Uma Brincadeira ou uma Verdade Perigosa?

Acordei sobressaltada com um suspiro, minha cabeça latejando e pensamentos confusos. Almofadas de couro macio acolhiam meu corpo, e uma iluminação fraca projetava sombras por uma sala desconhecida. Onde diabos eu estava? Os eventos antes do meu desmaio voltaram rapidamente—a sala de interrogatório, aquela viagem aterrorizante de elevador, e os olhos azuis brilhantes de Kaelen Vance me ordenando a dormir.

"Bom. Você acordou."

Aquela voz. Profunda, autoritária, e enviando um arrepio involuntário pela minha espinha. Virei a cabeça para vê-lo sentado à minha frente em uma poltrona de couro, com uma perna cruzada sobre a outra, parecendo irritantemente composto em seu terno caro. Seus olhos intensos acompanhavam cada movimento meu como um predador.

"O que você fez comigo?" exigi, minha voz rouca. "Onde estou?"

Sr. Vance inclinou-se ligeiramente para frente. "Você está na Academia Magnus Sterling. E como mencionei antes, eu sou o diretor."

Sentei-me rápido demais, fazendo minha cabeça girar. A sala era elegante, mas austera—móveis de madeira escura, estantes de livros cobrindo as paredes, e nenhuma janela. Parecia um escritório saído diretamente de algum drama britânico de época.

"Academia Magnus Sterling?" repeti ceticamente. "Para quê? Estudantes universitários sequestrados?"

Seu maxilar enrijeceu. "Para Cinzas. Que é o que você é, Srta. Thorne."

Pisquei para ele. "Cinzas? O quê, como alienígenas? Homenzinhos verdes, só que cinza?" Não consegui conter a risada histérica que escapou. "Isso é algum tipo de pegadinha elaborada? A Willow armou isso?"

"Isso não é uma pegadinha." Sua voz endureceu. "Você é uma Cinza. Uma super-humana com habilidades extraordinárias que se manifestaram hoje quando você mandou aquela garota voando pelo corredor."

Olhei fixamente para ele, esperando pela conclusão da piada. Quando nada veio, dei uma risadinha. "Certo. Sou uma super-humana. E você é o quê, Professor X? Cadê sua cadeira de rodas?"

Seus olhos se estreitaram perigosamente. "Entendo que isso seja difícil de processar, mas seu sarcasmo não está ajudando sua situação."

Levantei-me, examinando a sala mais cuidadosamente. "Ok, onde estão as câmeras? Isso é bom, sério. Você quase me convenceu." Comecei a andar, verificando atrás dos livros e debaixo dos móveis. "A Willow realmente se superou desta vez. O efeito especial com seus olhos foi um toque legal."

Quando me aproximei dele, estendendo a mão para verificar o bolso do terno em busca de microfones escondidos, tudo aconteceu em um borrão. Sua mão disparou, os dedos circulando meus pulsos com força suficiente para deixar marcas. Ele se levantou, erguendo-se sobre mim, e de repente seus olhos brilharam naquele azul antinatural novamente.

"Não me toque novamente," ele rosnou, sua voz vibrando com poder. "Na próxima vez que fizer isso, haverá consequências."

O medo me atravessou como uma lâmina fria. Isso não era atuação. Nenhum efeito especial poderia explicar a força em seu aperto ou a maneira como seus olhos literalmente brilhavam.

"Me solte," sussurrei, odiando como minha voz tremia.

Ele soltou meus pulsos, mas não recuou, usando sua altura para me intimidar ainda mais. "Posso compelir você a fazer qualquer coisa, Srta. Thorne. Fiz isso antes no elevador. Posso fazer de novo."

Uma memória vaga surgiu—sua ordem para dormir e meu corpo respondendo instantaneamente. Meu estômago afundou enquanto a realidade começava a se estabelecer. E se ele não estivesse mentindo?

"Isso não é possível," argumentei fracamente, esfregando meus pulsos. "As pessoas não podem simplesmente controlar outras pessoas com suas vozes."

"Cinzas podem," ele rebateu suavemente. "Alguns de nós, pelo menos. É um dos muitos dons que possuímos."

Recuei dele até minhas pernas baterem no sofá, me forçando a sentar. "Isso é insano. Eu sou Hazel Thorne. Sou uma garota normal de uma família normal. Minha mãe está em um hospital psiquiátrico, e meu pai está morto. Não há nada de especial em mim."

Sua expressão suavizou marginalmente. "A condição da sua mãe e a morte do seu pai não são o que você pensa. Há muito que você não sabe sobre sua herança."

Meu coração batia dolorosamente contra minhas costelas. "O que você está dizendo? Que minha mãe não está realmente doente? Que meu pai não está realmente morto?"

