Capítulo 62 – Variáveis Incontroláveis

O sol ainda mal havia nascido quando Saori Kurosawa já caminhava pelos corredores silenciosos da biblioteca da Academia Arcadia. Seus passos não ecoavam — ela se esgueirava entre as estantes, curiosa e irritada.

— Ele não é normal... ninguém mata um Raksha daquele jeito — murmurou, folheando livros antigos e anotações esquecidas, buscando qualquer menção a criaturas do Vazio.

Desde aquele dia na Floresta Elmar, ela não conseguia tirá-lo da cabeça.

Hiro Tanaka. Um nome que não combinava com a aura de morte e fúria que ela viu naquele momento. A forma como ele recitou os pontos fracos da criatura. A frieza com que agiu. A raiva contida.

— Aquilo não foi talento... foi experiência. — seus dedos apertaram o tomo com força.

E mais do que isso, ele havia ignorado a paralisia mágica causada pelo Raksha — algo que nem mesmo veteranos suportavam.

Ela se aproximou de uma mesa de estudos, espalhou mapas mágicos e um grimório avançado de reconhecimento de criaturas abissais. Seus olhos azuis estavam afiados, sérios.

— Ele já enfrentou aquilo... onde? Quando? Como sobreviveu?

— Quem é esse cara?

Saori mordiscou a parte de dentro da bochecha. Havia uma missão não oficial nas entrelinhas agora: descobrir quem era Hiro Tanaka. Pela segurança da classe. Ou talvez... por algo mais que ela não queria nomear.

Em uma sala escura sob a favela de Valkrim, onde nenhuma tocha ardia e nenhuma janela respirava, o ar era pesado de silêncio.

Hikari von Richter se ajoelhava. Olhos baixos.

— Relatório. — disse a voz grave, firme como uma lâmina embainhada.

— Três variáveis em movimento na Classe Elite: Hiro Tanaka. Saori Kurosawa. Sakura Minazuki.

— Justifique.

— Hiro Tanaka possui um nível de conhecimento e habilidade incompatíveis com sua idade ou origem.

Relatórios dizem que ele lutou contra uma criatura do Vazio e venceu. Não demonstrou medo, apenas ódio.

Silêncio. A figura na sombra não comentou.

— Saori Kurosawa começou a investigá-lo por conta própria. Inteligente, mas impulsiva. Potencial Problema.

— E Sakura Minazuki?

— Determinada. Frágil emocionalmente. Mas sua evolução na esgrima é constante. Ela vê Hiro como rival. E… como referência.

— Como você sabe disso?

— Ouvi. Observei.

A voz da sombra foi mais fria agora.

— E você?

— Eu o observo. Só isso.

Silêncio. Depois, o tom cortou como navalha:

— Você revelou sua força, Sombra. O confronto contra Minazuki. Expôs a própria força.

Hikari apertou os punhos.

— Foi necessário.

— Não era hora. Agora estão atentos demais. A elite não deve te notar.

Você falhou.

A vergonha queimou como ácido em sua garganta.

— Sim, senhor.

— Recolha-se. E da próxima vez… não me traga variáveis. Traga resultados.

— Sim...

E então ela desapareceu na sombra de onde veio.

No Dojo da academia, Sakura Minazuki girava sua odachi em movimentos perfeitos no campo de treino, mas cada golpe parecia... forçado.

— Ele disse... "eu estou concentrado em você agora."

Aquela frase não saía de sua mente. Ela mordeu o lábio, suada e confusa.

— Eu sou uma guerreira. Eu não devia... — mas não conseguia terminar a frase.

Toda vez que pensava em Hiro, seu coração batia mais forte. Não era rivalidade. Era outra coisa. Algo que doía mais que qualquer ferida.

Ela caiu de joelhos na grama, apertando o cabo da espada.

— “Pai... me desculpe. Mas eu... eu acho que...” — seus olhos vermelhos brilharam com lágrimas que ela se recusava a derramar.

— “Eu me apaixonei por um idiota que nem nota.”

No quarto de Yumi, o cheiro de chá fresco e pétalas perfumadas pairava no ar. A luz do entardecer banhava a mobília em tons dourados.

Mari, ria alto com um livro na mão.

— E aí o cavaleiro salva a princesa com um beijo roubado! Ele diz: "Você é meu destino." Aaaaah! É tão romântico! — ela quase caiu da poltrona.

Yumi Kazehara, sentada na cama com as pernas cruzadas, estava mais vermelha que uma tocha de fogo sagrado.

— M-Mari... por que você sempre traz esses livros?

— Porque você está claramente apaixonada, duh!

Yumi escondeu o rosto com as mãos.

— E-eu sei... mas não é tão simples... eu não sei o que fazer!

Mari deu uma piscadinha desastrosa.

— Fácil! Baseia-se nesse livro aqui. No capítulo 12, a protagonista deixa uma carta anônima e marca um encontro secreto debaixo da árvore de cerejeira!

— E-e-e-encontro secreto?!

— Com petálas caindo e tudo! Vai dar certo!

Yumi entrou em pânico.

— Mas e se ele não for?! E se ele rir de mim?! E se Sakura aparecer lá primeiro?! — ela quase gritava.

Mari tomou outro gole de chá.

— Aí você cura o coração partido dele com um beijo. Romance, minha flor!

Yumi caiu de costas na cama, murmurando:

— Isso é uma péssima ideia...

Mari apenas girou o livro nas mãos, sorrindo de orelha a orelha.

— Péssimas ideias, Yumi-chan... às vezes fazem as melhores histórias.