O campo de treinamento da Classe Elite estava energizado com expectativa. A primeira aula prática de combate sem magia havia começado. Nada de feitiços, nada de encantamentos — apenas técnica bruta e instinto.
No centro, dois instrutores substitutos esperavam: o veterano Garm, um colosso com cicatrizes e olhar de lobo velho, e Elena, uma guerreira de armadura parcial que não dizia uma palavra. Seus olhos avaliavam todos com precisão cirúrgica.
— Hoje é confronto direto. — rosnou Garm. — Sem magia. Sem piedade. Sem chororô.
Hiro retornava ao campo depois de um breve momento com os instrutores. Quando passou pelo grupo, Yumi se aproximou, tremendo levemente.
— H-Hiro… e-eu… s-só queria dizer q-que...
Ela travou. O rosto queimava. As palavras sumiam.
Ele virou-se para ela, levantando uma sobrancelha.
Ela abriu a boca para continuar — mas lembrou que já tinha tentado elogiar o cabelo dele… e falhado miseravelmente.
Agora, a ideia de repetir aquilo?
Impossível.
— Q-q-quero... dizer que... h-hoje tá... e-e-er... s-sol?
Hiro a encarou por dois segundos. Silêncio.
Yumi virou o rosto tão rápido que quase tropeçou.
Do lado, uma risada baixa ecoou.
Uma risada real.
Hikari von Richter.
Ela cobriu parcialmente a boca, mas não conseguiu evitar o sorriso malicioso nos lábios.
— Isso foi patético. Mas… divertido.
A sombra caminhou lentamente até Sakura, com o típico passo que dizia “quero te provocar e vou conseguir”.
— Ainda fingindo que não está com inveja de mim? — disse Hikari, com aquela voz entediada.
— De você? — Sakura riu seca. — Você não tem honra, sua rata de esgoto. Só sabe rastejar nas sombras feito lixo.
— Honra é pra samurais que ainda vivem no século passado. — Hikari respondeu sem piscar. — Você é uma gorila. Um animal irracional que grita quando não entende algo.
Sakura puxou sua odachi, Hikari retirou uma adaga da cintura.
— Fala isso de novo, sua desgraçada!
— Com prazer, gorila.
Yumi se meteu entre elas, desesperada.
— P-p-parem, por favor! Não assim! Isso vai acabar mal, não tem motivo!
Mas Hiro tocou o ombro dela, com suavidade.
Yumi congelou.
— Kazehara, deixa.
Ela virou o rosto devagar, os olhos arregalados. A mão dele ainda estava ali, firme, calma, segura. Ela sentiu o coração disparar tão forte que quase caiu de joelhos.
— H-Hiro…?
" Isso é bom."— ele pensou, olhos fixos em Hikari.
"A máscara dessa desgraçada tá começando a cair. E isso só vai fazer a Sakura treinar mais duro ainda."
Yumi quase desmaiou.
Enquanto isso, Sakura avançava, Hikari também. As duas estavam prestes a explodir.
Mas então — as runas da arena piscaram em vermelho.
— ALERTA: COMBATE NÃO AUTORIZADO. LIMITADOR ATIVADO.
Raios dourados envolveram ambas, paralisando seus músculos por um instante. Em seguida, elas foram separadas com um impulso mágico suave, mas firme.
— Tsc... maldito sistema de contenção... — Sakura se levantou, frustrada.
— Que nojo de protocolo inútil... — Hikari resmungou, ajeitando os cabelos como se nada tivesse acontecido.
Do fundo do campo, alguém gritou:
— Professor! Essas duas vão se matar antes da aula acabar!
— Já disse que quem brigar vai esfregar banheiro até o fim do semestre! — urrou Garm.
Hiro suspirou, cruzando os braços.
Seus olhos seguiram as duas… mas pararam em Hikari por mais tempo do que o normal.
“Mostre mais, sua máscara ainda tá suja de sangue.”