"Seu pai está de fato falecido," ele disse cuidadosamente. "Quanto à sua mãe, sua doença mental foi... exacerbada por certos fatores relacionados à sua biologia Cinza."

Balancei a cabeça vigorosamente. "Não. Você está mentindo. Minha mãe é humana. Eu sou humana. Isso é loucura."

"É mesmo?" Ele deu um passo mais perto. "Então como você explica o que aconteceu hoje? A força que demonstrou? A maneira como eu fiz você dormir com apenas uma palavra?"

Eu não tinha resposta para isso.

Ele pressionou sua vantagem, aproximando-se ainda mais. "Você nunca experimentou coisas que não conseguia explicar? Momentos de força incomum? Cura rápida? Sonhos que pareciam reais demais?"

Minha mente relembrou ocasiões em que eu havia levantado coisas que pareciam pesadas demais, momentos em que cortes e hematomas haviam desaparecido da noite para o dia. Eu sempre os descartava como adrenalina ou má memória.

"Isso não significa que eu seja algum tipo de super-humana," insisti, mas a dúvida estava se instalando.

"Você é uma Cinza," ele repetiu firmemente. "E agora que seus poderes se manifestaram, você precisa de treinamento. É isso que fazemos aqui na Academia."

Olhei ao redor da sala novamente, me sentindo encurralada. "Então o quê, devo simplesmente aceitar isso? Deixar toda a minha vida para trás porque você diz?"

"Sua 'vida inteira', como você coloca, era temporária na melhor das hipóteses." Seu tom era desdenhoso. "Esta é quem você realmente é."

A raiva explodiu dentro de mim, quente e repentina. "Você não tem o direito de decidir isso! Não pode simplesmente me sequestrar e dizer que tudo que eu já conheci é uma mentira!"

"Eu não te sequestrei," ele corrigiu friamente. "Você veio por vontade própria. Lembra das suas escolhas? Prisão ou Academia?"

"Isso é coerção!" retruquei. "E como sei que este lugar é melhor que a prisão?"

Um fantasma de sorriso tocou seus lábios. "Você não sabe."

Medo e frustração colidiram dentro de mim. Sentia como se estivesse me afogando em impossibilidades. Parte de mim ainda se agarrava à esperança de que isso fosse uma farsa elaborada, mas no fundo, eu começava a suspeitar da terrível verdade.

"Posso ir embora?" perguntei, odiando como minha voz soava pequena.

"Não."

A franqueza de sua resposta me fez estremecer. "Então eu sou uma prisioneira."

"Você é uma estudante," ele corrigiu. "E sair seria perigoso—tanto para você quanto para os outros. Cinzas não treinados são imprevisíveis, especialmente quando seus poderes acabam de se manifestar."

Engoli em seco, tentando processar tudo. Se o que ele estava dizendo fosse verdade—e a parte racional do meu cérebro começava a pensar que poderia ser—então eu havia machucado Bianca por causa desses... poderes. O pensamento me deixou enjoada.

"O que acontece agora?" perguntei baixinho.

"Agora você começa sua educação." Ele voltou para sua cadeira, aparentemente satisfeito que eu não estava mais em negação. "Você receberá aposentos, um guia e uma programação de aulas. Aprenderá a controlar suas habilidades e entender nosso mundo."

"Seu mundo," repeti. "Nós... não estamos mais na Terra?"

Ele pareceu divertido pela primeira vez. "Estamos muito na Terra, Srta. Thorne. Apenas em um reino separado do humano. As barreiras entre mundos são bastante complexas."

Minha cabeça estava girando novamente. Outros reinos? Barreiras entre mundos? Isso era demais.

"Ainda não acredito em você," disse, mas minha declaração carecia de convicção.

Ele se inclinou para frente, seu rosto de repente desconfortavelmente perto do meu. Eu podia sentir o cheiro de sua colônia—algo caro e masculino que fez meu pulso acelerar apesar do meu medo.

"Você vai acreditar," ele sussurrou, seu hálito quente em meu rosto. "E mais cedo do que pensa."

Sua proximidade era esmagadora, ameaçadora e de alguma forma emocionante ao mesmo tempo. O ar entre nós parecia carregado de eletricidade.

"Posso fazer você fazer qualquer coisa, lembra?" ele murmurou, seus olhos brevemente brilhando naquele azul sobrenatural. "Acreditar em mim. Me obedecer. Me desejar. Qualquer coisa."

Minha respiração ficou presa na garganta enquanto algo quente e indesejado se enrolava em meu estômago. Antes que eu pudesse responder ou mesmo processar minha reação, a porta se abriu.