Laboratório Obscuro de Thaumaturgia – Instantes depois
O silêncio pesava no ar como uma pedra.
Hikari permanecia ajoelhada, observando o corpo desacordado de Hiro. O peito dele subia e descia com dificuldade, e a pele pálida transparecia o quanto ele havia sangrado.
“Isso não é ferimento de treino. Isso foi... uma execução.”
As mãos dela tremiam.
Não de medo.
Mas de fúria.
E foi então que Hiro Tanaka abriu os olhos.
A respiração dele era fraca, mas constante. Os olhos brilharam em meio ao suor e ao sangue. O olhar turvo focou... nela.
— ..Richter.
Hikari o segurou pelos ombros, com força.
— Fala, Tanaka. O que aconteceu aqui? Quem você enfrentou?!
Ele piscou lentamente. Um leve sorriso cortado pela dor surgiu nos lábios.
— Você seguiu... bom instinto.
— RESPONDE! — ela gritou, os olhos tremendo. — Eu senti mana Voidborn! Aqui! Esse lugar estava SELADO com runas arcaicas! Você fez isso sozinho?!
Hiro tossiu, sangue escorrendo da boca.
— Classe infiltração... doppelgänger. Estágio quatro de aura.
Hikari ficou em silêncio.
— Você... sabia? — a voz dela era um sussurro.
Ele assentiu lentamente.
— Desde... antes do torneio.
— Você... caçou ele sozinho?!
Hiro inspirou com dificuldade. Os olhos cerrados por um instante.
— Era minha... missão.
— PORRA! — Hikari se levantou, andou em círculos, depois socou a parede — deixando rachaduras profundas.
— Você... você devia ter me chamado! Eu teria matado ele pra você! Idiota inútil cabeça de pedra!!
— ...Você teria morrido.
Ela parou.
Silêncio.
Então se virou, olhando fixo pra ele.
— E daí?
Hiro apenas a encarou. Os olhos dos dois se encontraram por um segundo longo. Algo ali... não era ódio.
Era mais profundo.
— Você é um monstro, disse ele, quase num sussurro. — Mas... não como eles.
Ela se agachou de novo. Colocou as mãos nos ferimentos de Hiro. A expressão era fria. Mas os dedos tremiam.
— Você vai viver, seu desgraçado. Porque se morrer agora… sou eu que te mato depois.
Academia Arcadia – Superfície – Pátio Central
— Ainda nada?!
A voz de Sakura Minazuki ecoou pelos corredores enquanto ela atravessava os jardins com os pés rápidos, os olhos como lâminas.
— Ele sumiu. Literalmente! Duas malditas horas!
— Dormitório vasculhado, biblioteca, campo de treinamento... nada — disse Shinji.
— Nem rastros. Nenhuma assinatura de mana recente — completou Akane.
Saori mordia o lábio inferior, sem conseguir disfarçar a preocupação.
Yumi corria entre os corredores, cada passo mais frenético que o anterior. Mari a seguia, os olhos tensos pela primeira vez.
— Ele... ele não pode ter sumido assim! — disse Yumi.
— Não pode, respondeu Mari. — Mas sumiu.
Na entrada principal, Ayame estava em prantos contidos, segurando a mão de Hayato.
— Meu filho... meu filho sumiu… depois de tudo...
— Vamos achá-lo, disse o pai, com o punho cerrado. — Mesmo que eu tenha que virar essa academia inteira com as próprias mãos.
Do alto do terraço da torre, o Diretor Caelan Drayven observava.
— Selos mágicos quebrados... uma assinatura de mana distorcida... e algo mais.
Ele virou-se para um grupo de instrutores reunidos atrás dele.
— Alerta interno de Nível Três. Fechem todas as rotas externas. Mobilizem magos de rastreamento. Alguém ou algo muito perigoso esteve aqui.
De volta ao subterrâneo
Hikari se sentou, respirando fundo.
— Eles vão descer. Logo. Seus rastros não são sutis.
Hiro, ainda deitado, soltou um suspiro cansado.
— ...Sabia que ia me seguir.
— Claro. Você fede a desgraça, disse ela, encarando-o de esguelha.
Pelo canto do olho, ela viu o sangue seco no peito dele. O brilho das runas ainda fracas no chão.
E então pensou:
“Você me irrita.”