📘 Episódio 9 – A Praça, a Verdade e a Escolha
Narrado por Isadora Mendes
O relógio marcava 19h47.
As luzes da praça piscavam fracamente, e a brisa da noite tocava minha pele como um aviso sutil:
Algo está prestes a mudar.
Sentei no banco de madeira ao lado da fonte central.
O som da água era suave, mas minha mente, barulhenta.
Cléo tinha me deixado cheia de dúvidas.
E Arthur… bom, hoje ele teria sua chance de esclarecer tudo.
Às 19h59 em ponto, ouvi passos firmes se aproximando.
— “Você veio,” — disse ele, com a respiração levemente ofegante, como se tivesse corrido.
Vestia uma camisa preta e jeans escuro. O cabelo um pouco bagunçado, como se tivesse passado as mãos mil vezes.
— “Você pediu,” — respondi.
Ele se sentou ao meu lado, mas manteve uma distância respeitosa. O silêncio entre nós durou alguns segundos.
— “Cléo disse que você me controlaria. Que me sufocaria. Que me prenderia como prendeu ela.”
Arthur baixou a cabeça, olhando para as mãos. Depois, ergueu o olhar.
— “Eu sabia que ela ia usar isso.”
— “É verdade?”
— “Não vou mentir, Isa. Eu errei com a Cléo. Muito. Eu era ciumento. Imaturo. E sim, tentei controlar situações porque achava que isso era amor. Só que isso não é amor. É medo.”
Ele virou o corpo para mim, os olhos fixos nos meus.
— “Depois que ela me deixou, eu fiz terapia. Fiquei meses tentando entender o que me levou a ser aquele cara. E aprendi que amar alguém é deixar que ela seja livre. Com você, Isa… eu sou outro homem. E posso provar isso. Com ações, não só palavras.”
Respirei fundo. Aquilo parecia sincero. Mas ainda doía.
— “Por que você nunca me contou isso antes?”
— “Porque tinha medo de que, ao saber meu passado, você fugisse. Eu não queria que a imagem da Cléo ficasse entre nós.”
— “Mas agora está.”
Ele ficou em silêncio por um momento, depois se aproximou um pouco mais.
— “Isa… olha pra mim.”
Virei o rosto lentamente.
— “Se você quiser ir embora, se achar que não dá pra confiar em mim, eu entendo. Só peço que olhe quem eu sou com você agora. E não quem eu fui com ela.”
Meu coração estava um caos. Parte de mim queria correr. A outra… queria acreditar.
— “Você jura que não é mais aquele homem?”
— “Juro.”
Fechei os olhos. Deixei o vento tocar meu rosto.
— “Preciso de tempo, Arthur. Não pra fugir. Mas pra entender o que eu sinto com clareza. Preciso me ouvir antes de ouvir mais ninguém.”
Ele assentiu devagar.
— “Tudo bem. Eu espero. Mas saiba… o que eu sinto por você é real. E eu tô disposto a fazer o que for preciso pra te provar isso.”
Arthur se levantou, hesitou por um segundo, e depois inclinou-se para me dar um beijo na testa.
— “Boa noite, Isa. Me avisa quando seu coração estiver pronto.”
Fiquei ali, sozinha, por mais alguns minutos.
Olhei para o céu e sussurrei pra mim mesma:
— “Eu não quero fugir. Mas também não quero me perder.”
Naquela noite, escrevi no meu diário:
"Talvez todo mundo mereça uma segunda chance. Mas não às cegas. Com olhos abertos, pés no chão, e coração atento. Se for amor de verdade… ele vai saber esperar."
Fechei o caderno.
E dormi com um misto de medo…
E esperança.
Continua…