Capítulo 8 – Justiça Antes da Hora

A cidade de Lucien ainda dormia sob o manto suave da madrugada. A brisa fria passava pelas vielas estreitas e ruas de pedra, carregando o cheiro de pão amanhecendo, lenha queimando… e sangue que Hiro jurava ter sentido ali, mesmo treze anos antes.

Ele caminhava pelas sombras, capuz cobrindo os olhos, passos leves demais para serem ouvidos. Já estivera ali antes — no futuro —, mas agora o tempo era um quebra-cabeça estilhaçado em sua mente. E ele precisava montar a peça certa antes que fosse tarde demais.

Encostado em um muro coberto de musgo, respirou fundo. Força, foco.

As vozes do passado sussurravam.

Uma garota. Uma família. Chamas.

Gritos abafados.

Risadas.

Impunidade.

— Eles estavam aqui... eles estavam aqui...

Se forçou a lembrar.

Ano 1060. Não, não… 1058?

Eles atacaram durante uma noite de festival, quando a guarda estava distraída com a procissão de Istrel, a deusa da colheita.

A garota… tinha olhos dourados. Tinha doze anos.

A imagem surgiu em flashes: olhos aterrorizados, mãos pequenas cobertas de fuligem, o corpo da mãe sobre o dela tentando protegê-la em vão.

A menina sobreviveu por pouco. Só Hiro sabia disso. No futuro, ela era uma ladra sem nome, sem fala… e sem alma.

E os homens…

Cinco.

Líder: Marl Roven, ex-mercenário de Rakel, dentes podres, cicatriz sob o olho.

Outros quatro? Rostos sem nitidez, vozes que se misturavam em risadas grotescas.

— Droga… quem eram os outros…?

Soco na parede. O som seco ecoou pela rua vazia.

Não podia deixar escapar.

Se esperasse demais, a tragédia aconteceria de novo.

A menina sofreria tudo aquilo. Outra vez.

Ele se agachou, olhos fixos no chão de pedra, quase em transe.

Tentou lembrar das roupas, da taverna onde os bandidos riam, das tatuagens nos braços…

Um símbolo. Uma cobra mordendo o próprio rabo.

Hiro abriu os olhos.

“A Irmandade de Ouroboros.”

Era isso. Um grupo pequeno, desprezado, mas cruel. Tão desprezível que nem os Voidborn se interessaram em matá-los quando invadiram.

Mas Hiro… Hiro faria isso. Com gosto.

Levantou-se, olhos fixos na direção do distrito leste de Lucien.

Ali ficava a taverna “A Muralha Partida”, onde os Ouroboros se reuniam antes do massacre.

Tinham dias de antecedência. Dias para matar cinco homens.

Um sorriso gélido apareceu em seu rosto.

Nada de confrontos justos.

Sem misericórdia.

Seria rápido. Seria cruel.

— Vocês massacraram uma família. Hoje, eu apago vocês da história.

E assim, com o manto envolvendo seu corpo e a escuridão como aliada, Hiro Tanaka seguiu.

Não como um herói.

Mas como um carrasco.

Alguém que conhecia o futuro, e que já não acreditava mais em justiça — só em punição.

E naquela noite, Lucien teria sangue antes do previsto.