Meu nome é Luna Vasconcellos e hoje é meu primeiro dia real na Elite Harmonia — sem máscaras, sem mentiras, apenas eu e o sobrenome que sempre desejei usar. Acordei antes do sol, o sentimento de ansiedade misturado à esperança me acordou. Vesti o uniforme novo: blazer branco com o brasão da escola, saia xadrez perfeita, sapatos polidos. Olhei meu reflexo no espelho do quarto de hóspedes e respirei fundo:
— Você consegue, Luna.
Desci a escadaria de mármore com as crianças já acordadas, cada uma segurando uma lancheira personalizada.
— Bom dia, mana! — gritou Sofia, balançando um copo de suco de laranja.
— Hoje é seu grande dia! — vibrou Danielzinho, mostrando o tablet com o mapa da escola.
— Boa sorte — sussurrou Clara, entregando-me um bilhete desenhado com corações.
Beijei a testa de cada uma, guardei o bilhete no bolso da saia e peguei meu violão:
— Prometo que volto para o ensaio de domingo, turma. Com música nova.
Eles acenaram e me viram sair para a limousine preta que o pai enviou. Sentei no banco de trás, ajeitei o blazer e voltei a ler o bilhete de Clara:
“Mana, seja você. Eu te amo.”
Sorri e guardo o pedaço de papel como um amuleto. O carro deslizou pela alameda até cruzar o portão— cada colina verde me lembrava que eu estava prestes a entrar num universo completamente novo.
Quando cheguei ao pátio principal da escola, o portão se abriu e eu desci, sentindo o peso dos olhares. Estudantes de uniformes impecáveis circulavam com mochilas de marca. Alguns cochichavam:
— É a tal gêmea…
— A novata, né?
— Dizem que canta melhor que muita gente!
Segui até a recepção, onde a secretária me cumprimentou calorosamente:
— Bem-vinda, Luna. Seu armário é o de número 312, corredor B. A aula começa em cinco minutos.
Apertei o crachá no blazer e caminhei pelo corredor de piso lustroso. Toquei a maçaneta do armário, guardei meu violão e meus livros, e senti uma tremedeira de expectativa. Ao fechar a porta, dei de cara com Gabriel:
— Ei, gêmea célebre — disse ele, sorrindo — Pronta para nosso coro matinal?
Minha voz falhou:
— Pri-pronta, sim. Obrigada por me ajudar com o horário, Gabriel.
Ele ergueu a sobrancelha:
— Qualquer coisa, é só chamar.
E seguiu para a sala. Meu coração ficou leve: ter um aliado era ouro num mar de desconhecidos.
Entrei na sala de História e me sentei na carteira do lado de fora. A professora entrou, alta, imponente:
— Bom dia, turma. Antes de começar, hoje recebemos um novo rosto: Luna Vasconcellos. Apresentem-se.
Todos se viraram. Senti olhares de curiosidade e um pouco de julgamento. A professora me indicou a frente.
— Luna, alguma palavra?
Respirei fundo:
— Bom dia. É uma honra estar aqui. Prometo dar o meu melhor — disse, querendo parecer confiante.
Os alunos bateram palmas contidas. Quando sentei, ouvi uma voz feminina atrás de mim:
— Olá, gêmea famosa. Eu sou Bianca, presidente do grêmio estudantil.
Virei-me para ela: era alta, cabelo loiro impecável, uniforme sem um fio desalinhado.
— Prazer, Bianca. Espero que possamos trabalhar juntas — respondi com um sorriso genuíno.
Ela me trouxe alívio. No intervalo, vi um grupo de meninas se aproximar:
— Luna, nós adoramos sua voz no vídeo viral — disse Camila, segurando o celular. — Você vai liderar o coral?
Meu rosto esquentou:
— Eu… adoraria, sim.
Nesse instante, Gabriel apareceu com um livro de partituras:
— Se forem ensaiar, conto com vocês no auditório às quatro.
As meninas se dispersaram animadas, e eu saí para respirar no pátio. O sol batia quente. Embaixo de uma árvore, dei de cara com Vitor, o ex-namorado de Melody, ainda meio confuso com a revelação:
— Luna… quer dizer, Melody — começou ele, tropeçando nas palavras — Você… está bem?
Olhei nos olhos dele:
— Estou. E você?
Ele suspirou:
— Surpreendido, confesso. Mas quero entender tudo.
Aproximei-me:
— Amanhã conversamos. Hoje preciso me concentrar nas aulas.
Ele assentiu, e parti, sentindo tanto alívio quanto culpa. No pátio, meu telefone vibrou: era uma mensagem de Clara.
“Mana, fizemos um site para você e Melody! Já tem visitas!”
Sorrir. Respondi com um emoji de coração e guardo o telefone no bolso. No retorno à sala, passei pelo corredor B e notei duas meninas com câmeras:
— Luna, pode posar aqui rapidinho? — pediu uma repórter interna, microfone amador à mão.
Rolei os olhos, mas pensei nas crianças e aceitei:
— Claro.
Ela gravou meu nome, perguntou sobre o coral e deixou-me ir. Cada passo era um lembrete de que eu não podia fraquejar.
As horas passaram entre Matemática avançada, Literatura clássica — onde recitei um poema de Cecília Meireles e ganhei elogios — e Química, onde quase derramei reagentes por distração.
No fim do dia, a campainha soou. Juntei minhas coisas e, ao sair da sala, dei de cara com as crianças — tinham aparecido sem avisar, escoltadas pelo motorista.
— Mana! — gritou Sofia, correndo. — Te vi na aula de Português!
— Você acertou tudo? — perguntou Danielzinho, puxando meu braço.
Clara me ofereceu um lanchinho:
— Fiz brigadeiros para comemorar.
Envolvi as três num abraço, sentindo a adrenalina baixar.
— Vocês são a minha base — disse, emocionada. — Obrigada por estarem aqui.
Elas sorriram e abraçaram meu violão:
— “Você é a nossa heroína!”
Antes de ir embora, Gabriel apareceu:
— Luna, tenho algo para você — disse, entregando um pendrive. — Arrumei as partituras do coral. E coloquei umas músicas novas.
— Muito obrigada — respondi, e o abracei.
No caminho de volta, sentei no banco de trás e abri o pendrive. Lá estavam arranjos prontos e um bilhete:
“Para minhas gêmeas: o palco é de vocês. — G.”
Sorri. O pôr do sol refletia no vidro, e eu soube: a tempestade das redes sociais não era páreo para a coragem de uma garotinha que descobriu seu nome, para a união de duas irmãs e para o amor incondicional de três crianças. Amanhã seria um novo desafio — mas eu estava pronta para enfrentá-lo.
Fim do Episódio 10
No próximo episódio: o primeiro ensaio do coral das gêmeas e o confronto com Bianca, a presidente do grêmio.