Capítulo 121 – Vozes nas Sombras

Palácio Real – Câmara do Conselho

A luz das janelas encantadas filtrava-se sobre o mármore branco da sala oval. As colunas de prata vibravam com encantamentos antigos, e a mesa em meia-lua reluzia com runas vivas.

Sete cadeiras ocupadas por figuras distintas. Nomes que não circulavam em salões comuns. Homens e mulheres que moldavam o destino do reino de Elaria com decisões tomadas em silêncio.

O Grande Conselho não se reunia com frequência.

E nunca por causa de um adolescente.

Mas naquele dia… eles ouviriam um nome novo.

Drayven, diretor da Academia Arcadia, rompeu o silêncio com uma voz firme e clara:

— Houve um incidente.

O eco de suas palavras pareceu alterar o ar.

— Um raksha foi morto. Em quatro segundos.

O General ergueu uma sobrancelha.

— Impossível. Rakshas não aparecem em Eldoria há três séculos.

Drayven girou a palma e projetou um espelho mágico com a imagem do monstro.

Um colosso feito de sombra e osso negro, olhos de sangue vivo e aura maldita. Um dos horrores da era perdida. Intocável por magia comum. Quase imortal.

— Classe Ômega. Vulnerabilidade: transição entre padrões adaptativos. Leva nove segundos para alterar sua resistência a um novo estilo de ataque.

Drayven pausou.

— Hiro Tanaka o matou em quatro.

Silêncio caiu como uma lâmina.

O Arcebispo da Luz se inclinou.

— Está dizendo que um plebeu derrotou uma criatura ancestral sozinho?

Drayven não respondeu. Apenas projetou o relatório feito pela própria Saori Kurosawa.

Caligrafia precisa. Assinado por Saori.

"Tanaka executou o ataque fatal antes da criatura se adaptar. Técnica combinada: aura + fulmen + corte direcionado."

Quatro segundos.

O Conselheiro de Finanças deixou cair a pena de mana que segurava.

— Qual é a linhagem desse garoto?

— Nenhuma — respondeu Drayven. — Filho de um ex-soldado de fronteira. Mãe professora de primário. Sem traços nobres. Sem selo de casa. Nenhum talento mágico relevante até entrar em Arcadia.

O silêncio foi denso.

Drayven então projetou uma nova matriz. Três nomes interligados por linhas de mana.

Sakura Minazuki — A Prodígio da Espada

Saori Kurosawa — A Prodígio da Magia

Yumi Kazehara — A Santa

Todas ligadas ao nome central:

Hiro Tanaka

Drayven cruzou os braços.

— Elas estão puxadas para ele. Todas as peças estão se alinhando ao redor desse garoto.

O conselheiro militar murmurou:

— E quanto à garota von Richter?

Drayven negou com a cabeça.

— Ponto cego. A presença dela em Arcadia veio de fora da cadeia de comando. Ordem direta do círculo interno. Sem registros acadêmicos completos. Há partes ocultas… até de mim.

Ele se virou para os instrutores à margem da sala.

— Quero tudo sobre Hiro Tanaka.

— Todos os registros.

— Todas as conversas.

— Quais lojas frequentava.

— Quantas vezes faltou à escola.

— Quero o nome da parteira que cortou seu cordão umbilical.

Liora assentiu. Eiden já começava a ativar espelhos de busca.

Drayven então olhou para o reflexo do garoto em um novo espelho.

Seu olhar não era de medo. Nem de adoração.

Era de cálculo.

— Se esse garoto for a centelha da salvação…

— Precisamos protegê-lo.

— Se for o estopim da próxima guerra…

— Precisamos controlá-lo.

E assim, Hiro Tanaka deixou de ser apenas um aluno promissor.

Passou a ser observado por todos os olhos que importavam.

O garoto comum que matou um raksha.

O nome que todos queriam entender...

...ou conter.