Capítulo 28 — Feridas Invisíveis

O sol da manhã se filtrava pelas janelas altas da Academia Arcadia, dando início a mais um dia de aulas. Mas, na classe elite, o clima era diferente. Tenso. Silencioso. Os alunos estavam inquietos, e o motivo era simples: Hiro Tanaka.

Desde o teste de admissão, os olhos da elite estavam sobre ele.

Saori Kurosawa se mantinha quieta no fundo da sala, mas seu olhar queimava. A filha do Duque da Magia, conhecida por dominar os quatro elementos desde os doze anos, não conseguia aceitar.

— Como? Como um plebeu, um ninguém, consegue usar quatro elementos como eu?! — pensava, mordendo a parte interna da bochecha. — Ignis, Aqua, Terrae, Ventus... ele usou todos, e ainda tentou conjurar Fulmen… relâmpago? Mesmo que instável… Isso não faz sentido.

Seu orgulho latejava. Estava ferido.

Sakura Minazuki, sentada à frente, o observava de canto de olho, o rosto sério.

— Movimentos calculados. Foco absoluto. Não vacila, nem quando está distraído. — ela pensava, avaliando com a frieza de uma guerreira. — Quantas lutas ele já teve? Quantas vidas ele já tirou?

Ela não via um estudante. Via um veterano de guerra disfarçado de aluno.

Na arquibancada, durante a aula prática de combate físico, estavam os magos — aqueles que não participariam. Entre eles, Yumi Kazehara, a Santa, assistia com os olhos fixos nele.

Ela tentou desviar o olhar… mas falhou. De novo.

— Por que estou olhando tanto? Por que... toda vez que nossos olhos se cruzam... meu coração dispara? — ela pensava, desviando o olhar rapidamente quando Hiro virou o rosto. O calor em seu peito era estranho. Novo.

Hikari von Richter estava do outro lado, de braços cruzados, encostada em uma parede com a sombra cobrindo parte do rosto. Seus olhos, tão escuros quanto a noite, seguiam Hiro.

Quando ele olhou em sua direção, ela esboçou um leve sorriso.

Um sorriso de predador.

No centro do campo, os instrutores organizaram os pares para combate. Saori e Yumi permaneceram na arquibancada. Mas quando o combate entre Sakura Minazuki e Hikari von Richter foi anunciado, a atenção de todos se voltou.

Todos os olhares se voltaram.

Sakura, de pé, posicionou-se e disse com respeito:

— Que tenhamos uma boa luta.

Hikari encarou-a por um momento… e então virou de costas, começando a se afastar lentamente, como se nem tivesse ouvido o chamado.

— Você não vai lutar? — perguntou Sakura, confusa.

Hikari não respondeu.

Foi então que Sakura falou, sem perceber o peso da palavra que escolhera:

— Você não tem honra!

O mundo pareceu silenciar.

Yumi, da arquibancada, arregalou os olhos. Uma aura opressora preencheu o campo. O ar ficou pesado.

Saori sentiu um calafrio. Por um instante, ela pensou que havia sido enfeitiçada — mas não. Era pura sede de sangue. Crua. Intensa.

Num instante, Hikari desapareceu. Só Hiro e o instrutor conseguiram acompanhar.

Quando todos perceberam, Hikari estava atrás de Sakura.

Uma adaga encostava na garganta da espadachim.

Sakura não se mexeu. Não conseguia. O frio metálico em sua pele era real.

— Se eu quisesse, você estaria morta, disse Hikari com a voz baixa e sem emoção.

Sakura congelou.

Ela não estava mentindo.

Yumi cobriu a boca com as mãos, em choque, a sede de sangue era demais pra ela aguentar.

Saori, pela primeira vez, não sentiu raiva ou inveja. Sentiu medo.

Aquilo não era uma aluna comum. Aquilo era um monstro em pele de nobre.

Hikari virou-se calmamente, guardando a adaga.

— Divirta-se com sua honra, disse, e foi embora.

O campo ficou em silêncio por longos segundos.

Até que os sussurros começaram:

— Ela é de uma família mercante, não é? Como...?

— Como ela se moveu tão rápido?

— Ela se moveu igual uma assassina, por que..?

O instrutor nada disse. Nem negou, nem confirmou.

Hiro, de pé ao lado, mantinha os braços cruzados e a expressão neutra.

Mas por dentro...

"Isso não aconteceu na minha vida passada..."

"Por que essa desgraçada revelou a própria força...?"