O fogo bruxuleava suavemente no pequeno abrigo improvisado onde Kael, Tragg e Nara haviam se refugiado após o longo dia explorando a fenda recém-descoberta. As sombras dançavam nas paredes rochosas, misturando-se às marcas antigas gravadas no mineral. O fragmento de âmbar que pulsava na mochila de Kael parecia brilhar com uma luz própria, como se carregasse um coração escondido.
Tragg examinava o âmbar com uma atenção quase reverente. Seus olhos, marcados pelo tempo e pela experiência, buscavam algo além da superfície. Nara, sentada em um banco improvisado, cruzava os braços e olhava desconfiada para o objeto que havia provocado tantas reações estranhas desde a descoberta.
— Você tem certeza disso? — perguntou Nara, a voz carregada de ceticismo — Isso não é só uma pedra comum? Só um pedaço de âmbar velho.
Kael encarou o objeto com uma mistura de fascínio e apreensão.
— Não é comum — respondeu ele. — Sinto como se ele tivesse vida dentro. Como se estivesse respirando.
Tragg fez um gesto lento com a mão, encorajando-o a aproximar o âmbar de seu rosto. Ao colocar o fragmento próximo à sua pele, uma série de reações inesperadas ocorreu. O âmbar emitiu uma luz tênue que parecia pulsar no ritmo de um coração. A pele de Tragg arrepiou-se, e seu olhar ficou distante, quase como se estivesse vendo algo que os outros não podiam.
— Isso… — murmurou Tragg, em um tom carregado de surpresa e temor — Não é só um fóssil. É um ser, aprisionado dentro dessa pedra. Um Oremon Mítico. Vivo, de algum modo.
Nara estreitou os olhos, tentando compreender o que acabara de ouvir. Ela se levantou, caminhou até o fragmento e tocou-o com a ponta dos dedos. O contato pareceu enviar uma onda de energia pelo seu corpo, fazendo-a recuar.
— Isso é loucura — disse ela, embora sua voz traísse um leve tremor — Não existe vida dentro de uma pedra fossilizada.
Kael sentiu seu coração acelerar. Ele havia escondido suas marcas por tanto tempo, temendo o que poderiam significar, e agora parecia que o mundo começava a se abrir para ele, revelando segredos que iam muito além do que imaginava.
— O que você acha que isso significa, Tragg? — perguntou Kael, a voz baixa e cheia de expectativa.
O velho minerólogo suspirou profundamente, apoiando-se sobre a mesa improvisada. Seu olhar se perdeu nas chamas.
— Significa que o passado nunca está realmente morto — disse ele finalmente — Que a terra guarda memórias vivas, memórias que não querem ser esquecidas.
Enquanto falava, um leve tremor percorreu o solo sob eles. O som distante de pedras rangendo ecoou pela caverna. Kael sentiu um arrepio na espinha e olhou para o âmbar, que continuava pulsando, como um coração invisível batendo em silêncio.
Nara deu um passo atrás, desconfortável.
— Se isso é verdade — falou com uma seriedade rara — então estamos mexendo com forças que não compreendemos. Forças que podem nos superar.
Kael fechou os olhos por um momento e respirou fundo. Sabia que aquela descoberta era só o começo. O começo de algo muito maior do que qualquer um deles poderia imaginar.
E no silêncio daquela noite, o fóssil que respirava parecia carregar em si o peso de uma história enterrada há eras — uma história que só Kael poderia desvendar.