Capítulo 91 – Os Olhos que o Viram Sorrir

O céu de Arcadia tingia-se em dourado e carmesim quando Hiro Tanaka parou diante do Portão Norte.

Ele trajava o uniforme da academia perfeitamente alinhado, Os braços cruzados, o semblante sereno, como sempre — mas por dentro, algo fervia.

Ele os sentiu antes mesmo de vê-los.

Três batidas de passos. Um par firme. Um hesitante. E um… leve, corrido.

— ONII-CHAN!

Mio.

A voz atravessou o jardim como uma flecha mágica. Antes que Hiro pudesse dizer algo, a pequena já estava pulando em seus braços.

Ele a segurou com facilidade, os olhos suavizando pela primeira vez em muito tempo.

— Você cresceu, disse ele, com um sorriso leve.

— Mentira! Foi você que encolheu!

Ele riu. Um som baixo, contido — mas real.

Ayame e Hayato chegaram logo depois. A mãe de Hiro estava com os olhos marejados. O pai, sério, mas os lábios se contorciam num sorriso orgulhoso.

— Você… realmente está aqui, disse Ayame, emocionada.

— Como um dos melhores, aparentemente, completou Hayato, com uma nota de surpresa.

Hiro apenas assentiu. Calmamente.

Mas então, algo o fez virar levemente o rosto.

Três presenças familiares, discretas, observavam da beirada do jardim.

Yumi Kazehara. Sakura Minazuki. Saori Kurosawa.

E Mari, óbvio, atrás das moitas.

— Onii-chan, quem são aquelas meninas ali? — perguntou Mio, apontando sem vergonha nenhuma.

Ayame e Hayato seguiram o olhar da filha.

E… congelaram.

Três jovens desceram lentamente pela escadaria do corredor.

À frente, Sakura Minazuki — altiva, postura firme, odachi nas costas. Mesmo sem abrir a boca, sua presença era autoridade pura.

Depois, Saori Kurosawa — loira impecável, uniforme perfeitamente ajustado, expressão neutra — mas havia um leve rubor nas bochechas que entregava seu nervosismo.

E por último, Yumi Kazehara — com sua beleza etérea, cabelos prateados esvoaçantes e olhos verdes que cintilavam com a luz do entardecer. Ela andava com passos contidos, mãos unidas diante do peito, como se estivesse reunindo coragem.

Ayame segurou no braço do marido.

— H-Hayato…

— Eu… eu estou vendo, Ayame.

Mio piscou.

— Uau. Elas são bonitas.

— Mais que isso… murmurou o pai. Aquela ali… é a filha do duque Daichi Kurosawa. Uma das linhagens mais antigas de magos.

— E aquela é a Minazuki. Herdeira do clã das lâminas reais… protetores da família imperial há dez gerações!

— E-e-e aquela com o cabelo prateado… É A SANTA!

Ayame tropeçou para trás, quase desmaiando.

— HIRO, POR QUE TRÊS LENDAS ESTÃO VINDO NA NOSSA DIREÇÃO?!

Hiro soltou um suspiro baixo.

— Longa história.

As três pararam em frente ao quarteto familiar.

Sakura foi a primeira a falar, curvando levemente a cabeça.

— Com licença. Me chamo Sakura Minazuki. Eu… apenas vim agradecer ao seu filho. Ele me ajuda muito em treinamentos.

Ayame e Hayato se curvaram de imediato, visivelmente nervosos

— É uma honra, senhorita Minazuki!

Saori bufou baixinho. Cruzou os braços.

— Tsc… já que estamos nesse nível de formalidade: Saori Kurosawa. Não que precise dizer, mas… Hiro salvou minha pele recentemente. Duas vezes.

— E-e-e-eu sou Yumi Kazehara… — disse Yumi, quase caindo para frente de tão nervosa. —“Vim… apenas… v-ver como Hiro-san estava… é tudo…

Silêncio.

— Onii-chan…

— Hm?

— Elas... gostam de você?

PÁ.

Três explosões simultâneas de cor nas bochechas.

Sakura travou no lugar.

Saori desviou o olhar, os braços apertados contra o peito.

Yumi tropeçou no próprio pé, o rosto incandescente.

Mari, lá no arbusto, murmurou com um sussurro cínico:

— Você é denso assim por esporte, Hiro Tanaka? Ou é uma técnica secreta de guerra emocional?

Mio continuou, implacável:

— Elas são suas namoradas?

— Não.

Mari sussurrou de novo:

— E o Tanaka segue invicto no campeonato de corações destruídos.

Ayame arregalou os olhos. Hayato soltou um suspiro nervoso.

— Aquele ali… — Ayame apontou para o filho. — Nosso filho calado, frio, que responde tudo com “entendido”…

— …conquistou três lendas vivas — completou Hayato, quase sem acreditar.

— A Santa, a herdeira do clã Minazuki e a filha do Duque Kurosawa… e chegaram juntas!

Enquanto isso, as garotas lutavam para manter a compostura.

Sakura, sempre a mais disciplinada, curvou-se com elegância novamente.

— Vim agradecer... por permitirem que vosso filho treinasse comigo.

— Ah-n-nós… claro! Nós que agradecemos, senhorita! — gaguejou Ayame, corando.

Saori bufou, ainda de rosto vermelho.

— Só um cumprimento educado. Nada além disso.

— Mas seu rosto está vermelho… — observou Mio.

— NÃO ESTÁ!

Yumi tentou falar… mas só saiu ar.

— E-eu... só queria ver como ele estava… Hiro-san… boa tarde…

Ayame, sem recuperar o fôlego, sussurrou:

— Querido...

— Sim, Ayame?

— O nosso filho está prestes a destruir o equilíbrio político de Arcadia.

— Aparentemente, sim.

Mio puxou o braço do irmão.

— Você vai vencer esse torneio, né?

Hiro olhou para ela. Depois para as três garotas. Nenhuma dizia nada — mas os olhos falavam por si.

Ele pensou por um momento.

— Não sei.

E então… sorriu.

— Mas vou tentar.