Capítulo 58 — A Faísca que Não Apaga

As luzes vermelhas das runas de contenção se dissipavam devagar, como se o campo ainda estivesse digerindo a tensão do que quase se tornara um duelo. A Classe Elite, normalmente altiva e inabalável, estava mais silenciosa do que o normal.

Yumi Kazehara permanecia parada, as mãos espalmadas no peito, sentindo o calor persistente.

Não da raiva.

Não do medo.

Mas do toque.

A mão de Hiro ainda parecia estar ali, sobre seu ombro. Firme. Tranquila. Natural.

Ela mal havia conseguido reagir. O mundo parou por alguns segundos. Sua respiração travou, o rosto corou em um instante e o coração... explodiu no peito como um feitiço de impacto.

"Por que ele faz isso? Por que toca assim, olha assim… fala assim... como se fosse normal?"

Enquanto todos retomavam suas formações para o treinamento físico, Yumi ainda estava perdida no meio do campo, como uma donzela que teve o destino virado de cabeça para baixo por um simples gesto.

Do alto das arquibancadas, Saori assistia tudo com desdém. Os braços cruzados, os olhos semicerrados. O vento balançava seus cabelos loiros como se o mundo estivesse tentando suavizar sua expressão... em vão.

Quando seus olhos caíram sobre Hiro — calmo, neutro, como sempre — o veneno escorreu por sua língua num sussurro.

— Aquele desgraçado... sempre com essa mesma cara de paisagem. Filho da puta, mas não consigo parar de pensar nesse maldito, Porra!

Ela não escondia mais o desprezo. Nem queria. Era inaceitável que aquele plebeu sequer estivesse pisando no mesmo chão que ela, e era mais inaceitável ainda ela ter sido salva por ele.

Enquanto isso, Mari mexia em seu cristal flutuante com um brilho travesso nos olhos. Ela voltava o trecho em que Hiro tocava o ombro de Yumi. Zoom. Pausa. Repetição.

A reação da Santa era ouro puro.

— Um toque e ela entrou em colapso. Isso vai render. — murmurou Mari, com uma risada baixa.

Um aluno ao lado cochichou:

— Isso é... tipo, invasão de privacidade?

— Claro que não. Isso é jornalismo investigativo emocional. — respondeu Mari, como se estivesse fazendo um favor ao mundo.

Mais tarde, quando o sol já começava a se pôr e os grupos se dispersavam, Yumi finalmente conseguiu encontrar Mari no dormitório feminino, sentada perto da janela, ainda rindo sozinha com o cristal girando em câmera lenta.

— M-Mari… — Yumi se aproximou, o rosto ainda ruborizado. — P-pode apagar isso? Ele me tocou! E foi... foi...

— Escândalo? Emoção? Arrepio na espinha?

Yumi se sentou ao lado, cobrindo o rosto com as mãos.

— Ele é denso igual uma parede...

Mari riu alto.

— E você, minha Santa, caiu de cara nessa parede.

Yumi gemeu em frustração, sem saber se ria ou chorava.