Capítulo 60 — A Santa, o Robô e a Plateia Inteira

No fundo da sala, Sakura Minazuki observava em silêncio o alvoroço. Palavras como "carta", "amor", "Santa", e "Tanaka" pairavam no ar como poeira mágica.

Ela franziu a testa.

— …Espera. A Santa… está apaixonada por ele?

Ela releu mentalmente a carta que metade da sala já tinha decorado:

"Quando você sorri, eu esqueço do mundo."

Sakura cruzou os braços, pensativa.

— Então… não é por causa da força dele?

Ela lembrou de todas as vezes que viu Yumi sorrindo discretamente para Hiro. De quando a Santa desviava os olhos toda vez que o rapaz passava. Daquele toque rápido que durou um segundo a mais do que o necessário.

— …Eu estava errada o tempo todo.

Sakura, que nunca entendeu romance (e que certa vez achou que "flertar" era uma técnica de espada), finalmente começou a montar o quebra-cabeça.

— Ela não o admira como guerreiro… ela gosta dele como pessoa.

Ela murmurou:

— Isso… é estúpido.

Mas seus olhos mostravam outra coisa. Um vislumbre de respeito. E talvez… inveja?

Do outro lado da sala, Saori estava vermelha. Não de vergonha. De fúria.

A loira tremia.

— Como… COMO… COMO ELE?!

— COMO ALGUÉM COMO ELE — apontou pro vazio onde Hiro ainda nem estava — FEZ A SANTA SE APAIXONAR?!

— NÃO VEM COM ESSA DE "AH, O AMOR É MISTERIOSO" NÃO! — ela esbravejou. — ELE É UM MALDITO ROBÔ! NÃO RI! NÃO PISCA! ELE FALA COMO UM MANUAL DE ENCANTAMENTO! ELE TEM CARISMA DE UMA PEDRA MOLHADA! — disse ela, que recentemente também começou a lançar olhadas pro Hiro, mas ela fala pra si mesma que é porque está investigando ele.

Ela olhou para Yumi, que agora estava…

Sentada.

Com as duas mãos cobrindo o rosto.

E murmurando:

— Eu quero morrer.

— Eu quero me enterrar.

— Eu sou uma piada pública.

— Por favor, quebre o chão, universo…

Mari, ao lado, ainda tentava consolar:

— Tecnicamente… foi romântico.

— ROMÂNTICO? EU FUI EXPOSTA NUM TEATRO GLADIADOR!!

Foi nesse momento que a porta da sala se abriu.

E entrou ele.

Hiro Tanaka.

Silêncio mortal.

Todos os olhares se voltaram pra ele como se fosse o protagonista de um reality show.

Ele parou na porta. Franziu o cenho.

— …O que foi? Tenho alguma coisa na cara?

Ninguém respondeu.

Ele seguiu até a mesa.

Passou direto pela cadeira onde a carta estava e foi direto até Yumi.

Yumi, que ainda murmurava orações para ser apagada da existência, olhou pra cima e viu ele.

Ele parou na frente dela, cruzou os braços.

— Preciso saber se você entendeu a fórmula do encantamento de conjunção tripla. Porque metade da sala errou, e você é a única que acerta essas coisas.

Silêncio.

A sala inteira observava como se fosse uma cena de filme.

Yumi, completamente vermelha, gaguejou:

— E-eu… s-sim… posso… explicar…

— Ótimo. Explica no intervalo.

Ele virou as costas e voltou pra mesa.

Dez segundos depois, cochichos voltaram a explodir como fogo de artifício.

— COMO ELE É TÃO CEGO?!

— ELE TÁ BRINCANDO COM O CORAÇÃO DA SANTA?!

— OU ELE É UM GÊNIO EMOCIONALMENTE INACESSÍVEL?!

Yumi apenas enterrou o rosto na mesa.

Mari deu tapinhas nas costas dela.

— Ei, pelo lado bom… agora ele vai te notar, né?

Yumi murmurou:

— Ele notou… minha capacidade de decorar conjunção tripla…

Saori explodiu no fundo:

— SÓ VOCÊ MESMO PRA FAZER DECLARAÇÃO E VIRAR PROFESSORA DELE NO MESMO DIA, SUA SANTA TAPADA!!!!!

Enquanto isso, Sakura observava Hiro. Pela primeira vez, com um novo olhar.

— Ele realmente não percebeu nada?

E, pela primeira vez, ela se perguntou…

— O que tem de tão especial nele… que fez até a Santa se apaixonar?