Capítulo 11 – Ecos de Quem Já se Foi

Hayato não dormiu naquela noite.

Sentado na beira da cama, as mãos trêmulas envolviam uma caneca de chá já frio, seus olhos fixos no chão como se, de alguma forma, ele pudesse encontrar ali o filho que havia perdido — não com a morte, mas com o tempo.

Doze anos.

Hiro tinha apenas doze anos.

E matara cinco homens com a frieza de um executor veterano, como se tirar vidas fosse tão banal quanto respirar.

— O que aconteceu com você, meu filho…?

O sussurro se perdeu no silêncio opressor do quarto.

No sótão, entre vigas velhas e caixas esquecidas, Hiro mantinha-se acordado. A madeira estalava sob o peso de lembranças que não pertenciam àquele tempo.

Sentado com as pernas cruzadas, olhos cravados na escuridão, ele não chorava. Não tremia. Mas sua respiração era mais pesada do que deveria, como se cada batida do coração arranhasse por dentro.

E então, o nome surgiu em sua mente, como um sussurro cruel.

Yumi.

A Santa. A única pessoa que o tratou como humano quando todos o viam como um lixo da plebe.

Ela havia sido assassinada antes mesmo da guerra começar — por Hikari von Richter, com um golpe seco e preciso na jugular. Hiro havia encontrado o corpo tempo depois, quando já era tarde demais. O sangue seco, os olhos ainda abertos.

Ele nunca superou aquilo.

A lembrança corroía.

— Tudo começou com a morte dela…

Ele apertou os punhos. Queria gritar. Mas não podia. Não agora. Não ali.

Então, encostou-se na parede, tentando conter o tremor dos próprios ossos. O peso do passado esmagava cada fibra de seu ser.

E, por um instante — um único e silencioso instante — Hiro parecia apenas um garoto. Ferido. Solitário. Perdidamente quebrado.

Mas o momento passou.

Levantou-se devagar, desceu do sótão sem fazer ruído, cruzou a casa sem que ninguém acordasse e saiu pelos fundos. No quintal, o frio da madrugada o recebeu com a mesma indiferença que ele havia aprendido a carregar no peito.

Os olhos voltados ao céu estrelado, Hiro murmurou:

— Eu ainda lembro do som da voz dela…

E então caminhou até o galpão onde treinava todas as madrugadas, a sombra de uma promessa ardendo em sua alma:

Cinco anos. Só tenho cinco anos.

E, desta vez, ele não deixaria ninguém morrer.

Na manhã seguinte, Hayato tentou sorrir para o filho, mas falhou. Viu-o caminhar em silêncio até o fundo da casa, com o mesmo olhar distante de sempre. Não teve coragem de perguntar. Não teve forças para encarar.

Porque aquele garoto de 12 anos carregava o fardo de um mundo que Hayato sequer podia imaginar.

E cada dia ao lado dele o fazia perceber…

O Hiro que voltara para casa já não era de lá.