O campo de testes da Academia Arcadia se erguia como uma arena de pedra viva. Círculo amplo, marcado por runas anti-interferência. Professores observavam dos platôs elevados. Alunos formavam filas, em silêncio.
Na multidão, Hiro Tanaka cruzava os braços, os olhos percorrendo os candidatos à sua volta. Rostos confiantes, outros nervosos. Mas três presenças se destacavam como tochas acesas na noite.
A primeira, de cabelos vermelhos intensos como brasas, portava uma odachi maior que seu próprio corpo. Sakura Minazuki. Postura firme. Determinação nos olhos.
A segunda, loira, olhos azuis como safiras polidas, empunhava um bastão mágico. Saori Kurosawa. Seus gestos eram calculados, a expressão carregada de superioridade. O que mais exalava dela não era poder — mas arrogância.
A terceira... envolta em silêncio.
Cabelos e olhos pretos, pele parda. A atmosfera ao seu redor era pesada como breu. Hikari von Richter.
Mas foi Saori que capturou os pensamentos de Hiro.
“A Saori que eu conhecia...”
Na linha do tempo original, ela era firme, contida, madura... um pilar. Agora? Imatura. Arrogante. Impulsiva. Era difícil até suportar sua presença.
“A diferença é gritante...”
Mas então, a memória o atingiu como um raio na escuridão.
“Vá idiota......Viva por nós...”
As últimas palavras dela, no futuro devastado. Seus olhos cheios de lágrimas, e o toque final, tão humano, tão frágil.
Hiro mordeu o lábio discretamente e desviou o olhar.
“Ela ainda não viveu o que a moldou... ainda não sofreu... ainda não quebrou.”
O teste de admissão se resumia a algo brutal em sua simplicidade.
Resistência à pressão mágica.
Um instrutor concentrava sua mana e a liberava como uma tempestade invisível sobre o candidato. O objetivo? Dar um único passo em sua direção.
Simples. Brutal.
Um instrutor liberava sua aura total contra o candidato. O objetivo? Caminhar até ele.
— Um passo: Classe Comum.
— Três passos: Classe Alta.
— Cinco passos: Classe Élite.
— Menos de um passo... reprovado.
— Primeira chamada! Sakura Minazuki!
Sakura avançou. Sua postura era firme, mas havia tensão nos ombros. O instrutor, um veterano de guerra, liberou a pressão de mana — um mar invisível afundando o ar.
Sakura sentiu imediatamente.
Suor formou-se em sua testa no segundo passo. No terceiro, suas pernas tremeram. No quarto, seus dedos se fecharam como garras.
Mas ela não parou.
No quinto passo, ajoelhou-se, não por falha — mas por respeito ao próprio esforço.
— Cinco passos. Classe Elite.
— Próxima: Saori Kurosawa!
— Vamos ver se essa bastarda é tudo isso mesmo..., murmurou um dos veteranos.
Ela caminhou com orgulho, girando o bastão entre os dedos.
O instrutor liberou a pressão. Sufocante. Quase cortante.
Saori arqueou o corpo, resistiu, conjurou pequenas explosões de mana para aliviar o impacto.
No terceiro passo, cambaleou.
No quarto, mordeu o lábio.
O quinto veio com um salto forçado — mas veio.
— Cinco passos. Classe Elite.
— Com dificuldade… mas passou, murmurou um avaliador.
— Hikari von Richter.
O silêncio foi imediato.
Sussurros corriam pelos instrutores da elite.
— Uma von Richter aqui...?
— Assassinos da coroa... o que ela quer entre cadetes?
— É perigoso demais deixá-la circular livremente.
Hikari caminhou até o centro sem expressão. Nem mesmo a pressão pareceu incomodá-la.
Mas Hiro, atento, percebeu.
“Microexpressões... respiração controlada... ela está resistindo, sim. Mas é boa nisso.”
Cinco passos, sem teatralidade.
Classe Elite.
E então, finalmente...
— Hiro Tanaka.
O nome foi recebido com risos abafados.
— Esse aí vai desmaiar no primeiro passo.
— Só um plebeu do interior.
— Cinco elementos, ele disse? Nem parece um conjurador. Que piada.
O professor escalado era um dos mais rígidos: Almir Graef, mago de 4° Círculo Mágico.
Ele se posicionou diante de Hiro e disse em tom casual:
— Pode começar quando quiser.
Então liberou a pressão.
O chão rangeu.
O ar ficou pesado como chumbo líquido.
Alunos começaram a suar. Alguns se ajoelharam mesmo do lado de fora, outros vomitavam. Professores franziam o cenho.
— Já começou a apertar cedo demais...?
Mas Hiro continuava parado.
Imóvel.
Respiração normal. Mãos soltas ao lado do corpo.
Olhos fixos no instrutor.
— “Ele… não sentiu?!”
Furioso, Graef aumentou a pressão.
Mais.
Mais.
Até o limite.
Sakura caiu, ofegante.
Saori vacilou.
Hikari mordeu o lábio inferior até sangrar.
E Hiro…
Deu um passo.
Depois o segundo.
Terceiro.
Quarto.
Quinto.
Sexto.
Sétimo.
Oitavo.
Nono.
Décimo.
Até encostar no peito do instrutor.
Silêncio absoluto.
Graef deu um passo atrás. Atônito.
— Você… como…?
Hiro apenas pensou:
“Comparado à pressão do Rei Demônio… isso parece brisa de primavera.”
Mais tarde, no dormitório da Classe Elite, Hiro abriu uma caixa de madeira.
Lá estava ela.
Espada reta. Cabo de couro escuro. Sem nome. Sem encantos.
Mas com história.
Um presente de Hayato, um ano antes.
— Não é mágica. Nem especial. Mas é sua. E é real, dissera o pai.
Hiro tocou o cabo, os olhos sérios.
Com ela, jurou:
“Vou reconstruir este mundo. Ou quebrá-lo de vez.”