Meu nome é Luna Vasconcellos e hoje, ao abrir a janela da suíte principal, senti o vento frio da manhã bater no rosto como um aviso: nada mais seria igual depois de hoje.
Vesti o vestido branco de gala que Melody guardou para mim — o mesmo em que ela apareceu na capa da revista. Era pesado, com saia rodada e bordados de pedraria, mas decidi que faria dele uma armadura. O relógio marcava 10h, e a coletiva de imprensa ocorreria às 11h no salão de eventos da mansão.
Descendo a escadaria de mármore, encontrei as três crianças alinhadas ao pé do tapete vermelho improvisado para os fotógrafos. Sofia, com seus sete anos, usava um vestido florido e olhava para mim com orgulho; Danielzinho trazia a pasta com as provas, nervoso, mas com a coluna ereta; Clara segurava o diário de Mirna como se fosse um tesouro sagrado. Atravessei a sala e abracei cada um deles:
— Obrigada por estarem aqui — sussurrei. — Hoje, vocês mudam a história da nossa família.
Eles sorriram e me soltaram. A porta dupla se abriu, e o staff acomodou-nos em cadeiras na frente de dezenas de câmeras, microfones e repórteres. Atrás, o pai, Leonardo, ajeitou a gravata. Ao meu lado, Melody — minha irmã gêmea — respirava fundo, os olhos fixos no chão.
O silêncio se fez absoluto quando o cerimonial chamou:
— Senhoras e senhores, boa manhã. A família Vasconcellos tem um comunicado importante.
Leonardo ergueu a mão. A luz dos flashes iluminou seu rosto marcado pela culpa e pela esperança. Ele sorriu, vacilante:
— Boa manhã a todos. Obrigado por virem tão cedo. Hoje, minha família… nós, finalmente, revelamos a verdade sobre duas filhas que nasceram gêmeas.
Um murmúrio percorreu a plateia. Leo fez um gesto suave, convidando-me a falar.
Meu coração tremeu, mas me lembrei das três vozes pequenas que me deram coragem. Endireitei os ombros:
— Olá a todos. Eu… eu sou Luna Vasconcellos. Até poucos dias, vivi acreditando que “Luna” era apenas um nome em um papel sem importância. Mas descobri que sou filha legítima de Leonardo Vasconcellos — e irmã gêmea de Melody, que está ao meu lado.
O flash estourou. Cansei de ver meu rosto no espelho; agora o mundo me via. Eu segurei firme o microfone:
— Fui deixada em um orfanato em 2007, sob outro nome, e mantive essa história sem saber. Hoje, reunimos documentos, cartas e um testamento que provam nossa relação. Quero meu nome de volta, e quero que o mundo saiba que verdade e amor são mais importantes que qualquer reputação ou contrato.
Clara estendeu o diário de Mirna à frente:
— Esta é a prova do amor de nossa mãe.
Danielzinho abriu a pasta, exibindo as certidões:
— E estas são nossas certidões de nascimento.
Sofia ergueu o diário com determinação:
— E eu acredito nelas, sempre!
O calor do olhar deles me invadiu. A plateia permaneceu em silêncio absoluto, como se ninguém quisesse respirar e estragar o momento. Então um repórter arriscou:
— Senhora Luna, como se sente ao reencontrar sua irmã e descobrir esse segredo agora?
Olhei para Melody, que segurava minha mão, e respondi:
— Sinto medo e alegria ao mesmo tempo. Medo do que virá, mas alegria por finalmente ter uma família inteira.
Leo interveio:
— Peço desculpas a todos que confiavam apenas em uma das minhas filhas. Assumo meu erro e farei questão de reconstruir minha relação com as duas.
Em seguida, ele convidou os fotógrafos a registrar o momento histórico: as duas irmãs, lado a lado, segurando as certidões, com as crianças na frente, formando um triângulo de coragem e amor. As lentes zuniram, capturaram sorrisos, lágrimas e o brilho do sol entrando pelas janelas do salão.
Quando terminou a coletiva, a equipe de comunicação de Leo liberou um comunicado oficial à imprensa – mas eu não precisei ler; senti que aquele ato simples já havia reescrito nosso destino. Entre perguntas e flashes, as crianças rodavam ao nosso redor, ansiosas:
— Sofia: “Você vai me ensinar a cantar nossa história?”
— Danielzinho: “Aonde vamos guardar esses papéis agora?”
— Clara: “Será que podemos contar ao orfanato que eu encontrei minha mana?”
Sorri e abracei cada um deles:
— Sim, vamos contar juntos — prometi.
— Agora, minhas meninas e meu garoto — acrescentou Melody, puxando-nos para um abraço coletivo. — Somos uma família de verdade, e ninguém vai nos separar.
Naquele abraço, senti que o medo se desfez em pedaços de gelo. A verdade tinha chegado, e com ela, a liberdade. As crianças riram, rodopiaram, e eu soube: hoje nasceu a Luna que o mundo precisaria conhecer.
Mais tarde, em casa, enquanto guardávamos os documentos na estante ao lado das fotos antigas, Leo sugeriu:
— Que tal um almoço em família, com os antigos funcionários e amigos? Vamos mostrar que, apesar dos erros, podemos reconstruir tudo.
— E com música — completei, olhando para o violão — Afinal, foi a música que nos trouxe até aqui.
As crianças pularam:
— “Sim! Um concerto familiar!”
E foi assim que, no oitavo dia da minha nova vida, celebramos o encontro de duas irmãs, guiados pelos corações pequenos que nunca deixaram nossa verdade afundar no esquecimento. A partir de agora, cada nota, cada riso e cada lágrima seria compartilhada — porque, no fim, a força de uma família nasce quando aceitarmos nossos espelhos partidos e os remendarmos juntos.