A alvorada em Arcadia não chegou com tranquilidade.
Ela irrompeu.
Ao primeiro toque do sino mágico da torre oeste, a Academia despertou com uma energia que há muito não era sentida. Alunos de todas as classes — Comum, Alta e Elite — deixaram seus dormitórios ainda antes do sol alcançar o topo das muralhas.
Os portões da arena central estavam abertos.
E o Torneio Interno da Academia Arcadia… havia começado.
Antes mesmo do primeiro duelo ser anunciado, três portais de mana se abriram nos céus sobre a arquibancada principal, acompanhados de um estrondo grave.
Os professores se curvaram.
Até o diretor Caelan Drayven deu um passo à frente e assentiu.
— Os Três Pilares chegaram.
Do primeiro portal, desceu Ryuji Minazuki, o Santo da Espada. Um homem alto, de cabelos pretos, envolto em uma aura densa de disciplina e silêncio. Seus olhos buscaram apenas uma pessoa.
Sakura.
Ela engoliu seco ao vê-lo ali. A presença do pai... era uma lâmina sobre o pescoço.
O segundo, Daichi Kurosawa, o Duque da Magia. Olhos azuis, cabelo loiro, postura ereta, trajes bordados com os materiais mais caros do reino . Ele sequer olhou para os próprios filhos. Apenas flutuou para seu assento entre os nobres.
E do terceiro, Lucius von Richter.
O Cão Louco.
Terno negro. Cabelo branco como cinzas. E um sorriso fino, que dizia tudo e nada. Ao seu lado, um jovem alto, de expressão neutra — Klaus von Richter, seu filho, tutor de Hikari.
Na plateia, Hikari abriu um sorriso.
— Ora ora… o tio veio assistir....
Mari sussurrou, se encolhendo:
— Aqueles ali são...
Yumi tremeu.
— … os mais fortes do reino.....
Mas sentiu.
A mana daqueles três homens — tão densa que o ar se dobrava.
As três presenças. Os monstros que protegem o reino.
Campo de Combate 1 – Plateia Norte
Hiro caminhava em silêncio.
O uniforme impecável, o olhar calmo, a espada que seu pai lhe dera, na cintura.
Na arquibancada, sua família o observava.
Mio acenava como uma bandeira viva. Ayame e Hayato mantinham a postura, mas estavam visivelmente tensos.
Mas o que realmente chamava atenção… era o trio sentado mais à frente.
Sakura Minazuki — braços cruzados, olhar firme, foco total.
Saori Kurosawa — postura ereta, expressão controlada, mas o rubor leve traía seu interesse.
Yumi Kazehara — mãos unidas sobre o colo, olhos ansiosos, como se rezasse.
Mari, obviamente, estava ao lado de Yumi, com um balde de pipoca recém-comprada.
— Hoje vai ser caos puro!, disse ela, com um sorriso.
— Mari! — sussurrou Yumi, horrorizada. — Isso não é uma peça de teatro!
— Claro que é. Só que com mais sangue.
Do outro lado do ringue, Renji Kurosawa girava os ombros com confiança.
Classe Elite, Segundo Ano. Terceiro círculo mágico. Domínio de Ignis. Filho do duque.
Ele olhou para Hiro com desdém.
— Você de novo.
— Não pense que nossa última troca conta como vitória, disse Renji.
— Claro que não, respondeu Hiro, neutro. Precisei de três golpes pra te derrubar. Agora que vou a sério…
Ele levantou o olhar.
— …só preciso de um.
Renji franziu a testa, com raiva.
—Como ousa seu plebeu nojento?!
O instrutor olhou para ambos. Fez o sinal.
— Comecem!
BOOM.
O chão tremeu.
Hiro liberou sua pressão mágica.
Mana crua, refinada, sufocante.
Seu corpo parecia engolir o campo. As runas do chão começaram a brilhar em resposta involuntária. A sombra dele se expandiu. O ar ficou pesado.
Renji caiu de joelhos.
Engasgou com o ar. O coração disparou. As veias do pescoço pulsavam.
— Q-quê…?
Nas arquibancadas, os irmãos Kurosawa se levantaram em choque.
— Aquele plebeu… tem controle de mana nesse nível?!
Até os guerreiros — que normalmente não sentem alterações de mana ao redor — estremeceram.
O ar se tornara pesado.
— Isso é pressão mágica de um mago da elite! — disse um instrutor.
— Não… é refinamento. Como se ele forçasse o espaço a dobrar sob o peso da mana.
No assento dos nobres, Daichi Kurosawa finalmente ergueu uma sobrancelha.
— Tanaka…?
Na outra extremidade, Lucius von Richter sorriu.
— Interessante… esse garoto.
Ryuji Minazuki permaneceu imóvel, mas seus olhos analisavam cada movimento.
Renji tentou levantar. Convocou Ignis.
— I-Ign—
Hiro desapareceu.
Apareceu em frente a Renji.
Um único golpe.
Não com magia.
Mas com a palma da mão.
A aura azul brilhou — puro fluxo — e atingiu Renji no queixo.
Renji caiu.
Apagado.
A plateia entrou em silêncio absoluto.
— …Combate encerrado! — anunciou o juiz. — Vitória de Hiro Tanaka!
A arquibancada explodiu.
— ELE ACABOU COM O RENJI EM UM ÚNICO GOLPE!
— O QUE FOI AQUILO?!
— QUEM É ESSE TANAKA?!
Sakura, de braços cruzados, deixou um sorriso escapar.
Mas seus olhos… tremiam.
“Você… está diferente. Mais forte. Mais afiado. Mais…”
Saori, com o rosto rubro, balbuciou:
“Isso não é normal. Ele… ele é incrível..."
Yumi comemorava baixinho.
— Ele… ele venceu.
Mari limpou os olhos com um lenço improvisado.
— Esse idiota. Vai fazer todo mundo se apaixonar mesmo.
E lá em cima…
Hikari von Richter cruzou as pernas e deu um sorriso maníaco.
— Tão previsível, Kurosawa. E tão fascinante, Tanaka. Agora eu realmente quero brincar com você.