A névoa ainda cobria a floresta quando o som metálico cortou o silêncio.
Zun... Zun... Clang!
Hiro movia-se como uma sombra entre as árvores. Cada golpe de espada era preciso, cada passo medido.
Respiração firme. Olhar focado.
Não parecia o treino de um garoto de doze anos.
Parecia o de um veterano.
A lâmina riscou o ar mais uma vez — um giro elegante, seguido de um corte ascendente. Logo após, ele a embainhou com um estalo seco, os olhos fechados.
— Aqua.
A água do solo se ergueu, formando uma esfera flutuante em torno de sua mão. Com um gesto sutil, ele a moldou em lâminas líquidas, que giraram ao seu redor antes de se desfazerem em vapor.
Sem pausa, ele cruzou os dedos.
— Fulmen.
Um trovão abafado ecoou. Relâmpagos correram pelas pernas e costas de Hiro, envolvendo seu corpo em centelhas azuladas.
E então ele desapareceu.
Não, ele só ficou rápido demais para ser visto.
Em um piscar de olhos, Hiro surgiu a dezenas de metros adiante, a espada já em posição.
O solo atrás dele estava rasgado. A pressão da aceleração deixara marcas.
Fulmen não era apenas velocidade — era uma investida brutal que exigia controle absoluto do corpo. Um erro, e os músculos podiam se romper.
Mas Hiro dominava.
Como se tivesse feito aquilo a vida toda.
Horas depois, Hiro retornou para casa, suando, o corpo tremendo. Mas seu rosto… calmo.
Na varanda, Ayame estendia roupas. Mio brincava com pedrinhas perto do poço.
Ao ver o irmão, ela sorriu, abrindo os braços.
— Maninho!
Hiro se ajoelhou antes que ela o alcançasse, e quando a pequena se jogou em seus braços, ele a segurou com força.
Por um momento, o soldado sumiu.
Só restava o irmão mais velho.
Ayame se aproximou, limpando as mãos no avental.
— Treinando de novo? Vai acabar se quebrando, Hiro.
Ele esboçou um sorriso cansado.
— Não posso me dar esse luxo.
Ayame o olhou com carinho, mas também com preocupação.
— Você ainda é um menino.
— Não por muito tempo.
Ela suspirou, ajoelhando-se ao lado dos dois e envolvendo ambos num abraço silencioso.
— Só... volta sempre pra casa, tá bem?
Hiro fechou os olhos, segurando a mão dela com firmeza.
— Sempre.
Aquele momento simples… era o que ele mais temia perder.
Porque no futuro, não havia abraços. Nem risos.
Nem calor.
Só cinzas.
E um céu sem estrelas.