Episódio 10

📘 Episódio 10 – Ela Voltou Para Ferir

Narrado por Isadora Mendes

Acordei com uma notificação estranha no celular.

Um perfil novo me seguia no Instagram.

Nome: “cleo.real”

Na bio, apenas: “A verdade dói, mas eu conto.”

Meu estômago gelou.

Abri os stories.

O primeiro era um boomerang de uma xícara de café.

O segundo? Uma foto antiga minha com Arthur, da época da escola, com uma legenda:

“Amores reciclados também quebram.”

Senti o sangue sumir do rosto.

Cléo estava de volta.

E não era pra pedir desculpas.

No campus, fui direto pra biblioteca — meu lugar de fuga.

Mas assim que abri a porta, lá estava ela.

Sim, ela.

Cabelos tingidos de loiro platinado, óculos escuros dentro do prédio, botas de salto e uma expressão de “cheguei para o show”.

Ela tirou os óculos devagar, como em uma cena de novela mesmo.

— “Isa… Que bom te ver. Sentiu minha falta?”

Meu corpo congelou, mas minha boca respondeu:

— “Na verdade, achei que você tivesse sumido pra sempre.”

Ela sorriu. Frio.

— “Ah, querida. Pessoas como eu não somem. A gente só recarrega.”

Ela se aproximou, batendo os dedos levemente na mesa.

— “Vim te dar um aviso. Nada pessoal, tá? Mas o Arthur não é homem pra você. Ele é meu espinho cravado. E quem encosta nele… sangra.”

— “Engraçado. Achei que você tivesse superado.”

— “Superei. Mas agora quero me divertir.”

Ela se virou para ir embora, mas lançou um último olhar:

— “Cuidado com as promessas que ele te faz à noite. De manhã, ele pode nem lembrar o que disse.”

Meu coração batia tão forte que doía.

Saí da biblioteca tremendo.

No pátio, encontrei Arthur, que me esperava com um café nas mãos.

— “Isa, você tá pálida. O que aconteceu?”

— “Ela voltou. Cléo. E não veio em paz.”

Ele arregalou os olhos.

— “Ela te ameaçou?”

— “Indiretamente. Mas deixou claro que vai fazer de tudo pra nos separar.”

Ele ficou em silêncio. Depois andou de um lado pro outro, nervoso.

— “Ela tá jogando. Foi assim comigo também. Ela usava palavras como navalhas.”

— “Você tem certeza que não tem mais nada entre vocês?”

Arthur se aproximou, segurou minhas mãos, olhou fundo nos meus olhos.

— “Isadora… eu te amo. De verdade. E te escolhi. É com você que quero estar. Cléo é parte de um passado do qual me envergonho. Mas você é meu presente — e meu futuro.”

Respirei fundo. Mas uma parte dentro de mim ainda gritava: “Proteja-se.”

À noite, deitada na cama, recebi uma ligação anônima.

— “Você confia demais, Isa.”

Silêncio.

Depois, desligaram.

Meu peito se apertou.

Era como viver num episódio de suspense.

Mas eu não era mais a menina que aceitava tudo calada.

No dia seguinte, Arthur me chamou pra conversar na cafeteria.

Estava tenso.

— “Ela me mandou uma carta. Escreveu que vai expor áudios antigos nossos. E fotos. Coisas que nunca te mostrei.”

— “Você vai me esconder isso também?”

— “Não. Quero que você leia. Quero que saiba de tudo, antes que ela jogue na internet fora de contexto.”

Ele tirou do bolso um envelope.

Colocou sobre a mesa, deslizando até mim.

Minhas mãos tremiam ao abrir.

Primeiro, li.

Depois, ouvi os áudios num pen drive.

Era Arthur. Mas era outro Arthur.

Ciumento. Controlador. Frio.

Fechei os olhos. Respirei fundo.

— “Você jura que mudou?”

— “Isa, eu nem me reconheço nessas palavras. Mas sim, esse fui eu. E te juro que jamais seria assim com você.”

Ficamos em silêncio por longos minutos.

Por fim, peguei o envelope, dobrei com cuidado e coloquei de volta no bolso dele.

— “Então me prova. Não com promessas. Com atitudes. Porque agora... você tá sendo testado. E eu também.”

Na saída, encontrei Cléo sentada em um banco do outro lado da rua.

Ela sorriu. Um sorriso que dizia:

“O jogo começou.”

Mas eu apenas ergui o queixo.

Porque pela primeira vez…

Eu também estava pronta para jogar.