No campo leste de treinamento, o som de espadas de madeira ecoava com ritmo e precisão. Sakura Minazuki estava suando. Sua respiração era profunda, os cabelos presos com firmeza, e seus olhos fixos no oponente à sua frente: Hiro Tanaka.
— Mais rápido, Sakura — disse ele, ajustando a postura. — O corte lateral está meio segundo atrasado.
Ela atacou com mais força, o corpo em pleno controle da aura. Os golpes eram potentes, mas ainda assim, Hiro desviava com leveza.
— Você está hesitando na transição do segundo para o terceiro passo. Isso te expõe.
Sakura cerrou os dentes. Não por raiva dele — mas por raiva de si mesma. Ela queria impressioná-lo. Não como garota, mas como guerreira. Queria estar no mesmo nível.
Após mais dez trocas de golpes, Hiro parou. Ela também.
— Seu progresso é notável — ele disse, com a voz neutra. — Em breve vai alcançar o Quarto Estágio, se mantiver esse ritmo.
Sakura ofegou, surpresa. Um elogio. Dele.
— Obrigada... Hiro.
Ele apenas assentiu, virando-se para recolher as armas. Sakura, no entanto, ainda sentia o coração acelerar. E não era por esforço físico.
No lado oposto do campo, cercada por círculos mágicos flutuantes, Saori Kurosawa conjurava feitiços de vento e terra com precisão milimétrica. Sua expressão, no entanto, denunciava algo mais profundo.
“Renji vai estar lá. Kaito também. Ayaka com certeza.”
As memórias vinham em fragmentos: ela sentada sozinha à mesa enquanto os irmãos brindavam. O olhar frio do pai. A voz de Ayaka dizendo: "Você é só uma consequência."
Seus dedos tremiam. A mana oscilava.
— Droga, concentra, idiota... — murmurou.
Ela fechou os olhos e respirou fundo. As palavras de Hiro, dias atrás, ecoaram:
“Controle é respiração. Fluxo é intenção.”
Inspirou. Expirou. Conjurou. Três círculos perfeitos. A magia saiu fluida.
Ela não sorriu, mas sentiu. Um pouco de alívio.
Mais tarde, nas arquibancadas, Hikari von Richter apareceu como uma sombra entre os pilares.
Sakura estava sozinha, limpando a lâmina da odachi.
— Viu que vai ter combate misto? Talvez a gente se enfrente de novo. — disse Hikari, surgindo como quem não devia estar ali.
Sakura nem levantou os olhos.
— Não tenho interesse em lutar com gente desonrada.
— Mas eu adoro brincar com gente honrada. Vocês sempre gritam antes de morrer.
Sakura se levantou, com calma.
— Se me desafiar, eu vou te cortar de verdade, Richter.
Hikari deu um sorriso. Quase doce. Mas seus olhos brilhavam com provocação.
— Tô contando com isso, Minazuki.
E desapareceu na mesma sombra de onde veio.
No jardim interno da academia, Hiro Tanaka lia um grimório de estratégias mágicas. Estava sozinho.
Até que...
— H-Hiro... — Yumi Kazehara surgiu, as bochechas rosadas. Mari vinha logo atrás, sorrindo como se soubesse de tudo.
— Yumi-chan veio te ver treinar — cantarolou Mari.
Yumi corou mais ainda.
— N-n-não vim só pra isso! Eu... queria... conversar...
Hiro levantou o olhar, o rosto inexpressivo como sempre.
— Estou ouvindo.
Yumi ficou quieta por alguns segundos, até Mari dar um cutucão.
— Eu... só queria dizer que... se você precisar de ajuda... mesmo que doa... eu estarei lá. — sussurrou, desviando o olhar.
Hiro ficou em silêncio. Depois disse:
— Obrigado. Mas minha dor não é algo que cura com magia.
Yumi sorriu, triste.
— Eu sei. Mas ainda assim... quero tentar.
Mari, ao fundo:
— ISSO! Vai Santa do Amor!
Yumi quase morreu de vergonha.
Hiro, por sua vez, apenas voltou a ler, mas com um leve, quase imperceptível, desvio nos olhos na direção dela.