Capítulo 145 – A Sombra e o Caído

Laboratório Obscuro de Thaumaturgia – Instantes depois

O silêncio pesava no ar como uma pedra.

Hikari permanecia ajoelhada, observando o corpo desacordado de Hiro. O peito dele subia e descia com dificuldade, e a pele pálida transparecia o quanto ele havia sangrado.

“Isso não é ferimento de treino. Isso foi... uma execução.”

As mãos dela tremiam.

Não de medo.

Mas de fúria.

E foi então que Hiro Tanaka abriu os olhos.

A respiração dele era fraca, mas constante. Os olhos brilharam em meio ao suor e ao sangue. O olhar turvo focou... nela.

— ..Richter.

Hikari o segurou pelos ombros, com força.

— Fala, Tanaka. O que aconteceu aqui? Quem você enfrentou?!

Ele piscou lentamente. Um leve sorriso cortado pela dor surgiu nos lábios.

— Você seguiu... bom instinto.

— RESPONDE! — ela gritou, os olhos tremendo. — Eu senti mana Voidborn! Aqui! Esse lugar estava SELADO com runas arcaicas! Você fez isso sozinho?!

Hiro tossiu, sangue escorrendo da boca.

— Classe infiltração... doppelgänger. Estágio quatro de aura.

Hikari ficou em silêncio.

— Você... sabia? — a voz dela era um sussurro.

Ele assentiu lentamente.

— Desde... antes do torneio.

— Você... caçou ele sozinho?!

Hiro inspirou com dificuldade. Os olhos cerrados por um instante.

— Era minha... missão.

— PORRA! — Hikari se levantou, andou em círculos, depois socou a parede — deixando rachaduras profundas.

— Você... você devia ter me chamado! Eu teria matado ele pra você! Idiota inútil cabeça de pedra!!

— ...Você teria morrido.

Ela parou.

Silêncio.

Então se virou, olhando fixo pra ele.

— E daí?

Hiro apenas a encarou. Os olhos dos dois se encontraram por um segundo longo. Algo ali... não era ódio.

Era mais profundo.

— Você é um monstro, disse ele, quase num sussurro. — Mas... não como eles.

Ela se agachou de novo. Colocou as mãos nos ferimentos de Hiro. A expressão era fria. Mas os dedos tremiam.

— Você vai viver, seu desgraçado. Porque se morrer agora… sou eu que te mato depois.

Academia Arcadia – Superfície – Pátio Central

— Ainda nada?!

A voz de Sakura Minazuki ecoou pelos corredores enquanto ela atravessava os jardins com os pés rápidos, os olhos como lâminas.

— Ele sumiu. Literalmente! Duas malditas horas!

— Dormitório vasculhado, biblioteca, campo de treinamento... nada — disse Shinji.

— Nem rastros. Nenhuma assinatura de mana recente — completou Akane.

Saori mordia o lábio inferior, sem conseguir disfarçar a preocupação.

Yumi corria entre os corredores, cada passo mais frenético que o anterior. Mari a seguia, os olhos tensos pela primeira vez.

— Ele... ele não pode ter sumido assim! — disse Yumi.

— Não pode, respondeu Mari. — Mas sumiu.

Na entrada principal, Ayame estava em prantos contidos, segurando a mão de Hayato.

— Meu filho... meu filho sumiu… depois de tudo...

— Vamos achá-lo, disse o pai, com o punho cerrado. — Mesmo que eu tenha que virar essa academia inteira com as próprias mãos.

Do alto do terraço da torre, o Diretor Caelan Drayven observava.

— Selos mágicos quebrados... uma assinatura de mana distorcida... e algo mais.

Ele virou-se para um grupo de instrutores reunidos atrás dele.

— Alerta interno de Nível Três. Fechem todas as rotas externas. Mobilizem magos de rastreamento. Alguém ou algo muito perigoso esteve aqui.

De volta ao subterrâneo

Hikari se sentou, respirando fundo.

— Eles vão descer. Logo. Seus rastros não são sutis.

Hiro, ainda deitado, soltou um suspiro cansado.

— ...Sabia que ia me seguir.

— Claro. Você fede a desgraça, disse ela, encarando-o de esguelha.

Pelo canto do olho, ela viu o sangue seco no peito dele. O brilho das runas ainda fracas no chão.

E então pensou:

“Você me irrita.”