Capítulo 144 – Ecos da Ausência

Academia Arcadia – Duas horas após o fim da cerimônia

O refeitório improvisado ainda pulsava com magia leve — estalos coloridos nos céus, cheiro de doces encantados, risadas jovens e sons de taças se tocando em celebração.

Mas, no limite da muralha sul, onde a luz da festa não alcançava, o silêncio já formava um campo de tensão.

Sakura fitava o horizonte. Os braços cruzados sobre o uniforme impecável. O queixo erguido. O maxilar tenso.

Ao lado, Saori batia o calcanhar ritmadamente contra o chão. Os braços também cruzados. Mas os olhos? Turbilhão.

Yumi mantinha a cabeça baixa, os dedos entrelaçados em frente ao peito. O olhar arregalado, vívido, como se enxergasse algo que as outras não viam.

— Duas malditas horas, rosnou Sakura. — Onde esse idiota se meteu?

— Não me diga que foi visitar alguém... — Saori bufou. — Depois de vencer o torneio? Sem avisar ninguém?

Yumi murmurou, com a voz baixa:

— Ele... nunca desaparece assim.

Mari se aproximou, mordendo um bolinho de flor do vento.

— Não, sério... ele sumiu sem nem deixar bilhete?

— Nada, respondeu Yumi. Nem pra mim.

— Isso é estranho mesmo, murmurou Mari, séria dessa vez.

Sakura apertou os punhos.

— Ele se machucou na luta com a Saori? Ele parecia bem…

— Se ele estiver ferido e se escondendo pra não preocupar a gente… eu juro que—

— —corto ele no meio, completou Saori, irritada.

— Mas com carinho, disse Mari com um sorrisinho.

Yumi balançou a cabeça. Seu peito apertava.

"Algo... está errado."

No alto da torre oeste – minutos antes

Hikari von Richter observava o pátio com os olhos semicerrados.

Ela já havia percebido. O cheiro.

Algo apodrecido. Antinatural. Como se o ar estivesse envenenado por uma lembrança proibida.

A aura deixada para trás… era errada. Fria. Podre.

— Mana... distorcida, murmurou.

Ela não era maga. Mas era assassina.

O instinto dela berrava.

“Isso é Voidborn. Absoluto.”

E o cheiro… vinha do subsolo.

Ela desceu. Rapidamente. Sozinha. Ninguém a viu. Ninguém a ouviu.

Mas ela seguiu o cheiro de podridão até os corredores interditados do Laboratório Obscuro. A maioria dos portais estava fechada.

Mas então...

CRAACK.

Uma parede de pedra... se abriu.

Sozinha.

As runas que a cobriam desapareceram como se libertadas por um comando final. Uma ordem enterrada.

Hikari entrou sem hesitar.

E parou.

— ...Impossível.

O chão estava coberto de sangue seco e cinzas negras. As paredes tinham rachaduras como se algo tivesse explodido por dentro. E no centro da câmara...

Ele.

Hiro Tanaka.

Deitado, o corpo coberto de ferimentos cauterizados, queimaduras, cortes, marcas de garras e estilhaços de aura. O braço esquerdo quebrado. A espada caída a dois metros de distância. As roupas em frangalhos.

Hikari arregalou os olhos.

— Ele... lutou.

— Sozinho.

Ela respirou fundo — e sentiu.

Aquele cheiro.

— Voidborn, ela sussurrou.

A voz tremeu.

— Aqui... neste lugar... tem mana Voidborn. Não só resquício.

Ela se aproximou, um passo de cada vez, o coração batendo mais rápido do que em qualquer missão que já teve.

“Esse idiota... tava caçando um Voidborn. Sozinho.”

Ela se ajoelhou ao lado de Hiro. O rosto dele estava pálido, a respiração rasa. Mas ele ainda... vivia.

— Você é um idiota... um completo idiota.

Ela rosnou.

— Por que não me chamou?

— Você é meu... brinquedo. Só eu posso matar você...

"...não um monstro do vazio."