O céu de Arcadia tingia-se em dourado e carmesim quando Hiro Tanaka parou diante do Portão Norte.
Ele trajava o uniforme da academia perfeitamente alinhado, Os braços cruzados, o semblante sereno, como sempre — mas por dentro, algo fervia.
Ele os sentiu antes mesmo de vê-los.
Três batidas de passos. Um par firme. Um hesitante. E um… leve, corrido.
— ONII-CHAN!
Mio.
A voz atravessou o jardim como uma flecha mágica. Antes que Hiro pudesse dizer algo, a pequena já estava pulando em seus braços.
Ele a segurou com facilidade, os olhos suavizando pela primeira vez em muito tempo.
— Você cresceu, disse ele, com um sorriso leve.
— Mentira! Foi você que encolheu!
Ele riu. Um som baixo, contido — mas real.
Ayame e Hayato chegaram logo depois. A mãe de Hiro estava com os olhos marejados. O pai, sério, mas os lábios se contorciam num sorriso orgulhoso.
— Você… realmente está aqui, disse Ayame, emocionada.
— Como um dos melhores, aparentemente, completou Hayato, com uma nota de surpresa.
Hiro apenas assentiu. Calmamente.
Mas então, algo o fez virar levemente o rosto.
Três presenças familiares, discretas, observavam da beirada do jardim.
Yumi Kazehara. Sakura Minazuki. Saori Kurosawa.
E Mari, óbvio, atrás das moitas.
— Onii-chan, quem são aquelas meninas ali? — perguntou Mio, apontando sem vergonha nenhuma.
Ayame e Hayato seguiram o olhar da filha.
E… congelaram.
Três jovens desceram lentamente pela escadaria do corredor.
À frente, Sakura Minazuki — altiva, postura firme, odachi nas costas. Mesmo sem abrir a boca, sua presença era autoridade pura.
Depois, Saori Kurosawa — loira impecável, uniforme perfeitamente ajustado, expressão neutra — mas havia um leve rubor nas bochechas que entregava seu nervosismo.
E por último, Yumi Kazehara — com sua beleza etérea, cabelos prateados esvoaçantes e olhos verdes que cintilavam com a luz do entardecer. Ela andava com passos contidos, mãos unidas diante do peito, como se estivesse reunindo coragem.
Ayame segurou no braço do marido.
— H-Hayato…
— Eu… eu estou vendo, Ayame.
Mio piscou.
— Uau. Elas são bonitas.
— Mais que isso… murmurou o pai. Aquela ali… é a filha do duque Daichi Kurosawa. Uma das linhagens mais antigas de magos.
— E aquela é a Minazuki. Herdeira do clã das lâminas reais… protetores da família imperial há dez gerações!
— E-e-e aquela com o cabelo prateado… É A SANTA!
Ayame tropeçou para trás, quase desmaiando.
— HIRO, POR QUE TRÊS LENDAS ESTÃO VINDO NA NOSSA DIREÇÃO?!
Hiro soltou um suspiro baixo.
— Longa história.
As três pararam em frente ao quarteto familiar.
Sakura foi a primeira a falar, curvando levemente a cabeça.
— Com licença. Me chamo Sakura Minazuki. Eu… apenas vim agradecer ao seu filho. Ele me ajuda muito em treinamentos.
Ayame e Hayato se curvaram de imediato, visivelmente nervosos
— É uma honra, senhorita Minazuki!
Saori bufou baixinho. Cruzou os braços.
— Tsc… já que estamos nesse nível de formalidade: Saori Kurosawa. Não que precise dizer, mas… Hiro salvou minha pele recentemente. Duas vezes.
— E-e-e-eu sou Yumi Kazehara… — disse Yumi, quase caindo para frente de tão nervosa. —“Vim… apenas… v-ver como Hiro-san estava… é tudo…
Silêncio.
— Onii-chan…
— Hm?
— Elas... gostam de você?
PÁ.
Três explosões simultâneas de cor nas bochechas.
Sakura travou no lugar.
Saori desviou o olhar, os braços apertados contra o peito.
Yumi tropeçou no próprio pé, o rosto incandescente.
Mari, lá no arbusto, murmurou com um sussurro cínico:
— Você é denso assim por esporte, Hiro Tanaka? Ou é uma técnica secreta de guerra emocional?
Mio continuou, implacável:
— Elas são suas namoradas?
— Não.
Mari sussurrou de novo:
— E o Tanaka segue invicto no campeonato de corações destruídos.
Ayame arregalou os olhos. Hayato soltou um suspiro nervoso.
— Aquele ali… — Ayame apontou para o filho. — Nosso filho calado, frio, que responde tudo com “entendido”…
— …conquistou três lendas vivas — completou Hayato, quase sem acreditar.
— A Santa, a herdeira do clã Minazuki e a filha do Duque Kurosawa… e chegaram juntas!
Enquanto isso, as garotas lutavam para manter a compostura.
Sakura, sempre a mais disciplinada, curvou-se com elegância novamente.
— Vim agradecer... por permitirem que vosso filho treinasse comigo.
— Ah-n-nós… claro! Nós que agradecemos, senhorita! — gaguejou Ayame, corando.
Saori bufou, ainda de rosto vermelho.
— Só um cumprimento educado. Nada além disso.
— Mas seu rosto está vermelho… — observou Mio.
— NÃO ESTÁ!
Yumi tentou falar… mas só saiu ar.
— E-eu... só queria ver como ele estava… Hiro-san… boa tarde…
Ayame, sem recuperar o fôlego, sussurrou:
— Querido...
— Sim, Ayame?
— O nosso filho está prestes a destruir o equilíbrio político de Arcadia.
— Aparentemente, sim.
Mio puxou o braço do irmão.
— Você vai vencer esse torneio, né?
Hiro olhou para ela. Depois para as três garotas. Nenhuma dizia nada — mas os olhos falavam por si.
Ele pensou por um momento.
— Não sei.
E então… sorriu.
— Mas vou tentar.