Capítulo 140 – O Fim da Máscara

Academia Arcadia – Torre Norte – Uma hora após a cerimônia

O salão de festas ainda vibrava com ecos de vozes alegres. Estudantes das três classes riam, conversavam, trocavam teorias sobre o torneio. Mas Hiro… já estava de saída.

Vestia roupas comuns. Camisa escura. Luvas de couro. Nenhum símbolo de vitória.

Ao lado da torre, próximo ao portão lateral, estavam seus pais e Mio.

— Vai sair agora, Hiro? — perguntou Ayame, surpresa com a mochila leve nos ombros dele.

— Só por uma hora. — respondeu ele, com um tom calmo. — Preciso de ar.

Mio o puxou pela mão.

— Mas e o jantar com os pilares e o diretor?!

Hiro ajoelhou-se à altura da irmã.

— Eles já têm tudo o que querem. Eu só preciso de vocês felizes.

Ela piscou. Sorriu.

Ele se despediu. Apertou os ombros do pai. Tocou a testa da mãe com a própria. E então, foi.

Mas ele não foi para relaxar.

Não naquela noite.

Minutos depois – Ala Leste Proibida – Subsolo

Ele caminhava por corredores esquecidos.

Lá embaixo, além de grades corroídas e portas trancadas por décadas, havia o “Laboratório Obscuro de Thaumaturgia”, um lugar que os registros diziam estar interditado.

Para Hiro, era o campo de execução.

No centro do salão circular, dezenas de runas arcaicas brilhavam em tons azuis e dourados. Uma matriz complexa, traçada à mão, com precisão que só o desespero podia ensinar.

Uma armadilha. Uma sentença. Um túmulo.

Hiro sentou-se sobre uma pedra, exatamente no centro.

Cruzou os braços.

Fechou os olhos.

E esperou.

Mais cedo – Do lado de fora da ala oeste

Sakura cruzou os braços, observando as estrelas.

— Cadê o idiota do Hiro agora?

— Disse que ia respirar um pouco, comentou Mari.

— Sozinho? — disse Saori. — Depois da vitória? Covarde social.

Yumi estava inquieta.

— Hiro… não costuma desaparecer assim.

Mari riu.

— Devia estar nervoso com o sorriso da Saori depois do parabéns. Achei que ela ia beijar ele.

Saori ficou vermelha até as orelhas.

— IDIOTA! EU SÓ—

Sakura se virou de costas.

— Não importa. Se ele não voltar até o jantar… eu vou atrás.

Yumi apenas manteve os olhos no horizonte.

E sentia.

Algo não estava certo.

O ar no laboratório subterrâneo pesava como um véu de chumbo. Hiro permanecia imóvel, os olhos fechados, a respiração tão lenta que quase não perturbava o pó acumulado nos séculos. As runas sob seus pés pulsavam em silêncio, aguardando.

Então—

Estalidos.

Pés descalços ecoando na pedra úmida. Um cheiro de carne podre e mana distorcida invadiu o salão antes mesmo da figura aparecer.

— Que lugar... nostálgico.

A voz era um coro de sussurros, como se dez pessoas falassem ao mesmo tempo. Hiro abriu os olhos.

Diante dele, no arco da entrada, *ele* se materializou.

O Doppelgänger.

Seu corpo era uma colagem grotesca: braços longos demais, pele pálida como a de um cadáver, e um rosto que mudava a cada piscar de olhos — um instante era o de um velho, depois o de uma criança, depois o de uma mulher com cicatrizes. Nenhum daqueles rostos era dele. Todos eram roubados.

— Hiro Tanaka. O monstro sorriu, mostrando dentes afiados. — O vencedor do torneio.

Hiro não se moveu.

— Você poderia estar lá em cima, festejando com seus amigos. Comendo da mesma comida. Rindo das mesmas piadas. O Doppelgänger girou, os passos deixando marcas negras no chão.

Silêncio.

O monstro riu, um som que ecoou como vidro quebrando.

— Deixe-me apresentar-me direito. Sou Nhyx’thar, Estágio 4 de Aura, enviado há dez anos pelo General Zyr’goth para estudar, infiltrar... e apodrecer este reino por dentro. Suas mãos se abriram, e cinco dedos se transformaram em dez, depois em vinte, retorcendo-se como vermes. — Já roubei 47 rostos. Mercadores, soldados, até um aluno desta academia. Todos tão fáceis. Mas você... você será meu troféu final.

Hiro finalmente falou, sem levantar a voz:

— Terminou?

Nhyx’thar inclinou a cabeça.

— Não vai chorar? Suplicar? Gritar o nome daquela Santa inútil?

Hiro ergueu a mão direita. As runas no chão acenderam de uma vez, linhas azuis e douradas tecendo uma teia que cobriu paredes, teto, até o ar. O Doppelgänger recuou, pela primeira vez com algo parecido com surpresa.

— Isso é... Linguagem Rúnica Arcaica. Morta há duzentos anos. Seus olhos negros vibraram. — Como um plebeu sabe—

— Pergunte ao seu general. Hiro fechou o punho.

O selo se completou.

Portas e janelas desapareceram. O laboratório tornou-se uma cela sem saída, iluminada apenas pelo brilho das runas. Nhyx’thar olhou ao redor, os rostos em sua pele se contorcendo em pânico.

— Você... sabia que eu viria.

Hiro levantou-se. Pela primeira vez naquela noite, seus olhos queimaram.

— Eu contei os dias.

O Doppelgänger riu, agora com um tom quase respeitoso.

— Então seja assim. Quando eu arrancar seu rosto, vou usá-lo para matar cada um daqueles patético amigos seus. A Santa gritará seu nome quando eu a esfaquear—

Hiro cortou a frase com um gesto. Uma runa vermelha surgiu no peito de Nhyx’thar, marcando-o como presa.

— Não há quando.

Hiro desembainhou a espada.

Só agora.