O laboratório inteiro vibrava.
As runas nas paredes piscavam em desespero. O teto tremia. Fragmentos de pedra caíam como chuva lenta.
No centro, Hiro e o doppelgänger trocavam golpes como titãs.
A cada impacto, uma onda de mana era liberada, distorcendo a gravidade do ambiente. Objetos flutuavam. A luz vacilava. A realidade se dobrava nas bordas.
O monstro rugia, seu corpo mutando a cada segundo: garras, espinhos, caudas, tentáculos — tudo misturado, tudo imprevisível.
Mas Hiro não recuava.
Mesmo com o braço esquerdo ensanguentado. Mesmo com cortes no torso. Mesmo com a respiração falhando.
Ele não parava.
— Terrae: Spinae!
Espinhos de pedra irromperam do chão, empalando o monstro por baixo.
Nhyx’thar gritou, furioso, destruindo a base com um giro brutal. Mas Hiro já estava no alto.
— Ventus: Tempestas Laniatus!
Uma lança de vento giratório foi lançada direto no rosto do voidborn, cortando o lado esquerdo da cabeça. Carne caiu como lama ardente.
Mas ainda não bastava.
Nhyx’thar rugiu, sua aura explodindo com força bestial, anulando parte do ar ao redor.
Hiro quase perdeu o equilíbrio.
O monstro então avançou com os braços duplicados, quatro garras cobertas de mana negra. Um soco acertou Hiro no peito, lançando-o contra uma pilastra antiga. A dor explodiu nas costelas. Um filete de sangue escapou dos lábios.
Mas ele não caiu.
A mão de Hiro tocou o chão, ativando uma runa com o próprio sangue.
— Runus: Reflexio Caelorum.
Uma cúpula de espelhos rúnicos se ergueu ao redor, refletindo os movimentos do voidborn em mil direções.
O monstro recuou por um segundo, confuso.
E Hiro sussurrou, ainda de joelhos:
— Agora… a segunda etapa.
Ele ergueu o braço direito. A pele brilhava com runas escarlates — entalhadas na carne.
Não tatuadas.
Escritas com queimaduras antigas.
— Verba Antiqua... Aperiatur.
As runas no chão responderam.
Toda a câmara tremeu.
Runas arcaicas, há muito esquecidas, se acenderam em sequência.
As palavras ressoaram como trovões dentro do espaço selado.
— Runus Primordialis: Catena Temporis.
Correntes douradas surgiram das runas do teto. Elas se prenderam aos tornozelos do doppelgänger. Depois aos pulsos. Depois ao pescoço.
Nhyx’thar gritou com um som impossível.
Como se cem vozes gritassem ao mesmo tempo em pânico.
— ESSAS RUNAS…!
— Elas não existem mais! ISSO FOI PERDIDO NA QUEDA DE MORDRASS!
Hiro avançou.
— Eu estudei Mordrass.
Um salto. Aura comprimida nos pés.
A lâmina em chamas girou com poder.
— Ignis: Fatum Incendio!
O golpe atingiu em cheio o ombro do monstro, que conseguiu desviar por pouco, queimando até os ossos falsos que compunham sua forma.
O grito que veio depois não era apenas dor.
Era raiva.
Medo.
E desespero.
Nhyx’thar cuspiu uma nuvem de mana distorcida.
Tentou se soltar.
— “Você… VOCÊ NÃO É UM SIMPLES HUMANO!”
— “O QUE É VOCE?!”
Hiro olhou nos olhos dele. E pela primeira vez… permitiu a sombra da verdade.
— Você não precisa saber quem eu sou.
As runas arcaicas giravam, aumentando o cerco. O tempo ao redor do monstro começava a se distorcer — o feitiço o forçava a repetir os mesmos segundos de dor em loop.
O chão tremia.
O Voidborn tentava romper as correntes.
— ISTO É MAGIA... DOS ANTIGOS!
— ISTO É—
— É o fim da linha. — cortou Hiro, frio.
Mas mesmo agora, mesmo com a vantagem…
Ele sabia.
Não era o bastante.
Ainda não era o golpe final.
Ainda não era o momento de vacilar.
Porque Nhyx’thar ainda tinha poder.
E Hiro… ainda tinha feridas demais.