Academia Arcadia – Duas horas após o fim da cerimônia
O refeitório improvisado ainda pulsava com magia leve — estalos coloridos nos céus, cheiro de doces encantados, risadas jovens e sons de taças se tocando em celebração.
Mas, no limite da muralha sul, onde a luz da festa não alcançava, o silêncio já formava um campo de tensão.
Sakura fitava o horizonte. Os braços cruzados sobre o uniforme impecável. O queixo erguido. O maxilar tenso.
Ao lado, Saori batia o calcanhar ritmadamente contra o chão. Os braços também cruzados. Mas os olhos? Turbilhão.
Yumi mantinha a cabeça baixa, os dedos entrelaçados em frente ao peito. O olhar arregalado, vívido, como se enxergasse algo que as outras não viam.
— Duas malditas horas, rosnou Sakura. — Onde esse idiota se meteu?
— Não me diga que foi visitar alguém... — Saori bufou. — Depois de vencer o torneio? Sem avisar ninguém?
Yumi murmurou, com a voz baixa:
— Ele... nunca desaparece assim.
Mari se aproximou, mordendo um bolinho de flor do vento.
— Não, sério... ele sumiu sem nem deixar bilhete?
— Nada, respondeu Yumi. Nem pra mim.
— Isso é estranho mesmo, murmurou Mari, séria dessa vez.
Sakura apertou os punhos.
— Ele se machucou na luta com a Saori? Ele parecia bem…
— Se ele estiver ferido e se escondendo pra não preocupar a gente… eu juro que—
— —corto ele no meio, completou Saori, irritada.
— Mas com carinho, disse Mari com um sorrisinho.
Yumi balançou a cabeça. Seu peito apertava.
"Algo... está errado."
No alto da torre oeste – minutos antes
Hikari von Richter observava o pátio com os olhos semicerrados.
Ela já havia percebido. O cheiro.
Algo apodrecido. Antinatural. Como se o ar estivesse envenenado por uma lembrança proibida.
A aura deixada para trás… era errada. Fria. Podre.
— Mana... distorcida, murmurou.
Ela não era maga. Mas era assassina.
O instinto dela berrava.
“Isso é Voidborn. Absoluto.”
E o cheiro… vinha do subsolo.
Ela desceu. Rapidamente. Sozinha. Ninguém a viu. Ninguém a ouviu.
Mas ela seguiu o cheiro de podridão até os corredores interditados do Laboratório Obscuro. A maioria dos portais estava fechada.
Mas então...
CRAACK.
Uma parede de pedra... se abriu.
Sozinha.
As runas que a cobriam desapareceram como se libertadas por um comando final. Uma ordem enterrada.
Hikari entrou sem hesitar.
E parou.
— ...Impossível.
O chão estava coberto de sangue seco e cinzas negras. As paredes tinham rachaduras como se algo tivesse explodido por dentro. E no centro da câmara...
Ele.
Hiro Tanaka.
Deitado, o corpo coberto de ferimentos cauterizados, queimaduras, cortes, marcas de garras e estilhaços de aura. O braço esquerdo quebrado. A espada caída a dois metros de distância. As roupas em frangalhos.
Hikari arregalou os olhos.
— Ele... lutou.
— Sozinho.
Ela respirou fundo — e sentiu.
Aquele cheiro.
— Voidborn, ela sussurrou.
A voz tremeu.
— Aqui... neste lugar... tem mana Voidborn. Não só resquício.
Ela se aproximou, um passo de cada vez, o coração batendo mais rápido do que em qualquer missão que já teve.
“Esse idiota... tava caçando um Voidborn. Sozinho.”
Ela se ajoelhou ao lado de Hiro. O rosto dele estava pálido, a respiração rasa. Mas ele ainda... vivia.
— Você é um idiota... um completo idiota.
Ela rosnou.
— Por que não me chamou?
— Você é meu... brinquedo. Só eu posso matar você...
"...não um monstro do vazio."