O sol começava a se pôr quando Kael retornou ao vilarejo minerador, a luz dourada tingindo as fachadas de pedra com um tom quase irreal. Ele caminhava pela rua principal, sentindo o peso dos olhares que o seguiam. Os mineradores que antes compartilhavam palavras rápidas e gestos simples agora murmuravam pelas suas costas, alguns com desprezo, outros com medo disfarçado.
Kael manteve o olhar baixo, escondendo as marcas cristalinas que ainda brilhavam sutilmente sob a pele do rosto, como cicatrizes que ninguém deveria ver. Ele sabia que tinha que ser discreto. O segredo era uma prisão invisível.
Quando passou perto da praça, um grupo de mineradores mais velhos o chamou em voz alta, zombando das suas sarnas de diamante, as marcas que ele tentava esconder a todo custo. Risadas rudes ecoaram ao redor, e alguém fez uma piada cruel sobre ele ser uma “pedra viva” amaldiçoada, incapaz de se tornar parte da terra comum.
O rosto de Kael ficou rígido. O desprezo do grupo atingia uma ferida profunda, a mesma que ele tentava ignorar. De repente, uma voz firme cortou o ar, um tom que ele reconheceu mesmo antes de olhar.
Mirkon Drell se aproximou, seu corpo revestido por uma armadura de serpentina que refletia o crepúsculo. Ele encarou os zombadores com olhos duros.
“Deixem ele em paz. Vocês não sabem do que estão falando,” disse Mirkon, a voz cheia de autoridade e raiva contida.
O líder do grupo zombeteiro se virou para Mirkon, os olhos estreitos e um sorriso sarcástico. “E o que você sabe, Drell? Que o garoto tem poderes? Que ele é diferente? Que nem sabe usar isso direito?”
Kael sentiu o peso do olhar de Mirkon sobre ele, uma mistura de desafio e proteção. O jovem domador sempre foi assim — agressivo, impulsivo, mas leal.
“Ele tem poder,” respondeu Mirkon, dando um passo à frente. “E é hora de usá-lo. Vocês podem rir, podem duvidar, mas a terra está mudando. E ele é parte disso.”
O líder bufou, dando de ombros, e o grupo se dispersou lentamente, mas a tensão no ar não desapareceu.
Kael respirou fundo, sentindo a energia pulsando em seu núcleo interior, instável e viva. Talvez fosse hora de parar de esconder quem ele era. Talvez fosse hora de começar a aceitar.
“Obrigado,” disse Kael, olhando para Mirkon.
“Não é nada,” respondeu Mirkon, um meio sorriso surgindo. “Mas não pense que vou facilitar. Se você tem esse poder, vai precisar aprender a usá-lo — ou será engolido por ele.”
Kael assentiu, ciente de que sua jornada estava apenas começando, e que o caminho à frente seria repleto de desafios e escolhas que testariam não só sua força, mas sua própria essência.