O sol nasceu como sempre, tingindo os telhados da vila com dourado suave.
As galinhas cacarejavam, o padeiro gritava ofertas, e Ayame preparava o café da manhã com sua calma habitual. Mio corria pelo quintal com os cabelos ao vento, rindo alto.
Tudo parecia normal.
Como se cinco homens não estivessem mortos.
Como se nada tivesse acontecido.
Hiro desceu as escadas em silêncio. A camisa amassada, o olhar distante. Ayame lhe sorriu com ternura.
— Dormiu bem, querido?
Ele assentiu.
— Sonhei com uma árvore gigante, ela comentou, colocando um prato à frente dele. Ficava no topo de uma colina, protegendo os animais do vento.
Hiro não respondeu.
Mio pulou em seu colo, exigindo atenção. E por um momento, ele sorriu.
Mas só por um momento.
No vilarejo, os rumores se espalhavam como poeira ao vento.
— Cinco mortos em uma taverna.
— Nenhuma testemunha. Nenhum sobrevivente.
Hiro ouvia, mas não falava.
A família estava viva por causa dele.
Mas não sabiam disso.
Nem sabiam quem ele era.
E talvez fosse melhor assim.
Naquela noite, Ayame dormiu cedo, exausta. Mio também. A casa estava mergulhada em silêncio quando Hiro se levantou e saiu.
Hayato já o esperava no estábulo, limpando a sela de um cavalo que não usavam há meses.
— Ela não sabe, disse o pai, sem tirar os olhos da sela.
— Eu sei.
— “E nunca vai saber. Certo?”
Hiro hesitou, depois assentiu.
— Ela não precisa desse peso.
Hayato largou a escova e se virou. O rosto sério, mas não duro. Havia algo de protetor ali. Não só com Ayame… mas com Hiro também.
— Tem coisa que só homem carrega, Hiro. Não por fraqueza das mulheres, mas por escolha.
Ele respirou fundo.
— Você fez o que tinha que ser feito. Mas não se orgulhe disso.
— Não me orgulho, Hiro respondeu. Também não me arrependo.
Hayato assentiu devagar.
— Então estamos entendidos.
Mais tarde, sozinho na colina atrás da vila, Hiro encarou o céu.
As estrelas brilhavam como se nada tivesse mudado.
Mas ele sabia que, no futuro, aquele céu estaria vazio. Morto.
E era por isso que ele treinava. Por isso que ele matava.
Mesmo que ninguém soubesse.
Mesmo que sua mãe jamais descobrisse.
Naquela madrugada, Ayame acordou por um instante. O quarto estava silencioso. Olhou para o lado, viu Hayato dormindo.
Levantou, foi até o quarto de Hiro.
Ele não estava lá.
Sorriu, achando que ele devia estar treinando de novo, como sempre fazia.
— Esse menino… tão esforçado…
E voltou a dormir.
Sem saber.
Sem imaginar.
E Hiro, lá fora, sozinho com sua dor, apenas apertava os punhos enquanto encarava a escuridão.
Ele ainda tinha dois anos e alguns meses.
Dois longos anos até a Academia Arcadia.
Mas não desperdiçaria um único dia.
Porque a próxima vez que o mundo precisar de alguém...
Ele estaria pronto.