “Se quiser conversar com ela, Isa, vá. Eu não tenho nada a esconder. Só… cuida do teu coração. Porque ela sabe machucar.”

Na terça-feira, Cléo apareceu.

Alta, morena, cabelo ondulado e maquiagem impecável. Vestia um casaco preto longo, botas de salto e um sorriso de quem já venceu.

Ela se aproximou com segurança, como se fosse dona do espaço. Me viu. Caminhou direto até mim.

— “Isadora, né? Finalmente.”

— “Você é a Cléo.”

Ela riu.

— “Direta. Gosto disso.”

Nos sentamos num dos bancos do pátio. Ela cruzou as pernas com elegância.

— “Não quero te assustar, tá? Só achei que você devia saber o tipo de cara com quem tá se envolvendo.”

— “Fala o que veio dizer.”

— “Arthur é encantador. Atencioso. Um príncipe. No início.”

Meus olhos se estreitaram.

— “Depois… ele sufoca. Quer controle de tudo. Vai te dizer como se vestir, com quem andar, o que fazer. E se você disser ‘não’… ele vai virar outra pessoa. Fria. Distante. E depois vai implorar perdão, fazer promessas… Até que você caia de novo. E o ciclo recomece.”

— “Você tá dizendo que ele foi abusivo com você?”

— “Tô dizendo que ele sabe manipular. E que você parece doce demais pra aguentar o que eu aguentei.”

Minha garganta fechou.

Mas meus olhos… ficaram firmes.

— “Você pode estar dizendo a verdade. Ou pode estar com raiva porque ele seguiu em frente.”

Cléo sorriu com os lábios, mas não com os olhos.

— “Você vai descobrir por si mesma. E quando isso acontecer… me procura.”

Ela se levantou, deixou um cartão sobre o banco e saiu, como uma sombra dançando ao vento.

Naquela noite, fiquei olhando pro teto.

Será que ela mentiu?

Será que eu não conheço o Arthur de verdade?

Peguei o celular.

Escrevi uma mensagem para Arthur, mas não enviei.

"Preciso de tempo."

Apaguei.

Digitei de novo.

"A Cléo me contou tudo. Mas eu quero ouvir sua versão. Amanhã, 20h, na praça."

Dessa vez, enviei.

E fiquei esperando pela resposta.

"Estarei lá. Obrigado por me dar a chance de explicar."

Encostei o celular no peito.

Sabia que o dia seguinte seria definitivo.

Ou eu me jogava…

Ou eu pulava fora.

Continua…