Capítulo 97 – A Sombra em Movimento

O campo parecia calmo.

Demais.

Hikari von Richter entrou sem pressa.

Seus passos eram leves como névoa. Os olhos vagavam pela plateia com uma indiferença quase sonolenta — até pararem no oponente à frente:

Kaito Kurosawa.

Segundo ano da Classe Elite. Terceiro círculo mágico. Filho legítimo do Duque da Magia.

Ele girava sua varinha encantada entre os dedos, exibindo um sorriso arrogante e confiante demais.

— Ora ora… a mercadora esquisita. Perdeu a chance de fugir.

Hikari não respondeu.

Apenas piscou.

Lenta.

Preguiçosa.

Como um gato entediado observando algo que ainda não decidiu se vai matar..

Na arquibancada, Hiro Tanaka observava em silêncio.

Mas sua mente estava em movimento.

“Ela concentra aura nos pés... não é só velocidade natural. Ela colapsa mana nos músculos da perna e comprime no calcanhar antes de cada passo. Um estalo interno... uma explosão.”

“É cálculo. Técnica. E loucura.”

O juiz levantou a mão.

— Combate autorizado!

Nada aconteceu por dois segundos.

Então…

Tudo congelou.

A sede de sangue preencheu o ar. Pesada. Intensa. Quase visível.

Kaito hesitou.

O suor desceu pela nuca.

— Q-q-que…?

Hikari desapareceu.

Só Hiro, o juiz, Sakura e os três pilares viram o movimento.

— Ela já está atrás dele, igual fez comigo, murmurou Sakura Minazuki, os olhos semicerrados.

Yumi, ao lado, arregalou os olhos.

— Q-que tipo de movimento foi esse…?

— Nenhum comum, respondeu Sakura. Isso… é aura comprimida em forma de explosão. Mas não de combate. De locomoção.

Yumi segurava as próprias mãos, tremendo.

— Foi tão… rápido…

Saori apertava o grimório contra o peito, a respiração irregular.

“Ela sumiu do meu campo de visão... É puro controle de aura.”

No campo, Kaito Kurosawa estava completamente congelado.

Uma gota de suor escorria pela têmpora.

Hikari estava atrás dele.

A adaga encostada em sua garganta.

Sua respiração roçava o ouvido do rapaz.

Ela sussurrou:

— Se renda…

E, num tom ainda mais baixo:

— …ou eu te mato.

Kaito tremeu.

Tentou movimentar os dedos. Falhou.

Tentou ativar um feitiço. A mana colapsou.

— ...r-rendo...

A palavra mal saiu. Mas saiu.

O juiz olhou, incrédulo. Mas confirmou a desistência.

— Vitória de Hikari von Richter por rendição do oponente!

A plateia explodiu.

— Que velocidade é essa?!

— Ela só desapareceu e apareceu atrás dele!

— O Kaito Kurosawa se rendeu!

Nos assentos dos pilares, Lucius von Richter inclinou o corpo para frente, um sorriso surgindo.

— Ela gostou desse jogo.

Ao lado, Klaus von Richter apenas observava, em silêncio.

Daichi Kurosawa permaneceu imóvel. Mas os olhos dele estavam fixos em Hikari.

Na plateia, Mari sussurrou:

— Essa garota... é um monstro com cara de boneca.

Yumi, ao lado, abraçava o próprio corpo. Um arrepio percorreu sua espinha, maior que o daquela vez que viu Sakura perder do mesmo jeito.

Saori, suando, encarava o campo.

“Ela... está na nossa classe. Como alguém assim passou despercebida?”

Sakura não falou nada.

Mas apertou os braços contra o corpo.

“Você não é normal. Nunca foi. E essa sede de sangue… eu senti de novo. Como no treinamento, como naquela noite.”

Do lado de fora do campo, Hikari caminhava com leveza, como se nada tivesse acontecido.

Mas antes de cruzar a linha de saída, ela parou.

Virou-se.

E olhou diretamente para Hiro Tanaka.

Não disse nada.

Só sorriu.

De novo, aquele sorriso frio. Aquilo não era alegria.

Era expectativa.

“Quero ver o que esconde, Tanaka. Quero lutar com você. Ver... até onde você aguenta antes de quebrar.”