— Por aqui.
A voz de Hiro soou breve e objetiva, como sempre.
À sua frente, caminhavam Ayame, Hayato e a pequena Mio, que não conseguia esconder o brilho nos olhos a cada novo corredor. Seus passos apressados contrastavam com a calma estoica do irmão.
Atrás deles, como uma trindade silenciosa de tensão emocional, vinham:
Sakura Minazuki — firme, elegante, mãos atrás das costas e olhar à frente, como em marcha cerimonial.
Yumi Kazehara — meio passo atrás, tentando parecer tranquila, mas tropeçando discretamente no próprio nervosismo.
Saori Kurosawa — nariz erguido, expressão de falsa neutralidade e a desculpa pronta nos lábios:
— Apenas estou supervisionando, como nobre responsável pela integridade da visita.
Claro que ninguém acreditava.
— À esquerda fica o campo de treino físico, Hiro explicou.
— Ali temos a Torre de Mana, usada para práticas avançadas.
Mio andava ao lado do irmão, empolgada.
— Essa escola é enorme! Você treina em todos esses lugares, Onii-chan?
— Sim.
— E elas treinam com você também? — perguntou, olhando pras três garotas atrás.
As três congelaram no lugar.
— Apenas treinos técnicos. — disse Sakura, quase militar.
— Ocasionais sessões práticas supervisionadas, completou Saori, desviando os olhos.
— Só assisto às vezes... sussurrou Yumi, virando o rosto.
Mari, do fundo, murmurou:
— Se ‘as vezes’ quer dizer espiar de trás das colunas do terceiro andar...
Ela não estava sozinha. Os dois criados de Saori, Shinji e Akane vestidos com uniformes discretos, sussurravam com ela:
— É a segunda vez que a senhorita Saori se oferece pra acompanhar algo que não foi convidada…
— Deve ser amor.
— Com certeza. E ela finge tão mal...
Mari assentia, como quem catalogava emoções para publicar mais tarde.
— Irritantemente fofa. Um desastre emocional com orgulho ferido, é o resumo dela.
Do outro lado do corredor, os olhos de Sakura acompanharam Hiro por vários segundos.
“Eu não devia estar aqui. Isso não é algo que eu deveria querer ver.”
“Mas… por algum motivo… quero entender ele. Esse sorriso que só aparece com a família.”
Yumi, um passo atrás, observava a mesma cena. Os olhos verdes um pouco úmidos.
“Ele muda… quando está com eles.”
“Fica mais leve. Mais humano.”
“Será que um dia ele vai sorrir assim… pra mim?”
Saori tentava manter a compostura, mas era difícil.
“Idiota. Por que estou andando com ele e a família dele?”
“Que papel ridículo é esse?”
“Eu sou uma Kurosawa!”
“…Mas o sorriso dele agora há pouco foi… tão diferente.”
Ao entrarem no grande refeitório — vazio naquela hora — Mio correu até a janela e apontou para o estádio à distância.
— Ali vai ser o torneio, né?
— Sim.
— Vai ganhar?
Hiro olhou para a arena por alguns segundos.
Depois, virou-se lentamente.
As três garotas atrás dele tentavam parecer distraídas.
Yumi olhava para o chão.
Sakura fingia interesse nas vigas do teto.
Saori examinava uma parede como se houvesse runas secretas nela.
— Não sei. Mas...
Ele observou cada uma delas por um instante.
— …vou lutar o meu melhor.
Yumi abaixou o olhar, completamente ruborizada.
Sakura manteve a pose, mas o pescoço ficou visivelmente tenso.
Saori murmurou baixo, sem pensar:
Mari, Shinji e Akane soltaram um coro abafado:
— Aaaaaawn.
Ayame cochichou com Hayato:
— Amor, nosso filho é... o protagonista de um romance escolar?
— Acho que ele é o prêmio de guerra de três impérios.
Mari, atrás, anotava mentalmente cada reação.
“Isso vai dar uma novela e tanto.”