Capítulo 17 – O Menino que Carrega o Amanhã

A névoa ainda cobria a floresta quando o som metálico cortou o silêncio.

Zun... Zun... Clang!

Hiro movia-se como uma sombra entre as árvores. Cada golpe de espada era preciso, cada passo medido.

Respiração firme. Olhar focado.

Não parecia o treino de um garoto de doze anos.

Parecia o de um veterano.

A lâmina riscou o ar mais uma vez — um giro elegante, seguido de um corte ascendente. Logo após, ele a embainhou com um estalo seco, os olhos fechados.

— Aqua.

A água do solo se ergueu, formando uma esfera flutuante em torno de sua mão. Com um gesto sutil, ele a moldou em lâminas líquidas, que giraram ao seu redor antes de se desfazerem em vapor.

Sem pausa, ele cruzou os dedos.

— Fulmen.

Um trovão abafado ecoou. Relâmpagos correram pelas pernas e costas de Hiro, envolvendo seu corpo em centelhas azuladas.

E então ele desapareceu.

Não, ele só ficou rápido demais para ser visto.

Em um piscar de olhos, Hiro surgiu a dezenas de metros adiante, a espada já em posição.

O solo atrás dele estava rasgado. A pressão da aceleração deixara marcas.

Fulmen não era apenas velocidade — era uma investida brutal que exigia controle absoluto do corpo. Um erro, e os músculos podiam se romper.

Mas Hiro dominava.

Como se tivesse feito aquilo a vida toda.

Horas depois, Hiro retornou para casa, suando, o corpo tremendo. Mas seu rosto… calmo.

Na varanda, Ayame estendia roupas. Mio brincava com pedrinhas perto do poço.

Ao ver o irmão, ela sorriu, abrindo os braços.

— Maninho!

Hiro se ajoelhou antes que ela o alcançasse, e quando a pequena se jogou em seus braços, ele a segurou com força.

Por um momento, o soldado sumiu.

Só restava o irmão mais velho.

Ayame se aproximou, limpando as mãos no avental.

— Treinando de novo? Vai acabar se quebrando, Hiro.

Ele esboçou um sorriso cansado.

— Não posso me dar esse luxo.

Ayame o olhou com carinho, mas também com preocupação.

— Você ainda é um menino.

— Não por muito tempo.

Ela suspirou, ajoelhando-se ao lado dos dois e envolvendo ambos num abraço silencioso.

— Só... volta sempre pra casa, tá bem?

Hiro fechou os olhos, segurando a mão dela com firmeza.

— Sempre.

Aquele momento simples… era o que ele mais temia perder.

Porque no futuro, não havia abraços. Nem risos.

Nem calor.

Só cinzas.

E um céu sem estrelas.