Faltavam cinco dias para o Torneio Interno da Academia Arcadia.
O clima de tensão era quase palpável. Cada aluno da classe elite treinava com mais intensidade, mais foco, mais nervosismo. O torneio seria o primeiro grande evento com plateia aberta—e com ele, viria reconhecimento, fama… ou humilhação pública.
No dormitório masculino, Hiro Tanaka estava em seu quarto.
Sentado à mesa, ele segurava uma pena sobre o pergaminho. Ainda não havia escrito nada.
Seus olhos estavam fixos no vazio. Mas, na mente, a lembrança era clara: o rosto de Mio.
Depois de longos segundos, começou a escrever com calma, a letra firme e direta.
“Pai, mãe, Mio.
A Academia Arcadia irá realizar um torneio aberto para todas as classes. Alunos do primeiro ao terceiro ano participarão, e a classe elite está incluída.
Eu estarei competindo.
Caso possam vir, ficaria feliz.
Não tenho promessas a fazer. Só estarei lá.
—Hiro.”
Dobrou a carta com cuidado e a selou. Ao sair do dormitório, entregou ao corvo de comunicação da torre de envio.
A carta partiu. E Hiro voltou ao silêncio.
No dojo, Sakura Minazuki treinava sozinha.
A odachi rasgava o ar com precisão, os passos perfeitamente ritmados. Ela suava, o cabelo preso com força, o corpo inteiro em movimento. Mas havia algo diferente.
Em vez de se focar apenas na espada, ela pensava em Hiro. Nos treinos com ele. Nas correções. Na forma como ele a olhava quando falava algo técnico. No tom direto. Frio.
— Ele vai lutar. A sério. — disse em voz baixa. — Não posso decepcionar.
Ela fechou os olhos, respirou fundo e avançou novamente com velocidade.
No Campo de treino, Saori Kurosawa praticava conjuração de múltiplos círculos.
Duas camadas de fogo. Uma de vento. Uma de terra.
Mas as mãos tremiam.
As vozes de seus irmãos ecoavam na cabeça.
“Ela nem é Kurosawa de verdade.”
“É só uma bastarda que deram nome por dó.”
As explosões falharam. A mana oscilou.
— Droga. — murmurou.
Ela fechou os olhos, forçando a mente a focar. Sentiu a raiva no estômago. Não queria provar nada para o torneio.
Ela só queria que eles vissem.
“E se ajoelhassem.”
Ela recomeçou o encantamento com os olhos cheios de fúria.
No dormitório feminino, Yumi Kazehara segurava um pano dobrado entre os dedos.
Ela costurava devagar, sentada na cama. Cada ponto pequeno, cuidadoso.
Mari, deitada na outra cama, mordia uma maçã e lia um livro de romance.
— Você tá fazendo isso pra ele, né? — perguntou, sem tirar os olhos da página.
Yumi ficou vermelha.
— É só... uma faixa de bênção. Pro torneio. Nada demais.
— Claro, claro. Uma faixa feita à mão, com costura sagrada, bênção divina e seu cheiro. Nada demais.
— M-Mari!!
Mari sorriu, sem levantar a cabeça.
Yumi olhou pela janela, os olhos distantes.
— Isso vai doer em mim, Mari… se ele se machucar. Eu sinto tudo. Sempre senti. E ele vai lutar... sério.
Mari fechou o livro.
— E mesmo assim, vai assistir, né?
Yumi assentiu, os olhos brilhando.
— Eu vou. Eu tenho que ir. Mesmo que doa mais do que qualquer cura.
Na torre mais alta da ala oeste, Hikari von Richter sentava no beiral da janela, com os pés balançando no ar.
O cartaz do torneio ainda estava aberto no colo dela.
E ela sorria.
Dobrou o papel devagar. A adaga girava nos dedos.
— Hiro... Sakura... Saori....
Ela lambeu os lábios, como se saboreasse o nome.
— Se eu cair contra vocês… vai ser lindo.
E então, com um último sorriso sádico, desapareceu na sombra.