No fundo da sala, Sakura Minazuki observava em silêncio o alvoroço. Palavras como "carta", "amor", "Santa", e "Tanaka" pairavam no ar como poeira mágica.
Ela franziu a testa.
— …Espera. A Santa… está apaixonada por ele?
Ela releu mentalmente a carta que metade da sala já tinha decorado:
"Quando você sorri, eu esqueço do mundo."
Sakura cruzou os braços, pensativa.
— Então… não é por causa da força dele?
Ela lembrou de todas as vezes que viu Yumi sorrindo discretamente para Hiro. De quando a Santa desviava os olhos toda vez que o rapaz passava. Daquele toque rápido que durou um segundo a mais do que o necessário.
— …Eu estava errada o tempo todo.
Sakura, que nunca entendeu romance (e que certa vez achou que "flertar" era uma técnica de espada), finalmente começou a montar o quebra-cabeça.
— Ela não o admira como guerreiro… ela gosta dele como pessoa.
Ela murmurou:
— Isso… é estúpido.
Mas seus olhos mostravam outra coisa. Um vislumbre de respeito. E talvez… inveja?
Do outro lado da sala, Saori estava vermelha. Não de vergonha. De fúria.
A loira tremia.
— Como… COMO… COMO ELE?!
— COMO ALGUÉM COMO ELE — apontou pro vazio onde Hiro ainda nem estava — FEZ A SANTA SE APAIXONAR?!
— NÃO VEM COM ESSA DE "AH, O AMOR É MISTERIOSO" NÃO! — ela esbravejou. — ELE É UM MALDITO ROBÔ! NÃO RI! NÃO PISCA! ELE FALA COMO UM MANUAL DE ENCANTAMENTO! ELE TEM CARISMA DE UMA PEDRA MOLHADA! — disse ela, que recentemente também começou a lançar olhadas pro Hiro, mas ela fala pra si mesma que é porque está investigando ele.
Ela olhou para Yumi, que agora estava…
Sentada.
Com as duas mãos cobrindo o rosto.
E murmurando:
— Eu quero morrer.
— Eu quero me enterrar.
— Eu sou uma piada pública.
— Por favor, quebre o chão, universo…
Mari, ao lado, ainda tentava consolar:
— Tecnicamente… foi romântico.
— ROMÂNTICO? EU FUI EXPOSTA NUM TEATRO GLADIADOR!!
Foi nesse momento que a porta da sala se abriu.
E entrou ele.
Hiro Tanaka.
Silêncio mortal.
Todos os olhares se voltaram pra ele como se fosse o protagonista de um reality show.
Ele parou na porta. Franziu o cenho.
— …O que foi? Tenho alguma coisa na cara?
Ninguém respondeu.
Ele seguiu até a mesa.
Passou direto pela cadeira onde a carta estava e foi direto até Yumi.
Yumi, que ainda murmurava orações para ser apagada da existência, olhou pra cima e viu ele.
Ele parou na frente dela, cruzou os braços.
— Preciso saber se você entendeu a fórmula do encantamento de conjunção tripla. Porque metade da sala errou, e você é a única que acerta essas coisas.
Silêncio.
A sala inteira observava como se fosse uma cena de filme.
Yumi, completamente vermelha, gaguejou:
— E-eu… s-sim… posso… explicar…
— Ótimo. Explica no intervalo.
Ele virou as costas e voltou pra mesa.
Dez segundos depois, cochichos voltaram a explodir como fogo de artifício.
— COMO ELE É TÃO CEGO?!
— ELE TÁ BRINCANDO COM O CORAÇÃO DA SANTA?!
— OU ELE É UM GÊNIO EMOCIONALMENTE INACESSÍVEL?!
Yumi apenas enterrou o rosto na mesa.
Mari deu tapinhas nas costas dela.
— Ei, pelo lado bom… agora ele vai te notar, né?
Yumi murmurou:
— Ele notou… minha capacidade de decorar conjunção tripla…
Saori explodiu no fundo:
— SÓ VOCÊ MESMO PRA FAZER DECLARAÇÃO E VIRAR PROFESSORA DELE NO MESMO DIA, SUA SANTA TAPADA!!!!!
Enquanto isso, Sakura observava Hiro. Pela primeira vez, com um novo olhar.
— Ele realmente não percebeu nada?
E, pela primeira vez, ela se perguntou…
— O que tem de tão especial nele… que fez até a Santa se apaixonar?