— "E aí o herói encontra uma carta misteriosa na mesa, dizendo que alguém o ama em segredo..." — Mari narrou dramaticamente, com um livro romântico aberto no colo. — "...e ele desaba, porque nunca achou que alguém pudesse amá-lo daquele jeito."
Ela fechou o livro com um sorriso triunfante, batendo na capa como quem acabara de encerrar um sermão sagrado.
— Você, minha santa emocionalmente embananada, vai fazer exatamente isso.
Yumi engasgou com o chá.
— O QUÊ?!
— Uma cartinha. Coisa simples. Sentimentos sinceros. Tímida, fofa… com um toque de drama. Igual no livro.
— Eu não sei escrever essas coisas!
— Relaxa. Você já sofre em silêncio o suficiente pra ser uma poeta.
Dez minutos depois, entre respirações trêmulas e rabiscos apagados com magia, Yumi termina:
"Quando você sorri, eu esqueço do mundo. Quando você me toca, mesmo sem saber, cura mais do que qualquer milagre. Obrigada por existir, mesmo que você nunca saiba quem te escreveu isso."
Mari deu um gritinho:
— ISSO! Agora vai e deixa essa carta discretamente na mesa dele. Antes da aula.
Na manhã seguinte, a sala da Classe Elite estava barulhenta como sempre. Alunos chegando, se ajeitando, jogando piadas pro ar.
Yumi entrou com passos leves, a carta dobradinha nas mãos. O rosto queimava. O coração, uma bomba relógio.
Ela avistou a mesa de Hiro… vazia. Perfeita.
Caminhou até lá, fingindo que tava só passando, e…
CLACK. A carta ficou ali.
E Yumi saiu.
Toda contente.
Sem notar que.
Absolutamente.
TODO.
MUNDO.
VIU.
— Foi isso que eu vi? — cochichou um aluno, cutucando o colega.
— Ela colocou uma carta na mesa do Tanaka?!
— A Santa? A inatingível?
— ELA DEIXOU UMA CARTA?! NA MESA?! NA FRENTE DE TODO MUNDO?!
Enquanto os cochichos explodiam, Mari — do outro lado da sala — levou a mão à testa.
— Ela fez isso... COM A SALA CHEIA?!
Minutos depois, Hiro chegou. Andou até sua mesa, e sentou como se nada tivesse acontecido.
Só tinha um porém.
A carta… não estava mais lá.
Por quê?
Porque vinte alunos diferentes já tinham memorizado a letra, feito cópias mágicas e estavam debatendo no fundo da sala como se estivessem tentando decifrar um códex perdido.
— “Mesmo sem saber, você cura mais do que qualquer milagre.” — murmurou um dos alunos. — Isso é coisa de alguém apaixonado MESMO.
— Mas por quê ele? Ele é… tipo… comum!
— Ela é a Santa! Ela nunca nem olhou pra ninguém antes dele!
Yumi sentou em sua mesa, ainda sorrindo discretamente.
Até ouvir um dos alunos comentar:
— Quem será que escreveu isso pro Tanaka, hein?
— Ei, será que foi a Santa? Eu vi ela deixar a carta.
Silêncio.
Yumi congelou.
Olhou lentamente pra Mari.
Mari devolveu o olhar com a expressão de quem acabara de testemunhar um desastre natural em tempo real.
— Yumi… você deixou a carta… NA FRENTE DE TODO MUNDO?!
— …Eu… achei que a sala tava… vazia…
— VOCÊ ENTROU NO MEIO DA AULA, SUA LUZ AMBULANTE!!!
Mais tarde, nos corredores:
— Você viu? A Santa tá apaixonada.
— Pelo plebeu.
— O que esse cara tem? Ele nem fala direito com ninguém!
— Ela é gentil com todo mundo, mas apaixonada? Por ELE?
— Ela é tipo… um anjo. E se apaixonou por um cara que parece que dorme em pé.
Enquanto isso, Hiro:
— Por que estão me olhando assim? Eu fiz algo errado?
— Só vive, Tanaka… só vive. — respondeu um veterano, com um olhar de puro respeito e confusão espiritual.