Capítulo 98 – Depois da Tempestade

Os portões do campo número dois se fecharam com um baque metálico.

Hikari von Richter desapareceu pelos corredores internos como uma sombra satisfeita, após forçar Kaito Kurosawa, um mago de terceiro círculo, a se render… com uma adaga no pescoço.

A plateia estava em choque.

Mari, empurrando um último grão da pipoca na boca, soltou:

— Eu sabia que a Hikari era diferente, mas… ela quase matou o cara!

Yumi Kazehara, que mal conseguia olhar para o campo, apertou as mãos no colo.

— Ela… ela queria matar ele de verdade.

Sakura mantinha a postura firme, mas o olhar fixo em nada. A cena se repetia na mente dela como uma lembrança gravada a ferro quente.

"Velocidade… impulso nos pés com aura. Ela concentra toda a energia e salta, cortando o espaço."

"Eu já perdi pra isso. Duas vezes."

"Mas não mais."

Do outro lado, Saori estava… quieta. E isso era estranho.

Ela olhava para o painel onde seu nome brilhava ao lado do de Ayaka Kurosawa, a meia-irmã mais velha, e mordeu o lábio inferior com força.

"Renji e Kaito caíram. E sinceramente… que se explodam."

"Mas a Ayaka..."

"Ela não é como eles. Ela não grita. Ela não mostra raiva."

"Ela destrói. Sorrindo."

O peito de Saori apertava.

As mãos suavam.

Foi quando a voz que ela não esperava ouvir soou ao seu lado:

— “Você está nervosa.”

Ela virou o rosto.

Hiro Tanaka.

Calmo, como sempre. Olhos diretos, frios, mas… com uma ponta de sinceridade no tom.

— Saori, disse ele, firme. Não precisa de nervosismo. Você é mais forte que ela.

Ela tentou rir, com desdém, mas saiu fraco.

— Você não sabe do que está falando. Ela me…

— Eu sei do que estou falando.

Ela arregalou os olhos.

— Você domina quatro elementos. É mais versátil. Mais inteligente. E tem mais controle do que qualquer um que vi até agora.

— Você só precisa… lembrar disso.

Saori tentou responder. Mas não conseguiu.

A garganta secou. O coração batia descompassado.

"Idiota…"

"Como ele consegue falar essas coisas… com tanta calma?"

"Por que… por que isso me acalma?"

Ela olhou para o chão, depois para a mão direita. Ainda tremia um pouco.

Mas menos.

Na arquibancada dos nobres, Ayaka Kurosawa observava de longe.

As sobrancelhas franzidas. A expressão entediada. Mas os olhos… afiados.

“Dois inúteis. Um apagado, outro ajoelhado.”

“Renji e Kaito são vergonhas.”

Ela cruzou as pernas com lentidão, os dedos batendo no braço da cadeira.

“Mas eu…”

“Eu vou dar um presente para o público.”

“Ver a bastarda da Saori rastejar.”

Ela sorriu.

E esse sorriso era puro veneno.

Enquanto isso, Sakura observava Hikari, ainda distante, escorada contra uma pilastra de mármore, como se o mundo fosse um palco apenas dela.

“Você está provocando todos. Principalmente eu.”

“Se nos encontrarmos de novo… não vai acabar da mesma forma.”

Yumi, por sua vez, permanecia calada. Mas o coração estava apertado.

Hikari era assustadora. Fria. Cruel.

E agora… era uma ameaça real.

Ela virou-se para Hiro — que já caminhava de volta ao centro da arena, onde os próximos combates seriam chamados.

“Ele vai enfrentar ela. Cedo ou tarde.”

Ela apertou os punhos.

“E se… ela machucar ele…”

Mari sussurrou, ao seu lado:

— Se ela machucar ele, Yumi-chan… ela não vai sair da arena andando. Você vai ser a primeira a pular a barreira.

Yumi desviou os olhos, envergonhada.

— Não é… não é assim…

Mari riu baixinho.

— Aham. E o céu é verde.