Capítulo 20 – A Santa e o Sobrevivente

O sol nascia por trás das torres da Academia Arcadia, tingindo de dourado as muralhas brancas que pareciam tocar o céu.

Hiro caminhava sozinho.

Usava roupas simples, o capuz abaixado, passos calmos. Cada metro que se aproximava da entrada fazia seus batimentos desacelerarem, não acelerarem. Não era ansiedade. Era cálculo. Memória.

Ele já havia estado ali antes. Na linha do tempo em que tudo ruiu.

Mas agora... estava começando de novo.

O pátio principal fervilhava com jovens vindos de todos os cantos do reino. Nobres, filhos de cavaleiros, prodígios mimados e bastardos esforçados.

Hiro não pertencia a nenhum grupo.

E, ao mesmo tempo, era perigoso demais para todos eles.

As inscrições estavam organizadas sob tendas bordadas com o símbolo da Academia — uma espada cruzada com uma pena. Um oficial anotava nomes, habilidades, origens.

Quando chegou a sua vez, Hiro apenas disse:

— Hiro Tanaka. Esgrima e magia elemental.

O homem arqueou a sobrancelha, encarando-o por cima dos óculos.

— Quantos elementos?

— Cinco.

O escriba hesitou, depois riu com desdém e anotou. Achou que era blefe.

Hiro seguiu sem se importar.

Mas então... o silêncio caiu.

Ele sentiu primeiro. A mudança no ar.

Como se o próprio mundo prendesse a respiração.

Olhou para o portão de mármore que se abria lentamente, revelando uma figura que parecia não pertencer àquele plano.

Yumi Kazehara.

Vestia trajes cerimoniais brancos e dourados. Um manto leve, bordado com o emblema do Sol. Cabelos prateados ao vento, olhos verdes que pareciam espelhos de esperança.

Caminhava como se não tocasse o chão.

E todos, todos pararam para vê-la.

A Santa. A única usuária de magia de cura. Aquela que podia regenerar ossos, curar venenos, dissipar doenças que a ciência nem nomeava.

Ela passou entre os candidatos com um sorriso gentil.

E então... parou.

Bem diante dele.

Por um instante, o mundo sumiu.

Yumi olhou para Hiro como se algo o denunciasse. Não sua aparência, nem suas roupas — mas seus olhos.

— Você...

A voz dela era suave, mas firme.

Hiro a olhou de volta.

Ela era tudo o que diziam. Pura. Serena. Intocável.

Mas ele... não era nada disso.

— Sim?, ele respondeu.

Yumi o encarou por mais um segundo. Depois sorriu.

— Nada. Perdão. Só achei que... você parecia alguém que eu conhecia.

E seguiu.

Mas por dentro, Hiro sentiu. Ela sentiu algo.

Mesmo que não soubesse o quê.

Naquele momento, sem que os outros percebessem, a história começou a se mover.

O assassino de um futuro esquecido.

A Santa que nunca foi livre.

O encontro dos opostos.

E o início de algo que ninguém — nem mesmo os deuses — seria capaz de deter.