EPISÓDIO 9 — A TEMPESTADE PÓS-VERDADE
Já se passaram alguns dias desde a coletiva histórica. A notícia da “família reunificada” percorreu jornais, sites e redes sociais — e trouxe uma tempestade que ninguém poderia prever.
Meu nome é Luna Vasconcellos, e hoje acordei com o tilintar de notificações explodindo no meu celular. Deitei no colchão macio do quarto de hóspedes e esperei o susto passar. Abri o aparelho e vi manchetes:
“Dupla Vasconcellos: Gêmeas Dividem Fama e Polêmica”
“Pai Esmaga Imagem de Ícone Pop para Reunir Filhas”
“Internautas Aplaudem Coragem de Luna e Criticam Leonardo”
O café da manhã foi uma cena saída de novela. Desci as escadas com o violão nas costas, encontrando Sofia, Danielzinho e Clara sentados à mesa, cada um encarando um dispositivo: tablet, smartphone e notebook. O Sr. Marcelo tostava pães, enquanto o aroma de café fresco subia pelo ar.
— Luna! Veja isso! — gritou Sofia, erguendo o tablet. — “Olha, diz que eu disse: ‘Melody tem olhos tristes’!”
— E eu ajuntei isso… — disse Danielzinho, apontando para o notebook. — “Hackeei as menções: 80% positiva, 20% maldosa.”
— Clara… — eu perguntei, vendo que ela lia o celular. — “O que há aí?”
— “Muitos trolls chamando você de impostora”, sussurrou ela, com os olhos marejados.
O peito apertou. Por trás da nossa vitória, escondia-se um exército invisível de ódio e incerteza. Tomei um gole de café forte:
— Está tudo bem, pequenos. Essas vozes não nos definem. Mas precisamos lidar com isso.
Sofia abaixou o tablet e sorriu:
— “Podemos fazer um concerto no jardim para mostrar quem somos de verdade?”
A ideia brilhou dentro de mim. Assenti:
— Sim, hoje à tarde teremos “O Coro das Gêmeas”. Vamos cantar para a família, para a imprensa… e para quem quiser ouvir.
Às 10h, o salão principal transformou-se em estúdio improvisado. Bandeirinhas, arranjos de flores e um microfone deixado à altura das crianças. As cadeiras ficaram para a equipe de comunicação do papai, prontos para filmar cada acorde. Eu convidei Melody e Gabriel — o bolsista da escola que descobrira tudo conosco — para estar ao meu lado. Ele chegou discreto, camisa social aberta na gola, sorriso suave:
— “Bom dia, Melody… Luna.”
Ele usou o plural e meu coração afundou de gratidão. Gabriel sempre fora meu amigo leal, e agora era a ponte entre meu mundo antigo e o novo.
Quando o relógio bateu meio-dia, o verde do gramado brilhou com a luz do sol. Os empregados abriram as portas de vidro, e convidamos todos a entrarem: jornalistas, familiares, fãs e… trolls, se quisessem.
Me posicionei no centro, ao lado de Melody. As crianças ficaram espalhadas em semicírculo: Clara ao meu lado, Sofia e Danielzinho juntos à direita. Eu respirei fundo.
— Luna (ao microfone): “Obrigada por estarem aqui. Hoje, nós — gêmeas Vasconcellos — vamos cantar não apenas com nossa voz, mas com nossos corações.”
Senti o violão firme nas mãos e comecei a dedilhar o tema que compusemos juntas, “Dueto dos Espelhos”:
“Dois rostos, uma canção
Ecoam em perfeita união
Na luz forte ou na escuridão
O amor segue como coração…”
Clara completou com a doce voz infantil:
“La… la… la…”
Danielzinho entrou com as teclas do teclado portátil:
“Pum-pum-tsss, pum-pum-tsss…”
E Sofia levantou o copo de água para brindar:
“À verdade e à família!”
Nos unimos num coro suave, a melodia subiu em ondas. Quando terminamos, um silêncio surpreso pairou — seguido de aplausos espontâneos, assobios e lágrimas nos olhos de muitos.
Um repórter gritou:
— “Como se sentem após esse momento?”
Me aproximei de novo do microfone:
— Luna: “Sentimo-nos completas. A verdade dói, mas liberta. E a música cura feridas.”
Gabriel me deu um tapinha nas costas:
— “Incrível, Luna.”
Melody sorriu com os olhos cheios de emoção. O sorriso dela agora era natural, sem máscaras.
Depois do concerto, fotografamos para capas de revista: gêmeas de mãos dadas, com as crianças à frente. Atrás, Leonardo parecia aliviado — mas a sombra da culpa ainda riscava sua testa. Eu o puxei de lado:
— Luna: “Precisamos pensar na escola… não dá para eu continuar fingindo indefinidamente.”
Ele suspirou:
— Leonardo: “Amanhã entro em contato com o reitor. Vamos ajustar sua transferência oficial. E Gabriel, você nos ajuda com as propostas de bolsa?”
Gabriel assentiu:
— Gabriel: “Contem comigo. Quero ver as duas no meu vestibular de música.”
Senti borboletas no estômago. Aquele apoio dele era mais que amizade. Mas o momento não era para confidências amorosas; era para reconstruir nossas vidas.
À tarde, voltei ao quarto de hóspedes e sentei com as crianças:
— Luna: “Vocês foram incríveis hoje. Mas sei que isso não acaba aqui. Vocês estão preparados para qualquer coisa?”
Sofia avançou:
— Sofia: “Preparadíssima! Posso pedir para cantar sempre no jardim?”
— Danielzinho: “E eu posso criar um site com nossas músicas!”
— Clara: “Eu só quero continuar com a mana.”
Abraçei cada um:
— Luna: “Então, nossa missão está clara: verdade, música e muito amor.”
Eles sorriram e saíram correndo, inventando poesias de flores e acordes para o teclado. Eu observei o violão repousado no canto e sussurrei:
— Luna (pensando): “Nenhuma tempestade dura para sempre. E com eles ao meu lado, posso suportar qualquer vendaval.”
No fim do dia, fui até a sacada da suíte principal. O sol baixava no horizonte, tingindo o céu de laranja. Segurei a mão da minha irmã:
— Luna (baixinho): “Estamos prontas para o que vier, Melody.”
— Melody (com voz suave): “Com você, sempre estarei.”
E assim, entre risos de crianças e acordes de violão, nascia o próximo capítulo da nossa vida: não mais marcado por mentiras, mas por coragem, amor e as vozes que ecoariam muito além dos espelhos partidos.
Fim do Episódio 9
No próximo episódio: a adaptação de Luna e Melody à rotina escolar e o surgimento de novos desafios no colégio Elite Harmonia.